Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Partida

Sento-me no chão para te sentir mais perto
Descalça te caminho, com o passo certo
De nevoeiros me visto, de vestes despida
Sinto-te por drento, choro-te na despedida

Estendo os meus braços num abraço infindo
E assim fico, pensando estar contigo
Ah, se tu soubesses quanto me doi o peito
Ao partir agora, sempre deste jeito

Mas hei-de voltar, prometo-te e juro
Para ancorar em porto seguro
Dedos cruzados beijo, selando a promessa
Para que me esperes, me abraces sem pressa.

Ó terra querida se me quisesses tanto
Quanto eu te quero,e que te deixo em pranto
Prendias-me a uma laçada, na argola da vida
Não me deixavas ir e davas-me guarida

domingo, 29 de agosto de 2010

Lágrimas ocultas(Florbela Espanca)

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q’rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

O apêndice, no corpo sábio de mulher madura

Há uma música que se me entranha no corpo e me invade esta sala com ondas de sublimação, penetra no ar, invade-me a alma, pinta de luz o tecto a combinar com o céu estrelado, ofusca a lua que já inveja a luz que daqui sai em feixes intensos. Tudo é mágico nesta madrugada e, de tanto sentir a magia, apetece-me partilhá-la com amigos noctívagos. Olho para o telefone mas depois hesito. Não, já é tarde, não ligo. E vou bebendo esta madrugada acompanhada de um whisky e de Tchaikovsky.
Tchaikovsky produz maravilhas na minha alma, o whisky apenas serve de companhia no silêncio. Quase nada, rigorosamente nada, em boa verdade. O que é uma bebida que dou ao corpo se a música clássica é antes uma bebida que estou a dar à alma, neste ermo onde até posso abrir as janelas sem que ninguém acorde, que mais não seja para fazer inveja ao céu, porque isto é mais que céu, é céu com todas as estrelas, a lua, o caminho de santiago e o sol que daqui a escassas horas despontará neste horizonte, na linha dos montes da minha infância.
Que é uma bebida e um céu estrelado, comparado com esta música que me leva para o Olimpo doutros deuses, de tantos deuses...
Que é uma lua comparada com a sinfonia que me chega a mim sozinha, só eu e a madrugada, cujos sons me fazem ganhar asas, levitar e depois poisar em núvens de algodão, lençol bordado a seda sobre cetim branco.
Agora tocam com vigor os instrumentos para logo a seguir ganharem a suavidade dos fios nos casulos espalhados pela amoreira. Depois flui como flui um rio de planície no Outono da vida.
Tudo é belo nesta madrugada que me aconchega no casulo de um pirilampo e aí eu sou luz à beira do caminho a indicar os passos aos caminhantes, na solidão das suas vidas.
Tudo é silêncio na minha alma para sorver estes sons que me chegam aqui ao lado, simples colunas e me transportam para salões com excelentes acústicas onde o som me chegue genuíno e não com os ruídos de um simples equipamento descartável de vídeo.

Ah! Mas eu sou capaz de ir longe, até ao São Carlos, a Berlim, a Londres e sou capaz de ir aos campos da minha aldeia, para ouvir os passarinhos sob a orientação do maestro rouxinol, em sessões ininterruptas.
Há no copo metade do Whisky e nem sei se o irei beber até ao fim. O que é o whisky comparado com outro CD que vou por no pequeno prato?!
Nada! Apenas o inútil apêndice, no corpo sábio de mulher madura!...

sábado, 28 de agosto de 2010

Mesmo que seja Inverno

Ó Maio florido
Que me vais trazendo
Ano após ano
As cores do Outono
Veste-me de folhas
Que me vão aquecendo
As noites, os dias
Que me vão correndo
Veste-me de flores
Mesmo que seja Inverno!
Perfuma-me com odores
De estevas e giestas
De rosas bravas e de madressilva
Põe-me na cabeça
Uma grinalda de flores
Veste-me de Maio
Mesmo que sinta dores
Veste-me de cores
Mesmo que seja Inverno!

Em silêncios

Falas-me no silêncio do teu olhar
Sentado no recanto dos teus laços.
Porque não me beijas tu
Quando desejas
Porque me deixas
Com sede dos teus abraços?!

Bebes-me em goles
Devagarinho
Eleges-me raínha
Em trono dourado.
Dizes-te por dentro o meu amado
Esboças por dentro um sorriso.

E eu vivo fora
Porque de fora sou
Exuberante como escarlate rosa
Fora ao relento sob o céu estrelado
Fora ao orvalho da doce madrugada
Dentro da lua e assim me dou.

