Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Em ondas de planuras

Toco-te
Nesse rosto que entre brumas
Me chega sereno
Como colcha acabada de tecer
Como seara ondulada pelo vento
Nas planuras da minha infância.
Toco-te
Quando te olho
Na urgência de te ter
Neste querer sem distância.
Tenho-te
De olhos fechados
Com o corpo e com a alma
Quando deitada em frente
À tua voz, adormeço.
Tens-me
Tocas-me
Quando me abraças
Com ondas alterosas
E em ti estremeço.
Cansada, regresso.

Mágico Oceano

Vi-te ao longe, que de tão longe, em ti não identifiquei mais que a cor. Achei-te belo, tão belo que nunca mais esqueci o mágico azul que me estendeste num prolongamento de céu.
Vi-te pela primeira vez quando o comboio que também a ele vi pela primeira vez em Duas Igrejas, a última estação da linha do Sabor, me levou para estudar no Porto.
Pela primeira vez também vi o rio Douro num vale em que se podia espraiar lânguido, sem o aperto dos fraguedos. Segui atentamente o seu percurso de lá de cima dos carris, numa viagem que sorvi em golfadas, olhos esbugalhados e boca aberta de espanto.
Vi-te Oceano Índico de águas mornas, por vezes agradavelmente mais frescas em correntes que de súbito, tenuemente me refrescavam. Entrei em ti pela primeira vez numa manhã escaldante de Fevereiro, sol quase a pique, corpo tenro e branco de veludo, em breve tostado quando, como criança mergulhava numa lagoa que as ondas tinham deixado na areia e cuja água quente ferveu no meu corpo.
Pura magia! Amor à primeira vista, paixão para além do Verão!
Visitei-te apaixonadamente, umas vezes entrando em ti, outras, passeando na extensa marginal ao volante do Datsun branco ou o jeep Toyota descapotável, ambos com volante à direita por se tratar de condução em Moçambique, influenciado pela Rodésia, seu nome na época.
Depois mar, quiseste-me levar embalada numa onda gigantesca. Bebi-te mais que alguma vez pensei beber água de mar, numa altura em que treinava os passos para dançar contigo. Tive medo, perdi os passos de dança e levei estes anos todos para os readquirir. No ano passado já ousei entrar mais por ti adentro mas quando dava conta que não tinha areia debaixo dos pés, dava aos braços até sair, Atlântico igualmente sedutor.
Libertei-me dos meus medos e agora tenho o respeito que qualquer pessoa que como eu, sem uma técnica apurada de natação deve ter, quando em ti entra.
Libertei-me na tua frescura, larguei as dores que me acompanhavam da ponta dos pés até à cabeça, e, sem que o corpo me pese, em ti deslizo olhando o céu ou, com a cabeça dentro das tuas águas verdes, vejo o fundo, as conchas, os meus pés, os cardumes que às nove da manhã se aproximam sem medo da única pessoa a visitá-los àquela hora. É tão fantástica a praia às nove da manhã!
O nadador salvador prepara os toldos, a massagista tailandesa as toalhas e as essências, as mães prudentes passeiam os bebés debaixo dum boné e duma blusa e eu, também prudentemente me preparo para mais uma manhã de sol e mar.
Ao meio dia é o regresso a casa. Regresso fresca, revigorada, restabelecida das marcas que um Inverno húmido deixou no meu corpo. Até logo mar! Até às cinco ou seis da tarde para ver reflectido nas tuas águas o sol que todas as tardes se despede atrás das escarpas.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Os giraprincipes

