Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

No dia em que chorei para dentro


No dia em que eu chorei para dentro,
Fez-se um dilúvio na minha alma,
lágrimas secas,
dor que não acalma.

No dia em que eu chorei para dentro
O rio cresceu e transbordou,
a minha alma inundou,
Os meus olhos secou.

Secou com dores tamanhas,
cortou-me o respirar,
tirou-me o gritar
e engoli o sentir,
em vez de chorar.

Nas minhas entranhas
formaram-se cristais de sal,
pedras, tal e qual,
tamanhas…

Enfim houve um dia
que fundo respirei,
os cristais quebrei,
a minha alma restaurei
e, nos meus olhos,
as comportas rebentaram,
as lágrimas saíram,
as minhas dores aliviaram.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Levarei asas e inquietude


Viajo sem mala, apenas uma trouxa leve onde levo as asas com que voo nos meus sonhos para um mundo diferente onde, as gotas eternas de orvalho são pérolas que me ofereces, onde o respeito seja a bandeira, onde a paz impere, trazida por pomba branca, sua mensageira.

Carrego nos bolsos a minha inquietude, a minha esperança, a minha sede de mudança, a minha estrela para acender, para que, nas noites escuras ela possa alumiar em plenitude, o mundo, as mentes.

Não, não me digas que não chego!

Eu sei que quando quero, quase sempre me supero.

Não, não me digas que não vá!

Irei como a formiga seguindo o seu carreiro, carregada de futuro, contornando, circundando, seguindo, nos seus intentos persistindo.

Não levarei rodas, isso não!
Não quero atropelos, levo as minhas asas para não ferir ninguém pelo caminho.
É com elas que viajo, plano sobre o mar, olho-me no espelho da água, falo com as gaivotas e com elas canto e danço.

É com elas que sobrevoo o meu planalto, pare te ver Terra Quente, a suar de cansaço, a morrer de sede, a arder em chamas de promessas, de intentos. Vejo-te Terra Quente, vejo-te a arder em febre, delirante e crédula, manipulada a pobre gente.

Não, não quero rodas e também não quero pés! Não me peças para os levar.
Pois tu não vês que com as rodas eu posso ferir e com os pés eu posso pisar?

Na minha bagagem levarei as minhas asas, envolvidas na minha inquietude!...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não!


Não tentem amordaçar-me
que a seguir corto a mordaça
Não tentem nunca calar-me,
na mesma gritarei a quem passa.

Gritarei contra o compadrio,
contra a injustiça, a corrupção,
contra quem protege os ricos
e aos pobres tira o pão.

Gritarei contra os promotores
de politiquice bacoca,
maldicencia, caciquismo,
cego partidarismo,
prontos a fazer batota.

Podem cortar as minhas mãos
porque na mesma escreverei,
farei dos cotos a minha arma,
no teclado gritarei.

Gritarei a liberdade,
a justiça social,
nos direitos a igualdade,
nos deveres a obrigatoriedade,
tratamento por igual.

Chamem-me poeta decepada
Poeta maneta, não!
Chamem-me poeta amordaçada
Poeta silenciada, não!


Hei-de escrever em papel,
hei-de escrever na Internet,
hei-de dizer as verdades,
bem alto a toda a gente.

E quando a força me acabar
i eu for para as estrelas,
lá continuarei a lutar
e a escrever junto delas.

domingo, 9 de agosto de 2009

Fugas

Acordei com o olhar indiscreto da lua a entrar-me no quarto através do cortinado fino que tapa a janela, acima da cabeceira da cama. Julguei que se tratasse da luz difusa da aurora e dum amanhecer que se aproximava. Sentei-me na cama, puxei o cortinado e espreitei o céu em direcção a poente, a orientação do quarto. Depressa me apercebi que por cor diferente não se tratava de um amanhecer, mas sim da luz lunar, daquela lua tão solitária quanto bela.

Embora o céu estivesse estrelado, aquela lua de Agosto, tão enigmática e bela sentia-se só. Os habitantes da aldeia não lhe dão a atenção que ela gosta de ter e, em vez de apaixonante passa a lua indiscreta que interfere com as sementeiras, colheitas, corte de madeiras.
Levantei-me e debrucei-me sobre o parapeito duma janela na mesma orientação. A lua olhou-me enigmática, apaixonada, perante a cumplicidade de Vénus. Ali fiquei a contemplar o céu como se fosse a primeira vez que via a lua a pôr-se, no preciso ponto em que todas as tardes de Verão o Sol se põe. Na verdade já não me lembrava do pôr da lua; telo-ia visto muitas vezes em menina quando acordava muito cedo para ir para as ceifas, mas na verdade não me lembrava.
Assim foi descendo gradualmente e com Vénus e as estrelas foi desaparecendo no horizonte, com a dignidade que só uma Lua pode ter. Antes que a luz traiçoeira do Sol lhe retirasse o brilho partiu triunfante para, deslumbrante, reaparecer na noite seguinte, do lado oposto do céu.

Eu, ser minúsculo deste universo magnífico, senti-me infinitamente mais pequena, perante tanta beleza!...
Vesti-me à pressa. Decidida a observar o nascer do Sol, subi o monte que mo retarda, no mínimo quinze minutos. Quando o sol me entra pela cozinha já vem quente e com brilho intenso.

Subi apressada e mais à frente, no Serro, no planalto, sentei-me numa pedra de granito no meio de uma terra lavrada, de fronte para aquela luz ainda discreta que se mostrava sobre o monte da Senhora da Luz e ali fiquei, descalça, pronta a receber o sol e a força que ele tinha para me transmitir.

Magnífico, exclamei!...
Assim fiquei a registar as várias tonalidades do céu, como que a captá-las para uma tela. Alaranjado junto ao horizonte, ia esbatendo para esverdeado e acima lilás a fugir para roxo. Estes tons eram reflectidos nas discretas nuvens que se espraiavam no céu o que dava ainda mais beleza àquele nascer do Sol.
O laranja foi gradualmente aumentando e tornando os restantes tons mais discretos até que desapareceram com o intensificar do brilho daquela bola que saiu do horizonte tão distante, neste planalto magnífico.
E assim fiquei, estática, absorta, a pensar na Lua e no receio que ela sentiu em enfrentar aquela luz. Também eu não suportei muito tempo aquela força da natureza que surgiu e depressa os meus pobres olhos começaram a lacrimejar.
Fiz o percurso inverso. Queria chegar ao cimo do monte sobranceiro à aldeia antes da luz do Sol. Aí, sentei-me no chão junto às giestas. O sol foi iluminando gradualmente os telhados da aldeia depois de em primeira mão ter chegado às carvalheiras da Moura, onde a lua se fora. Os telhados dos pontos mais altos em vários locais da aldeia começaram a receber a luz, a torre da igreja, os frondosos freixos de S. Lourenço e finalmente a minha casa que por ser a mais próxima do monte foi a última a ser cumprimentada pelo Sol.
Desci e dirigi-me a casa. O vício do café da manhã chamou-me…

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