Acerca de mim
- Adelaide Monteiro
- Sintra/Miranda do Douro, Portugal
- Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.
terça-feira, 22 de março de 2011
No murmúrio das ondas ( I )
Falava como quem quer espantar demónios do corpo, espiar culpas. ...
Sim, eu sei que também tenho culpa, secalhar tenho a culpa toda por me ter deixado reduzir ao ínfimo pó de trigo, esmagado pela mó do abandono.
Tu desculpa roubar-te o teu tempo e fazer com que vivas as minhas dores, passes a mão pelas nervuras das minhas folhas, em pele enrugada precocemente.
Fala amiga, fala como se estivesses numa cadeira de psicanalista. A desvantagem é, tão só, a minha especialidade não ser essa, ou quiçá lá no fundo será, se o teu desabafar te aliviar as penas....
No início dizia-me:
Os teus cabelos são espuma de mar, daquela espuma de rebentamento suave das ondas, nas minhas mãos, nos meus lábios.Os teus seios são maçãs acabadas de colher carregadas de orvalho numa manhã de Outubro. Os teus vales onde o rio corre sereno, depressa são mágma quando te toco com dedos ágeis, voracidade de quem bebe, mastiga uma iguaria com tempo, para dela tirar o sabor mais requintado. A tua pele tem sabor a mel, perfume a jasmim, frescura de linho lavado na barrela de cinza e água a ferver, metido num cortiço para que branqueie quente.
Depois, tu sabes...
O sentimento de abandono, o cumprir de rituais para defender aparências, o entusiasmo porque se está a imaginar a fazer amor com outra que algures está noutra cama, deitada em lençóis de seda e lingerie de alta classe, comprada pela lingerie que eu não tinha. Ao fim, a indiferença, quando se olha para os lençóis de todos os dias.
E fui deixando, e fui ficando sem cabelos de espuma, sem maçãs orvalhadas, sem vales que brotavam magma...
A tristeza tomou-me a alma, a revolta apoderou-se do coração, e agora, querida amiga, estou seca. Seca como bambú de cadeira de baloiço no jardim, com o sol a pique dias sem conta, anos a fio, dias de chuva a retirar-lhe o verniz da sua tez e, com o entranhar da humidade, a corroer-se aos poucos.
Agora é tarde, sinto que estou desfeita e incapaz de amar alguém.
Não, não quero mais confiar e perspectivar amanhãs...
Falava como se em pensamento estivesse a rebobinar os dias mal vividos, a sofrer com o tempo que, ingrato não tem retrocesso.
Eu acreditei, na verdade sinto que nessa altura podia acreditar, continuava.
Ouvi sem ter pronunciado um som que fosse, como se eu fosse alguém que virtualmente só lia num chat e não teclava um só caracter.
O tempo tudo cura amiga, disse-lhe por fim. O tempo tudo traz, quando, de coração aberto, nos abrimos à vida.Acredita que terás tempo para sentir amanheceres.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Comecei a ler-te colada à tua amargura, mas enchi o peito de ar e alegria quando percebi que afinal és tu a cadeira de baloiço que, dura e forte, recebe nos braços murmúrios de ondas desabridas.Força amiga!
ResponderEliminarÉ um conto, amiga. Um conto igual a tantas vidas de murmúrios feitas.O primeiro com este formato.
ResponderEliminarOutros se seguirão e, um dia, quem sabe... mais alguma coisa se me dispuser a escrever a sério.
Beijinhos
Adelaide