Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sábado, 30 de julho de 2011

De mãe

Semeei-te em terra
para em terra medrares
reguei-te da fonte
para não secares.
Cresceste depressa
depressa floriste
foste-te depressa
mas sempre vieste.

Semeei-te em terra
forte te fizeste

Arranquei-te as ervas:
Cherinchos, ervas mouras
baldruegas, grama
paridas pela terra
tão bem amanhada
pois não faltam ervas
em terra estrumada.

Arranquei-te as ervas
sem te doer nada

Semeei-te em carinho
para te tirar o medo
em beijos e abraços
para que não tiritasses
apertaste os laços
segurando a colheita
pois que ninguém dará
o que não retenha.

Semeei-te em carinho
para que dentro te venha




Em Mirandês, o original

Acubri-te an tierra
Para an tierra medrares
Reguei-te de la fuonte
Para nun te secares
Medreste debrebe
Debrebe floriste
Fuste-te debrebe
Mas siempre beniste

Acubri-te na tierra
Fuorte te faziste

Arranquei-te las yerbas:
Cherinchos, yerbas mouras
Berdulagas, grama
Paridas pula tierra
Tan bien amanhada
Puis nun fáltan yerbas
Na tierra strecada

Arranquei-te las yerbas
Sien te doler nada

Acubri-te an carino
Para te tirar l miedo
An beisos i abraços
Para que nun tritasses
Aperteste ls lhaços
Agarrando la cemba
Puis que naide dará
L que ne l peito nun tenga

Acubri-te an carino
Para que de drento te benga!


Screbido die 26, die de ls anhos de l miu filho mais nuobo, Rui.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

E eu à nora, à procura da palavra

Rodeiam-me como que a obrigar-me a permanecer naquela sala simples onde a mesa é decorada por um computador e uma pedra esférica a servir de pisa papéis onde pintei um búzio, para homenagear e lembrar o mar onde ele cresceu e eu respirei ar fresco.
Olha para mim como se estivesse vivo, num desafio constante de me levar novamente às ondas. Olha para mim como que a suplicar-me que o deixe partir e, que vá com ele para o seu mundo, para o fundo do seu berço fresco. Respondo-lhe que ficará para depois, uns meses depois, quem sabe se Maio ou Agosto, quando os meus dedos se cansarem de amaciar as teclas, quando os meus ouvidos ensurdecerem com as conversas dos que à minha volta se sentam, me acotovelam, sempre com a ânsia de lhe dar a deixa, eu a servir de ponto quando se esquecem da palavra que deveria vir a seguir, naquele teatro de personagens abstratas a passearem pelas tábuas da minha salinha humilde.
Um pisa papéis sem papéis para pisar. Detesto papéis! Bendita era dos computadores que me retirou o papel, o pó velho a entupir-me as narinas, a fazer-me espirrar a cada tentativa de lhe dar alguma organização. Bendito teclado onde os meus dedos são bailarinas com vestidos de tules ondulantes e sabrinas brancas com atilhos de cetim.
Gosto do búzio sem papéis. Tem um porte digno e, quando me olha nos olhos, traz-me a frescura do iodo expirado por um oceano verde.
De igual modo, gosto do par de namorados abraçados na paixão dos seus corpos jovens, gestos apressados para se banharem em rios de lava e permanecerem num só corpo. Pintei-os, quando não fui capaz de os escrever com a caneta de tinta permanente a esborratar os seus corpos quentes. Ali estão em frente. Às vezes vejo-os a despirem-se com gestos apressados, outras vezes já mais além, em gemidos, numa cúpula sem tempo, de orgasmos múltiplos até à exaustão.
Gosto do búzio e do par apaixonado por não me ditarem regras, as regras foram minhas quando os criei e continuam a ser minhas, enquanto quiser.
Os outros, todos eles me rodeiam, me acotovelam, me ralham, me asfixiam e me interrompem e deixam sem a palavra certa, num desânimo de vencida nos destroços de uma batalha.
Não escrevas essa palavra, diz-me uma das actrizes! Não é essa a que expressa o meu sentimento genuíno. E eu à nora, à procura da palavra...
Essas palavras nunca foram por mim proferidas, não reflectem o meu estado de alma, diz-me aquele imbecil, meio mulher, meio sereia, sentado na minha perna direita.
Deixa-me em paz! Lá tu te lembras da tua história carregada de pó de arroz!Pois tu não vês que me tiras toda a expontaneidade!?
E eu que os ature! Uma cambada em busca de protagonismo no romance.
Depois, há outro, não menos imbecil do que outros todos juntos, um actor que quer representar o meu papel, a entrar sempre mais e mais pelos meus sentimentos, a desnudar-me ainda mais que desnudo está o par de namorados pintado no quadro e dependurado à minha frente...
E eu à nora!!!

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