Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sábado, 5 de junho de 2010

Talvez...

Se fosse no tempo em que as insónias me faziam criar, desejava-as em cada noite.
Agora, açoitam-me, lançam-me contra as paredes brancas do quarto onde não há linhas para poisarem os versos, projectam-me contra o tecto, inerte e, quando penso colori-las, repelem as tintas que lhes lanço da paleta em golfadas de desespero.
Porquê que tenho insónias?
Porquê que tenho tantas que já não há carneirinhos em número suficiente para contar?
Porquê que o registo do meu sono é marcado a vermelho, em algumas noites? Nem um segundo a azul, sempre no limite! Ao menos podia ser às bolinhas, todo a vermelho é desespero, é sangue em demasia.
Passa uma vida ociosa o aparelho que me regista o sono e me deveria permitir ter um sono mais reconfortante.
Zero registos, tudo contínuo, nem um gancho para cima, nem um sopro para baixo, tudo igual desde a uma até as sete ou oito da manhã. Porquê que não me deita da cama para fora, esse idiota preguiçoso. Se fosse profissional a sério, desejaria que o desligasse, que o mandasse executar outro trabalho, que mais não fosse, me contasse carneirinhos.
Sou eu que lhe ordeno, sim, a culpada sou eu, o meu corpo cansa-se, quer estar quieto.
Porque me queixo afinal?
Sempre insatisfeita: com as insónias, com as noites demasiado dormidas, com as telas brancas, com os versos incompletos, com as folhas cheias, com as folhas vazias, com as telas imperfeitas e com aquelas em que não lhes induzo um luar porque são excessivamente óbvias.
Porque desejo sempre criar se o acto de parir essa criação me causa tanta dor!?
Porque lanço sementes se a espera do germinar me cansa?...
Giro sobre mim mesma para construir o meu espaço, aquele onde me sinta confortável, cama de veludo, nem uma bolha que seja, como sendo o caracol em sua casa.
Giro, giro, esperneio os obstáculos, aspiro as bolhas de ar para me acomodar, para ver se mando embora as insónias.
Giro, giro, sempre a girar sobre mim própria e, por vezes sinto tonturas, outras vezes náuseas causadas pelas bolhas de ar que me comprimem a cabeça contra a carapaça...
Quando o meu corpo se ajustar ao espaço, ou o espaço ao meu corpo, sei lá,... hei-de senti-me fresca como se sente a ameijoa na concha quando, com a água salgada se abre, para beber essa frescura...
Talvez a ameijoa e o caracol nunca tenham tido insónias, vivendo na poesia do seu espaço.
Talvez me falte poesia, a poesia do espaço...

3 comentários:

  1. Olá Adelaide: Lindo texto gostei, continuas a escrever coisas belas; Um bom domingo e que a proxima semana traga tudo de bom para ti.
    Um beijo:
    Santa Cruz.

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  2. Girar, caracol; espaço fechado. Talvez voar em nuvens bem altas, brancas e fofas e aí fazer a cama e deixar que nesse vale de lenções o vento ameno e quente sopre e a insónia se transforme em sono sereno, profundo e reconfortante.

    Bom descanso,
    acangueiro

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  3. Há muita poesia e ao mesmo tempo liberdade qyem como a concha e o caracol têm casa própria sem que paguem renda ou contraiam empréstimo, António. Tu já viste em tempos de crise!
    Se fosse para a núvem eu não dormiria...

    Santa Cruz,

    Obrigada pelo teu adorável comentário.
    Eu não mereço tantos mimos!

    Um beijinho aos dois.

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