Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

terça-feira, 31 de março de 2009

Não quero

Não quero flores no meu enterro
Não me ponham vasos na campa
Não me chorem ou engrandeçam
Quando já não sorvo o sal
Desse choro que não me levanta

É agora que preciso do aroma
Da rosa e do jasmim
É agora que quero banhar-me
Em estevas e alecrim

Não quero estátua
Na rua da indiferença
Não quero honras
Já sem a minha presença

É agora que preciso de estar
Em estátua edificada
Não quero depois ficar
No jardim ou no museu
Só, fria e desolada

Não quero as flores depois
Não estraguem vosso jardim
Ofereçam-mas todas agora
Rosas silvestres sem fim
Presas em laços de cetim

segunda-feira, 30 de março de 2009

Isso não!

Não verto lágrimas,
isso não!
Com raiva,
fazem-me rugas na pele
e na alma fazem-me gretas.
As lágrimas fazem-me falta
para tudo o que é doce ou triste;
para as alegrias
e as gargalhadas abertas,
quando a rir me liberto
e quando me rio de mim.
Não verto lágrimas assim!

Fure!

Só o desenrascanço impera!
O resto são fraquezas e utopias
Fure os obstáculos.

Tenho metas

Não me venham com tretas
Não me minimizem, eu sou gente
Que eu enfrento, tenho metas
E pego o touro de frente

Toureio cara a cara
Faço pega de cernelha
Aposto com muita gente
Que ao touro corto uma orelha

Não me venham com tretas
E não me impeçam
De alcançar minhas metas!

Sabe sim!

Caminha descalça
Sobre tojos e rochedos
Enfrentando seus segredos
Nos degredos do seu mundo
Para onde vai?
Sabe lá!

É levada
Pela força do vento
E atirada contra tormentos
É desfeita em desalentos
Espalhada por rios secos
Nos desertos do seu mundo
Para onde foi?
Sabe lá!

Mas eis que junta os pedaços
Do mundo que a substima
Ergue-se, não desanima
Pega o vento de feição
No outono da sua vida
De onde vem?
Sabe lá!
Para onde vai, sabe sim!

Que importa??!!!

Faço um poema sem rima
Faço um poema rimado
Que importa se rima ou não rima
Que importa se atina
Ou não atina com a vida que lhe dão!
Faço uma peça onde não há ovação
Que importa se faço ou não!

Faço-me à vida
De mangas arregaçadas
Pés descalços ou calçados
Que importa se me faço ou não!
Sou peça de museu com pó cristalizado
Sou prenúncio de mal anunciado
Que importa se sou ou não!

domingo, 29 de março de 2009

Pule!...

Só a felicidade impera!
O resto são buracos e desvios...
Pule os obstáculos.

Poema/Dedicatória

Para os alunos da turma de 11º ano de Informática de Gestão


Bem vindos, disse-lhes eu,
Vou ser vossa professora
de OEAG,
disciplina de Gestão.
No início perdi a calma,
depois, o coração.

Irrequietos, faladores,
cá vieram eles parar
a Informática de Gestão,
com o prof. Luís a comandar,
professores em união
e com muito para estudar.

Não estavam habituados,
pensavam que era a brincar
e andavam atrapalhados.
Dizia-lhes eu,
vocês têm que se organizar!...

Lá foram eles crescendo,
com namoricos à mistura;
as meninas emagrecendo,
os rapazes, barba dura.

Cansados, os computadores
para o programa Primavera,
do software de Gestão,
enquanto uns criavam a empresa,
outros alunos à espera
e eu, com irritação.

Para eles eu era “Avózinha,”
esses grandes brincalhões;
quando da pintura e poesia
vieram a saber
passei a ser,
” Setora Multifunções”.

Muito mais teria a referir,
aos futuros programadores,
mas só lhes vou pedir
que sejam honestos
e trabalhadores.

