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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ainda hoje...

Hoje decidi não esperar pelo o silêncio da madrugada para escrever. Hoje, sob uma atmosfera pardacenta de uma tarde de sábado, nuvens a ensombrar o sol, nevoeiro leve que me impede de ver o Palácio da Pena mas que eu imagino rodeado de árvores, numa mistura de verde e amarelo, gotas de orvalho a deslizar pelos troncos seculares, assim escrevo. Alma desnuda, como desnuda está a pereira aqui ao lado, no quintal.
Hoje sinto a quietude da madrugada nesta tarde que me convida a ficar enroscado junto à lareira, a cheirar a fumo, gato friorento da minha infância encostado à cinza aconchegada com brasas e que em breve chamuscava o pelo.
Hoje falo com a quietude de quem está de bem com o mundo, ainda que o mundo o não mereça.
Não vou falar de ódios, nem de fomes nem de prendas; não vou falar de excentricidades de quem quer ir à lua numa viagem de egocentrismo, quando ao seu lado e à sua frente há crianças sem pão, sem água, sem sabão.
Também não vou falar do Natal de hoje em dia, o Natal em que se venera um redentor carregado de opulência e consumismo, um redentor vencido pela ganância e vendido por um carro de alta cilindrada e uma conta choruda num qualquer paraíso fiscal.
Também não me cansarei com a conversa esfarrapada da urgência de que outro redentor nasça, por não acreditar que alguém seja capaz de redimir coisa nenhuma nem ninguém, senão a ele próprio, se para isso se esforçar. Acredito que o redentor deste século se tornaria corrupto em menos de nada, tão ou mais corrupto que outros...
Hoje vou falar do Natal de uma menina que, como muitos outros meninos nasceu numa cama de palha, colchão de riscas largas aberto ao meio, para que de manhã as palhas fossem remexidas e ficassem uniformemente em toda a cama, partilhada por uns quantos meninos, uns deitados para a cabeceira, outros distribuídos com as cabecitas para o lado dos pés. Telhados que permitiam que se falasse com a lua e as estrelas logo que a torcida da candeia deitasse fumo, luz que rapidamente se apagava para poupar o azeite para as batatas.
...De manhã acordava cedo e corria para ver o sapatinho que tinha deixado na lareira. Um sapatinho cheio de prendas que o Menino Jesus distribuía durante a noite a todos os meninos.
Dois rebuçados, uns figos secos, umas nozes, uns tostões em anos de menor crise.
Sonhava com ele, com ele corria pelos telhados, deslocava uma telha e entrava descendo pelas varas do fumeiro, roupas cheias de fuligem, coração repleto de alegria, saquinhos cheios de mimos para todos os meninos.
Depois, na missa do Galo beijava aquele menino e a rever o sonho mágico olhava as vestes brancas do Menino e admirava-as com as rendas impecavelmente brancas, apesar da fuligem das cozinhas.
Os seus olhos vivos de centelha fizeram filmes mágicos durante uns anos, nesses Natais passados em família, tão puros, tão ricos,... no meio daqueles nadas mas que eram tudo; eram amor, alegria, solidariedade, magia de meninos...
Num Natal, a mãe atrasara-se por qualquer motivo e quando correu para a sapatinho viu-o vazio. Pela reacção da mãe, apercebeu-se de que não seria bem assim como lhe faziam crer e que haveria outra versão da história... Foi o último Natal de magia...
Nunca mais esqueceu aquele momento de atrapalhação da mãe.
Procura viver todos os dias esse mesmo espírito de Natal.

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