Penetro na floresta à procura de húmus para fertilizar as orlas dos caminhos por onde passa. Quero que veja lá crescer os girapríncipes, flores que enfeitiçou e que por isso o seguem. Todos virados, sempre a olhá-lo nos olhos.
Girapríncipes de caule grosso e nem por isso deixam de se virar. Quando chega o fim do verão as suas flores já lhes pesam, de tão carregadas de sementes. Fazem-lhe uma vénia e deixando-as cair na orla do caminho, dobrados, sucumbem num entardecer.
Quando a primavera volta e o sol aquece, pedem-me de mansinho o húmus para se fazerem fortes. E repete-se, repete-se, por verões seguidos, anos, muitos anos...
Até que houve um ano em que o caminho deixou de ter luz para os girapríncipes. O Príncipe foi para outro reino.
Fertilizei-lhes a terra, pedi às nuvens água para que refrescassem e crescessem.
Fecharam as pétalas, murcharam as folhas e até as sementes a começar a formarem-se, se queriam soltar...
Depois disse-lhes que olhassem sempre para o sol que um dia o seu Príncipe chegaria de trás daquela luz.
Assim fizeram os girapríncipes. Sempre a olhar para o sol.
É por isso que se chamam girassóis, perguntou o menino a bocejar,... porque giram com o sol?
Sim, foi a partir desse dia...
Aconcheguei os lençóis e pus húmus nos beijos para que aquela flor crescesse forte...

... todas as noites!

Inutilmente seca!

Entrei num bosque fresco, tão fresco como se fosse na Amazónia. As árvores seculares têm porte de gigantes e os seus troncos estão presos por raízes que se espalham pelo solo fresco como se de troncos se tratasse, de tão fortes. Estão cobertas de musgo.
Deitei-me em cima dos fetos a olhar para as copas e o sol poisava-me no vestido em pontinhos brilhantes como se me tivessem caído em cima estrelas. O musgo verde e as heras que trepam até lá cima dão um ar de frescura inimaginável.
Quando entrei no bosque estava sedenta, os meus olhos pestanejavam de tão secos, a minha pele repuxava como se não tivesse extensão para me cobrir a carne e a alma, essa mais parecia um deserto.
Deitada, ouvindo os embalares de silêncio que o vento trazia quando, suavemente agitava as folhas, senti-me como se fosse dona de toda aquela frescura. Fechei os olhos para melhor entrar no silêncio e, aos poucos senti a pele como se estivesse coberta de orvalho. A luz formava em cada gota um arco-íris.
Deixei de sentir as pernas presas imaginando-me no tempo em que os meus passos eram elásticos como os de uma gazela que foge numa savana, dos dentes encarniçados do leopardo. A minha alma gretada pelo tempo de cieiro começou a amaciar dos lados, depois mais ao centro até que parecia uma lua cheia, donzela resplandecente nas noites de Agosto. A minha alma igualzinha ao luar...
Quando abri os olhos dedilhei nas teclas, aqui mesmo, nesta sala, com os cortinados corridos da noite anterior. Abri-os com força, mandei entrar o sol duma manhã de Junho, a primeira manhã do Verão, finalmente o calor entra-me pelos poros, as flores precisam de água no jardim.
Sempre dedilhando vou olhando para fora, os dedos tocam na tecla ao lado, olho o écran, corrijo e olho, olho para ameixeira com o tronco coberto de heras, para a rúcula que imagino viçosa, semeada por esta mão que é terra que é água que é húmus e que faz florir as rosas porque as acaricia todas as manhãs.
Larguei o teclado, desci ao jardim, debaixo da ameixeira senti-me orvalhada e vi sobre o meu corpo pequenas estrelas penetrando entre as folhas, vi arco-íris, saltei para não pisar fetos e vi heras e musgo verde naquela bela árvore com meio século.

E vi-me tola, inutilmente seca!...

devolve-me

Ó vento
Devolve-me as brisas dos amanheceres
Na areia fresca de manhãs distantes
Vestidos de conchas, sapatos de búzios
Em barcos balanceando nas ondas.
Ó vento
Devolve-me as marés...

sábado, 19 de junho de 2010

Chega-te a nós, cidade!