Levo-vos comigo….
Deixo-vos um beijo aqui e agora…
Vocês alunos foram a razão,
da minha paixão,
de ser PROFESSORA…


2009/03/25
Última aula da minha carreira, de 35 anos de docência.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Atraída por ti

Atraída,
admiro-te, cheiro o teu perfume
e deixo-me transportar esquecida,
deitada, aquecida,
nos tapetes bejes e quentes
que me estendes.
Entro com arrepios na tua frescura
abraço-te, sorvo o teu sal,
refresco-me em ti.

Recebes-me nas ondas do teu cabelo
que fortes me desnudam quando louca
submirjo em ti.
Olhas-me como a peixe faminto,
levas-me ao sabor das marés
e eu encantada
pela frescura e prazer que me dás,
deixo-me levar, corpo leve, flutuante,
pleno de prazer e liberdade.

Quando não te tenho,
morro de saudade.
Encosto o búzio ao ouvido
e deixo-me pelos teus sons levar.
Ouço o teu gemido
e depois, morta de saudade,
vou-te visitar, ó mar.

Encontro-me... mas não!


Sonho
com as lianas frescas trepando árvores,
como quem trepa sonhos.
Sonho
com o calor húmido das tempestades,
a sentir a pele molhada.
Sonho
com as gargalhadas espontâneas
que me saíam do peito
e me alegravam a alma.
Revejo-me
nos filhos que ajudei a ser
e que me eternizam,
com a dureza de diamantes.
Revejo-me
nos jovens que ajudei a crescer
e que me orgulha o seu saber.
Encontro-me...
no crepúsculo da minha alma
quando me afloram letras em poemas,
perdidos no fundo do meu ser.
Encontro-me
no silêncio das madrugadas
comigo,
vazia de letras e de mim.
Encontro-me
em tortuosas encruzilhadas
deste mundo corrupto, impuro
que responde com insultuosas gargalhadas,
às misérias sem fim.
Encontro-me
no fogo cruzado entre povos, continentes;
entre lágrimas, mortes,
fomes, choros inocentes.

Encontro-me…
E não me quero encontrar, assim!...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Hoje, meu amor

Hoje, meu amor
quero amar-te
com o olhar da lua,
num campo de feno,
orvalho de Agosto
de brisa quente
e eu tua.

Em ziguezagues
quero caminhar,
beber do teu copo
envolto em luar.

Quero girar
com os ponteiros do tempo,
relógio solar
ou noutro sem tempo,
em remoinhos amar.

Quero ficar
nesse relógio
de ponteiros presos,
de badaladas surdas,
quero ir e voltar.

terça-feira, 24 de março de 2009

o Inverno ( divagações ligeiras)

Quando pensamos no Inverno, não podemos pensar necessariamente em tristeza, frio, vento a uivar a noite inteira.
Pois não é no Inverno que os corpos mais se aninham, mais se respiram,
envoltos no cobertor ou se enroscam ao calor da lareira?

O Inverno não pode ser visto como a estação que se segue ao Outono
de folhagens rubras ou amarelecidas,
nem a que antecede a Primavera, fonte de rebentos frescos e flores coloridas.

O Inverno é o mistério da purificação da terra, através da expurgação de males acumulados enquanto mãe produtora,
extermínio de impestantes, pela acção do frio, regeneradora.

É o perdão ao Outono, pela nudez que lhe provocou arrepios.

Só depois de estar o berço preparado
é que a naturaza dá à luz os filhos,
enchendo os nossos olhos de beleza incontestável,
com o ressurgir de folhas,
flores coloridas,
frutos perfumados.

Ninguém dá elevado valor ao que sempre possui.
Só sentimos a premente falta
quando aquilo que amamos nos fugiu.
Que valor daríamos ao abrir de uma flor,
se essa realidade fizesse parte do cenário habitual?!!...

O Inverno é a reflexão da vida;
não é o sinal de impotência, de inutilidade,
de corpos torpes confinados a quatro paredes.
Este Inverno, também este, terá que preparar a terra
para receber os novos rebentos da Primavera,
através da transmissão dos saberes
e da experiência.

É no Inverno que há o perdão das culpas,
das acusações.
É no Inverno, que os amantes são perfeitos,
através das recordações.

