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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Inutilmente seca!

Entrei num bosque fresco, tão fresco como se fosse na Amazónia. As árvores seculares têm porte de gigantes e os seus troncos estão presos por raízes que se espalham pelo solo fresco como se de troncos se tratasse, de tão fortes. Estão cobertas de musgo.
Deitei-me em cima dos fetos a olhar para as copas e o sol poisava-me no vestido em pontinhos brilhantes como se me tivessem caído em cima estrelas. O musgo verde e as heras que trepam até lá cima dão um ar de frescura inimaginável.
Quando entrei no bosque estava sedenta, os meus olhos pestanejavam de tão secos, a minha pele repuxava como se não tivesse extensão para me cobrir a carne e a alma, essa mais parecia um deserto.
Deitada, ouvindo os embalares de silêncio que o vento trazia quando, suavemente agitava as folhas, senti-me como se fosse dona de toda aquela frescura. Fechei os olhos para melhor entrar no silêncio e, aos poucos senti a pele como se estivesse coberta de orvalho. A luz formava em cada gota um arco-íris.
Deixei de sentir as pernas presas imaginando-me no tempo em que os meus passos eram elásticos como os de uma gazela que foge numa savana, dos dentes encarniçados do leopardo. A minha alma gretada pelo tempo de cieiro começou a amaciar dos lados, depois mais ao centro até que parecia uma lua cheia, donzela resplandecente nas noites de Agosto. A minha alma igualzinha ao luar...
Quando abri os olhos dedilhei nas teclas, aqui mesmo, nesta sala, com os cortinados corridos da noite anterior. Abri-os com força, mandei entrar o sol duma manhã de Junho, a primeira manhã do Verão, finalmente o calor entra-me pelos poros, as flores precisam de água no jardim.
Sempre dedilhando vou olhando para fora, os dedos tocam na tecla ao lado, olho o écran, corrijo e olho, olho para ameixeira com o tronco coberto de heras, para a rúcula que imagino viçosa, semeada por esta mão que é terra que é água que é húmus e que faz florir as rosas porque as acaricia todas as manhãs.
Larguei o teclado, desci ao jardim, debaixo da ameixeira senti-me orvalhada e vi sobre o meu corpo pequenas estrelas penetrando entre as folhas, vi arco-íris, saltei para não pisar fetos e vi heras e musgo verde naquela bela árvore com meio século.

E vi-me tola, inutilmente seca!...

1 comentário:

  1. Adelaide: Mais um texto lindo gostei continua escrevendo para eu me deliciar a ler teus textos.
    Um beijo
    Santa Cruz

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