Sentada num recanto do tempo, sou tarde de temporal.
No regaço coloco as mãos frias como que a esperar que a chuva passe, o vento deixe de sibilar, as ondas alterosas deixem de me atormentar.
Ponho as mãos no regaço, perdidas, cansadas, inertes, à espera, neste cais que se desintegra, numa espera inútil, onde nenhum barco atraca, farol que não dá sinais.
De repente o crepúsculo cai, a noite fria surge, a noite de naufrágios, a minha noite. Sento-me nos destroços, as ondas rebentam aos meus pés, fortes, gigantescas e a minha alma chora ao ritmo da rebentação.
Sinto-me perdida, sem pontos cardeais, sem bússola, tentando encontrar as ruelas da madrugada que anelo, a que tenha a frescura da hortelã, o cheiro da madressilva, o gosto da amora, a brandura e a macieza do linho gasto.
A noite tapou as ranhuras à madrugada e, asfixiada pela impotência de nascer, recolheu-se atrás de nuvens densas, castelos de fumo.
Lá ao longe, um farol a mostrar-me outro rumo, um barco que se volta, o meu regaço que se inunda, as minhas mãos que submergem, o meu peito que agoniza, o cais a desintegrar-se, e eu, noite de naufrágios,... no recanto do tempo onde me sento...
Acerca de mim
- Adelaide Monteiro
- Sintra/Miranda do Douro, Portugal
- Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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