Voltei com um vento agreste
a procurar o doce cheiro
que um dia me ofereceste.
Detive-me nos lameiros
nos rios e nos cabeços
e foi lá que encontrei
esse almejado cheiro.
Nunca alguém mo ofertou!
Se calhar nunca passou
com febre, de um vão delírio
ou quimera que findou.
Tenho-o impregnado na pele
procurá-lo não preciso...
É cheiro a flores
nascidas livres com a lua
É cheiro a ervas crescidas
como eu cresci na rua.
É cheiro a terra molhada
a trigo, a feno e a palha
a fome, a trabalho, a enxada
a suor
com que o campo se regava.
Chega-me agora em saudade
em retratos descorados.
Das portas chegam-me os cheiros
dos bancos abandonados.
O cheiro que me vem agora
sai de dentro da televisão
já não me chega das cozinhas
em amistoso serão.
Cheira-me a fome e a sede
sem ser de água ou de pão
cheira-me a falta de afectos,
de solidariedade e união.
Depois,
quando peço ao vento
que me transporte, ligeiro
no meu corpo
nem sempre encontro
aquele que foi o meu cheiro.
Acerca de mim
- Adelaide Monteiro
- Sintra/Miranda do Douro, Portugal
- Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.
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