Quisera eu fazer sair da minha fonte
as palavras em catadupa, transbordantes
e te dizer que te sinto, te quero
e que é nos teus braços
que me aconchego e,
no cheiro do teu corpo me perco.
A fonte de águas cristalinas secou neste inferno estival
e com ela secaram-me as palavras com que te queria cantar,
meu planalto escaldante.
Os meus lábios não te sorriem de gretados, ao olhar-te
e tu olhas-me, em desespero suplicante.
Reguei-te com o meu suor e com a água fresca
que saiu das tuas entranhas e,
regado, rejubilavas durante a noite
mas quase que perecias durante o dia,
queimado pelo sol, agitado pelo vento seco
e te dobravas sobre ti mesmo em agonia de morte, de desespero,
em pedidos de socorro,
olhando o céu à procura de uma nuvem
que te trouxesse chuva.
Secaram-me as palavras
como te estás a secar, meu planalto…
Queria deixar-te um poema antes de partir,
um poema que te fizesse sorrir.
Saiu mudo, o meu poema!...
É um poema de sentires,
sem palavras nem métricas nem rimas.
Não rima dor, com a falta que me fazes;
não rima amor, com os teus poentes vermelhões,
com os teus nascentes roxos e laranja,
com os teus horizontes em que me deito e sonho,
com a côdea dura do teu pão que amoleço e me mata a fome.
Não rima estontear com os teus cheiros,
emudecer com os teus sons,
sonhar com os teus silêncios,
dormir nas mantas que me estendes, nos lameiros
sentir com os teus sentidos.
Não te deixo palavras em catadupa,
porque as não tenho
nesta fonte que julgo seca.
Entrego-te a fonte…
Sou tua para sempre!