Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Lembranças poídas



Há as paredes negras
a lembrarem dias
noites com candeia
camuflando vincos
traçados nas vidas

Há a mão ágil
tecendo a meia
e sempre fazendo
os fios da vida
com que vai tecendo

Há o armário enfeitado
com papeis recortados
de jornais não lidos.
Amareleceu-os o tempo
o tempo e o fumo
dos manjares não servidos

Servidos na malga
e num prato
onde todos jejuavam.
Servidos nos campos
em suores amargos
com que se deleitavam

Há o lavatório
à entrada da casa
onde passam mãos
lavadas à pressa
fervendo em brasa

Há a criança
a chorar
nas costas cansadas
e há a fome a minar
em ventres meninos
há a lágrima a secar
no rosto da mãe
esticando vestidos;
e abaixa a baínha
e cose os rasgões
vira o tecido
vira o colarinho
e muda os botões


Muda, muda e troca
de vestido, a saia

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Me perco



Vi-te ao longe quando a minha sombra era sobejamente conhecida dos meus olhos. Eras Atlântico, verde, lindo. Inacessível também embora agora saiba que arrastavas a areia com as tuas ondas, ali bem perto de onde morei. Soube-o quando me passeei o ano passado na marginal de Gaia. 
Na altura nunca imaginei que tivesse o mar não muito distante. Naquele tempo tudo parecia longínquo e inacessível. Era o tempo em que as roupas eram escassas, os pés descalços, os sapatos caros para os gastar em caminhadas inúteis, os automóveis, de ricos, os tostões para o autocarro, muito caros, o conhecimento curto, o mar em imagem.
Tão perto sem que te tenha tocado, sem que me levasses para longe no balançar das ondas, olhos famintos desejosos de horizontes mais distantes. Ouvi o teu som num búzio encostado ao ouvido quando visitei um parente dum marinheiro. É o murmúrio do mar, disse-me e disse-o naquele tom de quem se sente conhecedor do mar só porque tem um búzio sobre a mesa e porque ouviu umas histórias a um marinheiro. O som podia não ser completamente fiel ao bater das ondas, as histórias podiam ser uma hipérbole, mas, na verdade, aquele ancião do interior sabia muito mais de mar do que eu sabia.
Eu sabia! Eu sabia que o meu olhar de centelha, desejoso de outros horizontes havia de poisar nas ondas, viajar pelos horizontes longínquos a confundirem-se com o céu no exacto ponto onde o sol se põe, onde as águas fazem espelho e as gaivotas já nem pontos são no firmamento.
Era Índico. De manhã calmo, agitado à tarde. Às vezes também era raivoso de manhã, mudava de humor frequentemente, umas vezes mais, outras menos, dependendo da praia. Um dia virei-lhe as costas para fugir duma onda; engoliu-me e vomitou-me depois. Eu engoli água, muita água, água e areia. O grupo em grande divertimento a cortar ondas e a saltar ondas em grande euforia não se apercebeu. Lembro-me que me senti enrolada trezentos e sessenta graus não sei quantas vezes e depois fui trazida para a areia como concha vazia, pela onda que me serviu de tábua de salvação. Fui forçada a tossir e a água armazenada finalmente saiu e respirei. Sobrevivi e não mais me aventurei em ondas traiçoeiras e, sobretudo nunca mais virei as costas ao mar. Agora abraço-o. Do Índico tenho uma saudade infinda. Abraço o Atlântico. Fui perdendo o trauma e aos poucos, tornei-me amante do mar. Breves incursões noutros mares mais calmos, dorminhocos mesmo e, para dizer a verdade, é na ondulação que gosto me sentir viva.
Lamento ter que te confessar, Atlântico, a ti que com paixão platónica amei. És para mim uma sombra de uma lenda que vivi num Oriente de costa, onde as águas eram tépidas, onde as praias eram imensas onde o sol ardia não fossem as sombras dos pinheiros que povoavam as dunas e quase se aventuravam mar dentro.
Apesar disso, apesar de seres frio, apinhado de gente e motas de água, aprendi a amar-te e a paixão platónica de início, transformou-se em carnal, não sendo capaz de estar muito tempo sem te visitar.




Me perco…


Bebo-te com as mãos
Beijo-te com os olhos
E acarinho-te com o corpo
Quando por ti adentro
Entro …
Mar de espuma, revolto
Transparente, verde
Aroma de beijos
Força de abraços
Poltrona de seda
Onde me deito.
Mar, mar!
Mar tão imenso
Paquete de cristal feito
Que me leva a viajar…
Contigo vou
Contigo volto
Na tua brisa.
No ondulado de teu cabelo
Mar amado, me perco...


Me perdo…



Bebo-te cun las manos
Beiso-te cun ls uolhos
I acarino-te cun l cuorpo
Quando por ti adrento
Me meto.
Mar de scuma, rebuolto
Transparente, berde
Aroma de beisos
Fuorça de abraços
Scanho de seda
Adonde me deito.
Mar, mar!
Mar tan eimenso
Paquete de cristal feito
Que me lhieba a biajar...
Cuntigo you scapo
Cuntigo you torno
An tou airico lebe.
Nas óndias de l tou pelo
Mar amado, me perdo...

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