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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

...para que a saudade com elas embranqueça

Sentou-se na soleira da porta do tempo em que os ossos não diziam existir naquele corpo fresco. Agora os ossos falam-lhe numa línguagem de ranger de escadarias velhas.
Sentou-se e com as pernas flectidas cobriu o corpo com o casacão de lã. Ainda assim, sentia frio.
Olhou a neve branca que cobria o chão, respirou o ar frio que lhe gelou os pulmões, tapou as mãos com as mangas. Quiz sentir-se menina, queria brincar na neve, jogar à bolada até sentir o corpo a ferver, mãos vermelhas a escaldar. O ar gelado fez-lhe a barda, arrepiou-lhe aqueles pelos do queixo que por muito que sejam arrancados com a cera de enfrentar o tempo, o tempo teima sempre, cada vez mais persistente e forte para os fazer crescer, bicos ásperos que ressurgem dos poros, brancos como a neve que caiu à noite.
Recolheu-se. Sentiu que os seus ossos, branco cálcio rendilhado, já não suportavam o peso do nevão.
Acendeu o lume, enroscou-se numa manta e ali ficou, de olhar fixo na janelas que lhe mostrava a infância, a adolescéncia, os dias brancos, os lameiros com a erva tapada, os animais sem terem onde pastar, as casas de telha e sem forro calafetadas com a neve a desafiar o frio, na cama, as mantas pesadas a cobrir a cabeça, a luz do sol a anunciar-se para derreter a neve...
Está de olhos fixos a rezar para que o sol se vá e do céu mais neve caia, em farrapas grandes; deixará o lume, irá para a rua para que as farrapas lhe cubram o casacão escuro, para que o escuro se transforme em branco, para que a sua saudade com elas embranqueça e lhe torne brancos e leves os dias, resplandescentes as noites ...

2 comentários:

  1. Abri a porta, encontrei o sorriso amigo da vizinha,o soriso aberto que reencontro em outros que pisam o colchão fofo de neve. A minha alma também sorriu e mais ainda ao ler os teus apontamentos Adelaide. Que extraordinária sensação sentir o contacto da neve, imprimir os meus passos no manto branco e ouvir aquela música única ao pisar... Que silêncio luminoso, mágico, novo na natureza nova e bela.
    A completar este quadro, recordo as gargalhadas soltas, as boladas trocadas com os meus amores, prncipalmente os pequeninos. Ganham sempre.
    Fazemos força para que, neste cenário, nenhum filme nos mostre pés nus.

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  2. Olá Teresa!
    Que bom sentir-te por aqui.
    Ben siempre, rapaza!
    Beisicos

    Delaide

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