É no Inverno que se deita fora
tudo o que é inútil para o tempo
porque,
de tão inútil,
já não se lhe acha tempo.

Inverno,
Aconchego
Purificação
Saber
Perdão

segunda-feira, 23 de março de 2009

Paixões da Alma

Em corpos
Que não se tocam
Não se conhecem
Almas
Vibrantes se aquecem

E dançam
Um bailado
Em harmonia
Passo acertado
Lento
Apressado
Em sintonia

domingo, 22 de março de 2009

Aquela Praia

…era-lhe tão familiar como lhe eram os filhos que cresceram a brincar naquela praia e a saltar as ondas de um verde transparente. Do mesmo verde eram os montes que com ela formavam uma paisagem de sonho.
Passavam férias por essas bandas e, apesar de haver praias mais próximas, era esta a praia preferida.
O monte foi esventrado e nele embutiram um prédio em socalcos, tal pedra tosca embutida em esmeraldas transparentes. As escarpas imponentes davam uma sensação intimista àquela praia; o acesso era feito por escadas ondulantes, monte abaixo, degraus baixinhos.
Despida de preconceitos tirou a blusa, dobrou-a e com ela forrou a escarpa que lhe serviu de encosto, tendo ficado sentada em harmonia com a natureza.Olhou à volta e foi-lhe difícil reconhecer aquela praia que ela considerava ser de sonho.
As escarpas foram tiradas à praia como um filho é arrancado dos braços da sua mãe. Máquinas gigantes escavaram e destruíram o que de belo havia na praia de Vale de Centeanes. Também difícil foi descer a escadaria, decerto construída por mãos toscas e projectada por mentes insensíveis. Ponderou voltar atrás e retomar mais longe o acesso normal. Voltar atrás não é sinal de fraqueza. Deu conta quando ao fundo, sentiu que as pernas lhe tremiam.
Sentada, desligou a música, tirou os fones, desligou o telemóvel, ficou pronta para ouvir os sons magníficos da natureza e fazer a primeira sessão de bronzeado, de certa forma imprudente pelo esquecimento do protector solar.
Fechou os olhos e em estado como que de ausência hipnótica ali ficou virada para o sol.
Fortes ondas vinham rebentar com força junto ao areal e por vezes contra as rochas. Estes sons induziram o estado de quase inconsciência. Era como se fosse uma morte prematura daquele corpo que ficou desligado do mundo e do espírito.
A mente tentava construir um puzzle.
No fundo, com laivos de azul cobalto de mar, as peças encaixaram rapidamente e na perfeição. Já as restantes, monocromáticas, inviabilizaram a construção perfeita. Sobravam umas peças, faltavam outras. As arestas não encaixavam, tais fragmentos de vidas que não combinam e qualquer peça que não encaixe, provoca um oco, um vazio, capaz de conduzir a uma tempestade. Pensou cortá-las, como se de uma árvore se tratasse. A árvore rejubila de frescura, as peças não; a árvore cicatriza a ferida, as peças não. As arestas aguçadas vão-se agredindo mas quando amputadas morrem, morrendo com elas o verdadeiro sentido da sua existência, do seu ser.
Sentiu ardor nos seios pelo efeito do sol.
A mente juntou-se ao corpo, saindo do coma induzido pelos sons do mar.
Abriu os olhos, olhou em frente.
O puzzle estava completo de um azul celeste intenso e brilhante com o sol a aproximar-se da linha do horizonte.

sábado, 21 de março de 2009

O meu Natal

Era uma menina pobre como todos os meninos daquela aldeia do Nordeste Transmontano.
Não pedia bonecas porque ela própria as fazia de trapos.
Para dizer a verdade não conhecia outras!...
Era feliz com as riquezas que tinha, aquela menina.
Na sua aldeia não havia Pai Natal, nem publicidade, nem prendas, nem correrias!...
Havia solidariedade, amor, fraternidade.
Havia um Menino Jesus pequenino, aquele que beijava na Missa do Galo.
Era esse Menino que lhe deixava no sapatinho, junto à lareira, o saquinho com figos secos, amêndoas, rebuçados e às vezes, uma moeda de dez ou vinte e cinco tostões.
Como é possível que aquele Menino desça a todas as lareiras, sem se sujar na fuligem das paredes?
Como é possível que aquele Menino, quase despido, não morra de frio?

