Sibila o vento ao bater contra as colunas de granito. Está fria a noite e, nem sequer o nariz me atrevo a mostrar à escuridão. Quase tirito só de o ouvir.
Olho a fogueira e a chama deambula pelos troncos.Em breve serão consumidos. As fagulhas, verdadeiras batalhas, entrelaçam-se em declaração de guerra aberta. Às vezes ouve-se um estalido. Sempre me intrigaram esses estalidos e, até hoje me interrogo se é efeito da combustão ou se, qualquer verme abrigado nas fibras vegetais da madeira a debater-se pela vida. Inclino-me mais para a primeira, já que o tronco ao arder fica todo ele demasiado quente e qualquer ser lá sucumbiria rapidamente.
Estou nostálgica e melancólica. Por vezes fico neste estado de alma, sem aparentemente ter razão para isso. Por vezes a escrita ajuda-me a sair, outras nem por isso.
A sala está quente. Na cozinha há outra lareira acesa, esta à moda antiga, sem recuperador e, se por um lado a maior parte do calor se escapa pelo gargalo da chaminé, por outro, é lá que o estalar e as batalhas das fagulhas se tornam mais audíveis.
Poderia parecer óbvio que melhor me sentiria lá, mas não! Hoje sinto uma certa tranquilidade neste cantinho onde me sentei em silêncio que nem sequer é cortado pelos sons da televisão que mantenho religiosamente desligada. Só o vento lá fora me responde com a sua voz, para além de pequenos sons que me vão chegando da fogueira, vindos de drentro do vidro do recuperador.
Aqui estou.
Em breve terei que encher de toros a caldeira, para ardérem noite dentro.
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