Chega-te a mim cidade, tu que cravas na minha essência, golfadas de solidão.
Percorro-te em pisadas suaves como que a acariciar-te a calçada, mas indiferente, não dás por mim. Percorro-te e quanto mais avanço mais o peito me aperta, mais a multidão apressada me sufoca, mais me apresso também para não ser abalroada. Mas eis que um pé me falha, a perna perde o vigor e caio ao chão. Uma clareira se abre na minha direcção, estou de bruços, as lágrimas caiem-me face abaixo, quero erguer-me, levanto os olhos, vejo o céu azul acima dos telhados, uma nesga e vejo gente que foge, um jovem distraído pisa-me a mão. Gritei, mas o que é isto, que cidade é esta onde vivo, pois eu nem vivo e quiçá nem sobrevivo a tamanha solidão??!!
Arranjei força e ergui-me, sacudi o pó do vestido, com um lenço limpei as pernas manchadas de negro com o negro da cidade, cambaleante segui, no meio de gente igual a mim, solitária, cansada de ser gente que trabalha e nada tem, gente que quer trabalhar e nada tem, gente que já trabalhou e agora não e nada tem.
Mais à frente, debaixo das arcadas um sem abrigo areja a cama e fala com o cobertor sujo que lhe tapa as misérias dos dias, ajeita a camisa para parecer engomada e prepara-se para ir encontrar lugares de estacionamento para os carros que sabe que nunca terá, ganha uns euros para se picar, mas já nem sabe onde, está crivado, só lhe restam os testículos e sabe que um dia terá que ser, será nos testículos que irá picar para mais umas doses de alienação, quer chegar por umas horas a outra cidade onde veja estrelas, onde durma numa cama, onde tenha uma mesa cheia de iguarias, quer-se lambuzar com tudo, mas deste banquete só lhe resta uma ressaca, um papelão que lhe voa da cama, outro dia, mais lugares vazios para estacionar a puta da vida em que se meteu, quando, ainda moço e cheio de vigor se decidiu experimentar aquele pó adulterado misturado com limão, aquele dia não em que mais valia que não tivesse saído naquela noite, que lhe saiu a má sina, aquele pó que lhe lixa as veias, saído duma seringa onde partilha pobreza, desventura, doenças, solidão.
Olha para eles, cidade!...
Mais abaixo, uma mendiga de mão estendida pede esmola, tem ao colo uma criança, a outra está na barriga, numa barriga sem pão. Que história esconderão aqueles olhos de súplica, naquele corpo escanzelado, onde irá parir aquele filho, com que mão o segurará para continuar a ter uma mão estendida às misérias que lhe oferecem.
Olha para eles, cidade!
A multidão está a dispersar, seguindo diferentes rumos e, agora que estou só nesta esquina, já sinto menos solidão. A mendiga falou comigo, pediu-me esmola, ouvi uma voz que me era dirigida depois de longas horas, meti a mão na carteira, dei-lhe uma migalha de pão para o longo dia, para uma longa vida de mão estendida, para uma solidão no meio gente que corre e nunca chega a lugar nenhum.
Chega-te a nós, cidade!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sem palavras para olhar o céu

Nem sequer tenho tido tempo para escrever o céu. Hoje olhei-o de relance e estava lindo. O fundo era azul aberto e as nuvens pareciam claras em castelo.
Tenho escrito mentalmente e, quando quero passar ao teclado surge sempre uma letra que emperra.
Quando a cabeça estiver desocupada sairá em catadupa, as palavras serão transportadas por um galgo que disputa uma corrida e lançadas contra o écran como cimento numa parede molhada. Ficarão firmes a olhar para quem passar aqui, neste mundo virtual.
Agora, as palavras estão exaustas, quero sacá-las mas não sou capaz de as demover do caminho que querem seguir. São tão teimosas as palavras, tão insolentes...
Neste momento fingem não me conhecer! É como se mais nada tivéssemos para partilhar.
Éramos confidentes, chegámos a ser muito mais que isso, chegámos a ser amantes. Agora, é como se não conhecessem o perfume do meu corpo, não recordassem o arrepio que me causavam na espinha quando me tocavam na ponta dos dedos que fosse... Bastava o toque nos dedos e eu tremia...
Partiram todas pela manhã, pé ante pé, para não me acordarem. Foi quando a porta rangeu um pouco mas como o tempo estava chuvoso e frio, pensei que era do vento que soprava. Nem uma carta, um bilhete que fosse à cabeceira ou em cima da mesa do pequeno almoço.