Adormeceu e sonhou com aquele Menino que tinha beijado na Missa do Galo.
Correram juntos pelos telhados à procura duma telha partida por onde pudessem descer até ao sapatinho de todos os meninos.
Acordou cedo no dia de Natal e correu até o sapatinho.
Estava vazio!
Desiludida e achando que o Menino já não gostava dela, uma lágrima deslizou-lhe na sua face rosada.
Reflectindo, depressa percebeu que o Menino se tinha atrasado porque tinham nascido mais meninos naquela aldeia!
Instantes depois, como que por magia, lá estava o saquinho com figos secos, amêndoas, rebuçados e uma moeda de vinte e cinco tostões!...

Simplesmente Casa

Ó malditos deuses,porque mandais raios que incendeiam as florestas?
Ó fogo que tantas vezes tentaste penetrar nos meus ramos, sem nunca o conseguires, porque insististe?
Ó vento que tantas vezes embalaste os meus rebentos e refrescaste as minhas entranhas, em dias de calor escaldante,porque me traíste?

Os deuses enlouqueceram, o vento aliou-se-lhes, forte, forte, cada vez mais forte! …
Arrastava as labaredas que voavam de árvore para árvore e depressa me atingiram.
É o meu fim, pensei.
Este fogo vai consumir-me e este maldito vento vai arrastar consigo as minhas cinzas para outros lugares distantes, frios, feios, gelados! ...

Não! Não conseguiste!
Comeste as folhas e os meus ramos mais tenros, mataste os passarinhos que abrigava, queimaste-me muitas energias, mas não me tiraste a força de viver.
Os meus troncos e as minhas raízes fortes enfrentaram-te e venceram-te e depressa terei ramos, terei folhas, terei pássaros, terei força, beleza e alegria.Irei morrer de pé, com aquele orgulho que só pode ter uma árvore secular, que abrigou insectos nas folhas, pássaros nos ramos e famílias pobres no tronco que com os pés gretados a sangrar, vagueavam pelo mundo à procura de um abrigo, de um lar.
Famílias que finalmente poderiam descansar, sentindo-se aconchegadas e acarinhadas.
Nunca mais teriam medo dos deuses, do fogo, do vento, de nada! ...

Pela primeira vez achei que poderia descansar e que os meus ramos tenros poderiam murchar.
Pela primeira vez deixei de amaldiçoar os deuses, o fogo e o vento que tantas vezes tentaram roubar-me a vida.
Pela primeira vez achei que poderia ser menos bela, porque nas minhas entranhas tinha amigos que achariam que mantinha o mesmo encanto, porque era solidária e fraterna.
Pela primeira vez achei que em vez de árvore, poderia ser simplesmente casa! ...

Preciso de Ti


Preciso dos teus silêncios
que às vezes me atormentam
mas que outras me reconfortam.

Preciso do teu olhar vigilante e da tua presença
que me deixa seguir as minhas viagens em sonhos
sem perder o norte, o rumo.

Preciso do espaço que me dás
pela confiança que em mim depositas.

Preciso das tuas mãos desejosas de me beijar
e que me beijam com o que fazes.

Preciso da tua mente sempre presente
para organizar o meu caos.

Preciso do calor do teu corpo
que aquece o meu, nas noites frias.

Preciso da tua calma que equilibre
o meu espírito agitado, irreverente.

Tu és o meu pêndulo, fiel de balança
a minha bússola, termómetro, o meu bálsamo
amargo de giesta ou
inebriante e doce, de jasmim.

Preciso de ti
Em mim

Há Dias

Há dias em que as minhas palavras se digerem, regurgitam e voltam,
como se não fossem minhas.

