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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Vamos Indo... (Parte 1)



Estamos na época do Carnaval. O tempo é solarengo e simultaneamente gelado, aqui no Nordeste.
Durante dia o sol é radioso; à noite, a geada continua teimosamente a formar-se, mostrando pela manhã uma camada branca que, com o sol, toma brilho de cristal mas que depressa derrete. Nas encostas viradas a Norte, teima e vai ficando.
É cedo. O sol começou a espreguiçar-se e depressa subirá sobre o monte sobranceiro e iluminará a encosta da aldeia.
Mantenho-me em casa e, através dos vidros, a lavar a vista com a paisagem de um cinza acastanhado, numa mistura de terra adormecida e de árvores despidas, remexidas pelo vento sibilante que lhes congela as entranhas e lhes faz encolher os rebentos desejosos de nascer.


As árvores, em fim de gestação, têm gomos que em breve gritarão de alegria em rebentos tenros e mais tarde em folhagem de um encerado e verde deslumbrante.
Estiveram a cumprir o tempo em hibernação, num Inverno rigoroso que teimosamente lançou camadas de neve e gelo deslizante.

Também eles cumprem o tempo e hibernam, os idosos!...

Corpos empedernidos, mãos trémulas, geladas, contam os dias e as longas noites, como quem reza a passar as contas de um rosário de martírios, em ladainha de murmúrios, em gestos e palavras repetidos.

Como vai, tio António?
O mesmo de sempre, cá vamos indo!...

O cá vamos indo que se repete todos os dias, o cada vez pior que se repete sempre, como sempre se repete o regresso das cegonhas e das andorinhas, mensageiras da Primavera.
Aquele... "cá vamos indo," sem sonhos !...

Morre-se quando se perde a vida e morre-se também, quando se perde a capacidade de sonhar!...

É um morrer mais doloroso, lento, num desgastar constante de quem vai morrendo por dentro.

É um viver a morrer e um morrer num não viver.


Depois, o olhar vazio e distante percorre os dias e as noites, as estações e os anos, num vamos indo!…
Vamos indo,... enquanto Deus quiser!...

Um vamos indo à espera dos filhos que emigraram!...

Um vamos indo!...





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