Nem um texto vos deixei, uma frase que fosse onde vos dissesse até logo ou até qualquer dia.
Nem tenho tido palavras para olhar o céu...
Os olhos viram-no lindo pela manhã, hoje, azul encastelado.
Vermelhão à hora de se ir...

sábado, 5 de junho de 2010

Talvez...

Se fosse no tempo em que as insónias me faziam criar, desejava-as em cada noite.
Agora, açoitam-me, lançam-me contra as paredes brancas do quarto onde não há linhas para poisarem os versos, projectam-me contra o tecto, inerte e, quando penso colori-las, repelem as tintas que lhes lanço da paleta em golfadas de desespero.
Porquê que tenho insónias?
Porquê que tenho tantas que já não há carneirinhos em número suficiente para contar?
Porquê que o registo do meu sono é marcado a vermelho, em algumas noites? Nem um segundo a azul, sempre no limite! Ao menos podia ser às bolinhas, todo a vermelho é desespero, é sangue em demasia.
Passa uma vida ociosa o aparelho que me regista o sono e me deveria permitir ter um sono mais reconfortante.
Zero registos, tudo contínuo, nem um gancho para cima, nem um sopro para baixo, tudo igual desde a uma até as sete ou oito da manhã. Porquê que não me deita da cama para fora, esse idiota preguiçoso. Se fosse profissional a sério, desejaria que o desligasse, que o mandasse executar outro trabalho, que mais não fosse, me contasse carneirinhos.
Sou eu que lhe ordeno, sim, a culpada sou eu, o meu corpo cansa-se, quer estar quieto.
Porque me queixo afinal?
Sempre insatisfeita: com as insónias, com as noites demasiado dormidas, com as telas brancas, com os versos incompletos, com as folhas cheias, com as folhas vazias, com as telas imperfeitas e com aquelas em que não lhes induzo um luar porque são excessivamente óbvias.
Porque desejo sempre criar se o acto de parir essa criação me causa tanta dor!?
Porque lanço sementes se a espera do germinar me cansa?...
Giro sobre mim mesma para construir o meu espaço, aquele onde me sinta confortável, cama de veludo, nem uma bolha que seja, como sendo o caracol em sua casa.
Giro, giro, esperneio os obstáculos, aspiro as bolhas de ar para me acomodar, para ver se mando embora as insónias.
Giro, giro, sempre a girar sobre mim própria e, por vezes sinto tonturas, outras vezes náuseas causadas pelas bolhas de ar que me comprimem a cabeça contra a carapaça...
Quando o meu corpo se ajustar ao espaço, ou o espaço ao meu corpo, sei lá,... hei-de senti-me fresca como se sente a ameijoa na concha quando, com a água salgada se abre, para beber essa frescura...
Talvez a ameijoa e o caracol nunca tenham tido insónias, vivendo na poesia do seu espaço.
Talvez me falte poesia, a poesia do espaço...

terça-feira, 1 de junho de 2010

A caminhar prossigo…

Tenho sede de tempo
Tenho fome de vida
Tenho o corpo sedento
Tenho a alma dorida.

Visto-me de sal
Do suor das searas
Enfeito-me com o toucado
Que o feno me empresta
Agarro-me às escarpas
Para não tombar ao abismo.
Troco o passo, vacilo.

Agarro-me às silvas
Agarro-me às tábuas
Salvo-me e respiro.

Tenho os pés calçados
Com os caminhos onde piso
Tenho a alma vestida
Com os frutos amargos.

Com as pontas dos dedos
Penteio os cabelos
Seguro as vaidades e
Passo a passo insisto.

Passo a passo resisto
A caminhar prossigo...

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