Há dias em que a minha alma está de luto
e de luto visto as palavras com lenço e xaile de melancolias.

Há outros dias, em que as minhas palavras são cardumes
que vêm à tona da água para respirar o sol ou a neblina e,
a saltar e de olhares sensuais, me fascinam
e me levam à poesia.

Hoje, o sol aqueceu-me a alma, a luz revigorou-me
e sou capaz de vislumbrar o arco íris
no meio de medonhas tempestades.

Hoje, envolvi as melancolias em tules brancos,
com ramos de rosas silvestres e dou-me em palavras frescas,
bandos de pássaros a cantar, borboletas.

Hoje, pinto e descrevo cenários mágicos de crianças a brincar livremente ,
sem que sejam molestadas, raptadas.

Hoje, ofereço-me em palavras de conforto aos pobres, desempregados, infelizes,
em cujas vidas não há poesia.

Hoje que é dia das palavras ditas, em poesia.

quinta-feira, 19 de março de 2009

quarta-feira, 18 de março de 2009

Dedos cativos

Tenho os dedos cativos
Desta alma inquieta
que os leva e me leva
não os deixa ser…
nem nos deixa ter liberdade.

Com a sua cabeça
querem pensar
e usar jóias de rainha

Mas não!
Grávidos de palavras
sofrem de vil moinha
que os inquieta e cativa
os leva e eleva
em papel ou não

Querem cantar liberdade
no refúgio do seu «eu»
para em qualquer idade
serem apenas dedos

Sublevam-se…
Em vão!...
Aprisionados...estão

Questionando


Acordaste porquê
Se dormias com os teus sonhos
Tão alegres e risonhos
E tão senhora de ti

Não foste beijada, porquê
Se estavas a ser beijada
Por maresia fresca, ao luar
Tão amada e desejada

Por posse distorcida
Foste...
Assim sempre será?
Vais fingir que te foste
Hoje ou outro dia qualquer?
Não, não pode ser...
Tu estavas a ser beijada
Ao luar, pela maresia
Mulher!!...

terça-feira, 17 de março de 2009

Dedos Cativos


Tenho os dedos cativos
desta alma inquieta
que os leva e me leva
e não os deixa ser…
nem nos deixa ter
liberdade.

Seres pensantes
querem usar jóias de rainha

Mas não!
Grávidos de palavras
sofrem de vil moinha
que os agita e cativa
os leva e eleva
em papel ou não

Querem cantar liberdade
no refúgio do seu «eu»
para em qualquer idade
serem apenas dedos
Mas não!

Sublevam-se…
em vão!
...Aprisionados...estão

domingo, 15 de março de 2009

Nasce poesia

Se a minha alma chora e lágrimas solta
O coração se aperta e a dor o sufoca
Se qualquer coisa me abala e me perco na rota
Me gelo no Verão e na noite fria
Em murmúrios ou gritos
Nasce poesia

Se a mulher é humilhada quando passo na rua
E a criança é violada e implora ajuda
A dor corta-me o peito dessa aguarela crua
Ergo-me com força pego a folha vazia
Lanço-me em revolta
Nasce poesia

Se por ser mal amada uma pessoa sofre
Eu passo para mim todo o sofrimento
Ergo a minha voz e com o seu lamento
A minha alma fala o que ela sentia
Em dolorosas palavras
Nasce poesia

Se do peito transbordo a felicidade
Por te ver ó botão a abrir em flor
Se a alegria existe e predomina o amor
E todo o universo vive em harmonia
Canto feliz agradeço
Nasce poesia

Se a planura me encanta mesclada de flores
Malmequeres papoilas urzes violetas
Os pássaros voam em enleados amores
E a árvore esvoaça com a ventania
Persigo borboletas
Nasce poesia

Se o sol me aquece e a lua me inspira
Em noite estrelada e num dia qualquer
Se vejo num homem alma de mulher
Que a sofrer chora e enfim suspira
Me compreende e me contagia
Eu canto com os dedos
Nasce poesia...