Quero ver dentro e às vezes não posso
Quero-te abraçar e às vezes não ouso
Quero-te falar e os lábios cerram
E fico contigo como barco em porto
Enroscada aos sentires no ninho que é nosso.

Olhas-me em silêncio
Sonhas-me calado
Sonho-te dormindo
Sinto-te a meu lado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Meu rio d´ouro


Doce rio a ti não desço
encalhado entre rochedos
olho-te de cima a tremer
eu bem te queria descer
mas no corpo brota-me o medo.

As vertigens
puxam-me tanto
que eu tenho que recuar
meu rio, meu amado
parto logo para outro lado
embora me apeteça ficar.

Um dia encher-me-ei de coragem
para descer os carreiros
salto os rochedos
e sem medo de rebolar
abraço as tuas margens
sigo contigo a viajar.

Meu rio tão sinuoso
e logo abaixo sereno
cavaste vales
desditoso
neste planalto rugoso
mas é aqui que és mais belo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Doce rio, meu amado

Sigo-te no silêncio das arribas
Rio meu que calmo segues
Entre rochedos e zimbros
Transmitindo a paz que bebes

Ah, se eu pudesse chegar-te
E me entregar em teus braços
Mesmo que trémula eu iria
Para me receberes com abraços

Pois tu não vês que descendo
Eu nunca mais subiria
De teus braços me desprendendo
Eu subir não poderia

Vives assim heremita
Sozinho bem lá no fundo
De tuas dores já padeces
Sozinho nesse teu mundo

Ah, se eu pudesse beber-te
E em ti mitigar securas
Banhada nas tuas águas
Lavava em ti amarguras

Doce rio, meu amado
Eu hei-de alcançar-te um dia
Nas águas do mar salgado
Envoltos em maresia

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Poema sem dono

Foi num tumulto da vida
Que me lancei na poesia
Tanto a brincar, quem diria
Hoje a escrever por terapia

Foi num dia encoberto
Que com garras me lancei
Naquilo que me parecia certo
E com poemas me encontrei

Escrevendo sem dar tréguas
A esta ânsia de dizer tanto
Em poemas também choro
Eu me esvaio em meu canto

E em pranto eu lancei
Os meus versos pelo mundo
E em rabiscos deixei
O meu sentir mais profundo

Sempre sinto nos meus dedos
Espasmos, dores e nevralgias
A pedirem-me que escreva
A toda a hora, todos os dias

É com paixão desmedida
Que semeio aos quatro ventos
A paixão que sempre bebo
Tirando risos aos tormentos

domingo, 8 de agosto de 2010

Faltam orvalhos

Secam-se-me as palavras como se seca o Planalto neste Agosto que não nos dá noites amenas de orvalho. O vento sopra na solidão dos cabeços, seca-se a água nas fontes, esgota-se nos poços para manter frescos os pequenos oásis. Mais um balde, um cegonho que chia em seus madeiros a friccionarem-se, um motor ronca, a água brota do poço, apertada nas mangueiras. Pouco depois, engasgado com o combustível deixa de respirar, a água deixa de correr, os feijoeiros choram de sede.
Vais-te tramar comigo se por tua culpa a horta se me seca!
Puxa a corda para dar à ignição, por instantes parece que irá recomeçar, mas num desânimo de vida gasta, vai-se abaixo, os braços deixam de ter força, o motor vence. Pragueja, mas em vão.
Malvado dum raio, rebento-te esse monte de metal cinzento se me obrigas a puxar a corda do balde para tirar a água do poço para que eu continue a atender aos pedidos de socorro que a horta me está fazendo.

Faltam-me as noites húmidas que me tragam orvalho aos lameiros e neles me fiquem marcados os passos, me molhem os sapatos, me refresquem e me mostrem o caminho de regresso a casa sem que para isso outros sinais de passagem deixe que não aqueles que marcaram os pés, quando de manhãzinha antes do nascer do sol, caminho pelos campos.

Faltam-lhe as pernas que sejam capazes de seguir a vontade de caminhar, faltam-lhe os caminhos que se façam curtos, faltam-lhe as mãos fortes que ponham o motor a tirar água do poço, falta-lhe a esperança de voltar a plantar horta, faltam-lhe as melodias a aflorarem aos lábios, falta-lhe a voz para cantar as canções que vai treinando para que ao menos a letra lhe fique na memória.

Falta-me o aroma da Primavera fresca neste Outono em que, contra a minha vontade, o tempo me faz cair a folha.

Falta-me a música dos dias de festa…
Faltam-me os chilreios da longínqua infância!

Faltam-te orvalhos que te refresquem a pele seca, os olhos baços, o corpo hirto!





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