Estamos na época do Carnaval. O tempo é solarengo e simultaneamente gelado, aqui no Nordeste.
Durante dia o sol é radioso; à noite, a geada continua teimosamente a formar-se, mostrando pela manhã uma camada branca que, com o sol, toma brilho de cristal mas que depressa derrete. Nas encostas viradas a Norte, teima e vai ficando.
É cedo. O sol começou a espreguiçar-se e depressa subirá sobre o monte sobranceiro e iluminará a encosta da aldeia.
Mantenho-me em casa e, através dos vidros, a lavar a vista com a paisagem de um cinza acastanhado, numa mistura de terra adormecida e de árvores despidas, remexidas pelo vento sibilante que lhes congela as entranhas e lhes faz encolher os rebentos desejosos de nascer.
Durante dia o sol é radioso; à noite, a geada continua teimosamente a formar-se, mostrando pela manhã uma camada branca que, com o sol, toma brilho de cristal mas que depressa derrete. Nas encostas viradas a Norte, teima e vai ficando.
É cedo. O sol começou a espreguiçar-se e depressa subirá sobre o monte sobranceiro e iluminará a encosta da aldeia.
Mantenho-me em casa e, através dos vidros, a lavar a vista com a paisagem de um cinza acastanhado, numa mistura de terra adormecida e de árvores despidas, remexidas pelo vento sibilante que lhes congela as entranhas e lhes faz encolher os rebentos desejosos de nascer.
As árvores, em fim de gestação, têm gomos que em breve gritarão de alegria em rebentos tenros e mais tarde em folhagem de um encerado e verde deslumbrante.
Estiveram a cumprir o tempo em hibernação, num Inverno rigoroso que teimosamente lançou camadas de neve e gelo deslizante.
Também eles cumprem o tempo e hibernam, os idosos!...
Corpos empedernidos, mãos trémulas, geladas, contam os dias e as longas noites, como quem reza a passar as contas de um rosário de martírios, em ladainha de murmúrios, em gestos e palavras repetidos.
Como vai, tio António?
O mesmo de sempre, cá vamos indo!...
O cá vamos indo que se repete todos os dias, o cada vez pior que se repete sempre, como sempre se repete o regresso das cegonhas e das andorinhas, mensageiras da Primavera.
Aquele... "cá vamos indo," sem sonhos !...
Morre-se quando se perde a vida e morre-se também, quando se perde a capacidade de sonhar!...
Como vai, tio António?
O mesmo de sempre, cá vamos indo!...
O cá vamos indo que se repete todos os dias, o cada vez pior que se repete sempre, como sempre se repete o regresso das cegonhas e das andorinhas, mensageiras da Primavera.
Aquele... "cá vamos indo," sem sonhos !...
Morre-se quando se perde a vida e morre-se também, quando se perde a capacidade de sonhar!...
É um morrer mais doloroso, lento, num desgastar constante de quem vai morrendo por dentro.
É um viver a morrer e um morrer num não viver.
Depois, o olhar vazio e distante percorre os dias e as noites, as estações e os anos, num vamos indo!…
Vamos indo,... enquanto Deus quiser!...
Um vamos indo à espera dos filhos que emigraram!...
Um vamos indo!...
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