sábado, 14 de março de 2009

Prolongue-se a noite

Noite...
Prolongue-se a noite
A noite estrelada

Mágica
Bela, serena, amada
Onde te sinto
E pressinto

Noite...
Oferece-me as estrelas
Olha para mim!...
Estou de mãos abertas
Para recebê-las

Noite...
Prolongue-se a noite
Prolonguem-se as estrelas

Escuta-me
Em suave lamento
Traz a minha estrela
A mais doce e bela
Do teu firmamento

Brisa...
Leva contigo a quimera
Traz o etéreo aroma
Para eu o sentir
Tal e qual ele era

Noite...
Prolongue-se a noite
Olha para mim!...
Tem que haver mais estrelas
E, estou de mãos abertas
Para recebê-las

sexta-feira, 13 de março de 2009

Mudam de cor, se preciso for


Deslumbrou-se na escalada
para subir mais alto
Na recta da ganância
E cego de poder despistou-se
E derrapou no asfalto

De honestidade perdida
E de alma impura
Segue a velocidade excessiva
O que ele era
(será que foi?)
Ficou em rua sem saída

Os ideais que defendeu
Selou-os em tumba
De pedra enegrecida

Poderoso…
Compra silêncios
Para negociatas
Move influências
Compra mentiras
Prova Inocências.

Muda de cor
Se preciso for…

quinta-feira, 12 de março de 2009

Flor Fonte

Tu és beija flor
De voo intenso
Eu sou flor
De jardim imenso

Vem!...
Vem planar no meu jardim
Deserto dourado escaldante
E rega-o com o teu oceano
De maré transbordante

A flor estonteada
Com o voo permanente
Tão hábil e eloquente
Será a tua amada

Nela crescerá vida
Suave guarida
Oásis sem fim

A flor será fonte
E a fonte será flor
Cândida de vida
Repleta de amor

quarta-feira, 11 de março de 2009

Procura-me


Dou-me como se dá o rio ao mar
em tumultuosas tempestades
Dou-me como se dá o vento às folhas das camélias
em suaves afagos
Dou-me como se dá a lua às estrelas
em pestanejar insinuante
Dou-me como se dá a flor ao beija flor inconstante
em doce néctar
Dou-me na insegurança de certas verdades
que me confundem
Dou-me nas palavras que me exiges
e que não me balbucias

Encontro-me no silêncio da noite escura
à espera de te encontrar
Encontro-me em encruzilhada labiríntica
duma teia tecida com fio resistente
que me desorienta

Procuro uma bússola
que mostre o caminho que me leve a ti
neste universo confuso
Procuro um farol que me faça encontrar
o caminho liso
e orlado de jasmim

Pois tu não vês
que os meus olhos são duas fontes de água cristalina
que não vislumbram na penumbra
Pois tu não vês
que o meu coração e a minha alma são canoas
que não navegam em água turva

Procura-me…

Neste Mundo...


O povo vive faminto
E não consegue aforrar
O pouco que tem é gasto
Para mal se alimentar

Quem consegue, vive inquieto
Para guardar seu suor
Venham venham, diz o Banco
Venham o dinheiro aqui pôr.

Na ânsia de mais ganhar
Vende-lhe gato por lebre
O povo fica a chupar
No dedo cheio de febre

Cheio de febre e de raiva
Por tanto ter sido enganado
Ele mirrado, os outros gordos…
Neste mundo malfadado

Mas então o que fazer?
Pergunta-se com razão
Notas afundadas na crise
Ao ouro vem o ladrão

Até que por fim se decide
O que fazer então
O ouro põ-se no cofre
O dinheiro no colchão…

E depois? Mas que maçada!...
Dá logo para pensar
O ouro desvaloriza
E as notas irão mudar...

Pensando melhor eu decido
Em irreflectidas miragens
Derreto o ouro e as notas
Em cultura, em viagens

segunda-feira, 9 de março de 2009

Porquê, ó mar?



Olho-te...
E vejo-te de nuvens negras
Que me impedem
De ver a luz do teu olhar
Que me assustam me sufocam
Me mostram papões
E não me deixam navegar

Porquê que há dias
Em que tens águas transparentes
Em que a brisa é perfumada
E os teus monstros inocentes?

Como golfinho salto as tuas vagas
Mato a sede, sorvo o teu sal
Respiro o teu perfume
E com olhar ausente
Me perco no horizonte.

Sentada
Partilho contigo os meus segredos
E depois apaixonada
Viajo em ti, ó mar!...


Porquê que hoje
Te vejo de águas turvas
Me sinto triste, mal amada
E os teus polvos gigantes me prendem
Me asfixiam e dominada
Me lançam contra os rochedos
E me matam?

Porquê, ó mar?!...
A quem contei meus segredos!...

O mesmos rochedos
O mesmo jornal
O mesmo mar!...

quinta-feira, 5 de março de 2009

Eu que sou Mulher

Fui feita por acaso
Sobrevivi por acaso
Nasci de um rompante rude e destemido
Rasguei as entranhas aos montes onde mamei pão amargo
Atravessei rios com os pés descalços e saí em gelados gemidos
Fui castrada por uma sociedade insana e cortei as amarras
Reconstitui-me, juntei as peças roubadas
E … aqui estou eu!...
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!...

Vivo neste Cosmos estirada por forças opostas
Que me distendem os tendões e músculos
Uma parte de mim é Terra, regida por Marte
Que me prende ao chão
Outra parte é Vénus e Lua
Que me desprende
Liberta e me lança em sonhos
E… aqui estou eu!...
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!...

Com dedos de pincéis e teclas
Corto as amarras do chão
Liberto os meus pés sangrentos
E sou mulher, sou sonho e criança
Elevo-me e a levitar
Abraço Vénus e a Lua
Deixo Marte a descansar
Nas estrelas escrevo poemas
E nas nuvens pinto o mar
E… aqui estou eu!...
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Tirem-me daqui

Quando olho para trás
E vejo as montanhas que trepei
As escarpas que escalei
Os vales que percorri
O que aprendi e ensinei

Quando olho para trás
E vejo os amigos que conquistei
As paixões que senti
Em batalhas que travei
Nos caminhos que percorri

Quando olho para trás
E vejo as terras que semeei
Os saberes que transmiti
Que em heras bravas fixei
E os frutos sãos que colhi

Quando olho...
Sinto-me moribunda
Grito e imploro...
Tirem-me daqui!...

A terra que me dão é infecunda
A norma aplicada é insana
E a semente não germina

E eu...semeando...
Choro de dor...
E digo gritando
Tirem-me daqui
Por favor!...

domingo, 1 de março de 2009

Sons e Imagens do Silêncio


Olho…
Mas não vejo
Libertei-me
Voei com asas de anjo, leve e celestial
Em pensamento sou levada por uma brisa
E quero seguir uma andorinha que deixou o meu beiral
Com as asas de sonho, elevo-me… mais leve
Já cansada, a ave pára num rochedo, no mar de calmaria
Plano, endireito as pernas e paro com ela também
Diz-me:
Respira fundo, mas em surdina!
Ouve o som leve do mar que nos quer falar com o silêncio.
Vai longe, em sonhos de menina!
Sabes:
Há momentos em que nos devemos calar
E deixar o nosso coração falar em surdina
Não há palavras para um sentimento ímpar

Fecha os olhos, ouve o sussurro do mar, olha o horizonte
E o reflexo do sol nas águas cristalinas
Lindo!... Exclamei!
Olhei e vi aquela planície de águas verdes com reflexos dourados
Daquele sol quente com que me bronzeei
Cheirei a maresia que a brisa em salva, me oferecia
E regressei ao tempo, a ti e amei
Leva-me mais longe, andorinha do meu beiral!
Quero sobrevoar o deserto escaldante
Revirar-me nas dunas, em rebolar extasiante
Não, não podes ir!
Pois tu não vês que as tuas asas
São de espuma de mar e de quimeras?
E voltei…!
À realidade que por instantes deixei
Em silêncio, sonhei!...

Seguidores

Arquivo do blogue