Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A fonte dos desejos


Lança-se a moeda na fonte
bem no fundo dos anseios.
Estão tantas moedas na fonte,
... tantos anseios a monte,
da gente que pede á fonte
remédio para seus receios.

Pudesse a fonte florir
no frio do vil metal!…

Escureceram as suas águas
com os metais corroídos
e agora se um justo desce
para de costas lançar
a moeda com o desejo
a fonte torce o nariz
faz trejeitos, como quem diz,
não me quero mais turvar…

E o justo mesmo assim
fazendo-se desentendido
do sentir da fonte santa,
de costas lança-lhe a moeda
para ver se com sorte pega
o vil que tanto lhe falta…

E logo o usurário
mesmo com sapatos calçados,
molhando os braços e o peito,
retira da água a eito
moedas de todas as cores,
leva dos desejos, os suores
que tanto cavaram o pão
e com o metal oxidado
sem sentir nenhuma mágoa,
cresce a pança ao comilão.

E a fonte de roubos farta,
disse para si, raios ma parta,
se não engolir toda a água!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Um sorriso emprestado

O meu peito foi salina
disse-me eu um dia,
porque nesse dia
uma lágrima recolheu
e em vez da lágrima nasceu
um sorriso
emprestado a um olhar triste

Danças no teu verde olhar

Caminhei pela manhã com o sol a beijar-me o rosto,
a brisa  a acariciar,
o azul do céu a fundir-se no mar,
inspirando o meu dia.
Olhei-te de frente mal cheguei,
bem nos olhos
como só se olha a quem se ama de verdade.
Ah! esta saudade!
Olhei a tua planície de centeio agitada pelo vento
e muito mais perto,
as tuas ondas caminhavam
e nelas me chegava a aventura de viagens.
Ao olhar-te sinto-me partir
e, enleada,
deixo-me embalar
pelo teu balançar.
Enebriada pela tua cor, alheada do mundo,
como se o mundo fosse feito
das tuas notas musicais
imagino-me noutro mundo,
um mundo sem fome,
sem injustiças, sem guerras.
Quando em ti me deito,
acabaram meus ais,
acabaram as sedes de ser livre
porque,
quando te olho,
eu sou,
livre dum mundo que me ameaça,
livre dum tempo que me amordaça,
livre dos temores que às vezes sobre mim se abatem.
Quando o meu olhar se espraia
sobre os campos de centeio da minha infância
que em ti invento,...
eu volto a ser menina,
com chitas vestida
e danço no verde do teu olhar,
mar
...e todas as dores se esbatem!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Menos doridos...

Caminho em terra batida depois de ter cortado as raízes de plantas raivosas para que o caminho se tornasse macio para os meus pés doridos. Arranquei a grama, fertilizei os solos, cavei fundo e tentei enterrar os restos duma seara que não semeei.
De quando em vez, surjem rebentos dum tempo que quiz matar. Como se poderá matar um tempo sem que se lhe ponha uma lage de mármore em cima ou se enfie num jazigo?! Detesto pedras por cima do tempo que quero matar; detesto jazigos a enclausurar o tempo!
Assim, lancei o tempo num ermo, ostracizado, trocado pelos toques de pele de outro tempo a fornecer-me sonhos. Ando a plantá-los na terra que fertilizei. Estão a crescer verdes e tenros os sonhos, mas ainda assim, há sonhos que me ficam a olhar para trás, em direcção ao ermo...
Caminho em terra batida, serenamente, passo certo, pés firmes sobre o chão limpo e,... os pés estão menos doridos...

domingo, 15 de janeiro de 2012

Outono

Descubro o encanto do outono
nas folhas que vão caindo
onde me deito sorrindo
bem abraçada aos rebentos
do ressurgir de sentimentos
de poema ao abandono.

Perdi-te um tempo,
outono
e em inverno me senti,
precocemente gelado.
Perdeste-te de mim
nem sei como,
em mutismos disfaçado,
à distância dum lamento.

Hás-de ainda devolver-me,
eu sinto-o,
uma primavera tardia
em plenitude florida.
Saltando o inverno, virá
e do gelo me poupará
em amor fortalecida.

Abraço-me a ti outono,
fito os teus olhos dourados
e enlaçando os meus braços
aos teus braços apertados,
agarro-me às folhas
salpicadas de anseios
e os nossos braços são laços
e as folhas são nossos beijos

Que importa que os nossos ramos
fiquem em breve despidos
se das folhas do meu regaço
fizeres sempre o nosso ninho
e eu tiver o meu corpo
encostado ao teu corpo amigo!?

Outono, ouve só isto!!!
Eu não temo os invernos
se com tuas folhas vermelhas
tu me tiveres aquecido.

sábado, 14 de janeiro de 2012

O sol é manta a cobrir


Há-de vir o sol
para derreter o gelo depositado
sobre as plantas cansadas,
sobre as ervas débeis,
sobre os corações esfacelados.
O sol é amor a aconchegar
e o sol não pede a manta de volta.
Preciso de sol!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Dias voláteis

Em voláteis
eu decanto as penas...
Penas para que serão,
em escassos dias, apenas!?...
É tão curto o Outono!
Os invernos
a todos gelarão!

Não batas!

Se passares à minha porta,
não batas!
Podes acordar a calma que em mim mora!...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Destroços

Que importa o casulo
se o pirilampo não brilhar!?
Há um eyeliner na pálpebra
para esconder a tristeza do olhar;
há um sorriso forçado
para esconder os destroços da alma
e o coração a afundar.

Será que o vento...

Será que o vento que sopra
será como os meus pensares!?
Umas vezes, leves, serenos;
outras, de sieiro i gretas,
outras, serranos a gelar.

Será que o vento que sopra
será vento para ficar!?
Que fique leve e com frescura,
com ardores e sem rachar.

Será que o vento que sopra,
será brisa, a disfarçar!?

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Janeiro aquece dezembro

Canta suave a represa,
canção a enlevar-me os pensares,
nesta manhã de janeiro
dum ribeiro prazenteiro.

Gelou-me dezembro,
o corpo, a alma e a mente!
Ao aquecer,
vai janeiro derretendo
a geada e o granizo
e aos poucos descubro janeiro,
como se só agora janeiro,
eu tivesse conhecido.

Passa-me o sol pela pele
desnuda-me com o olhar
doce, sabendo a mel,
em olhos, favos dourados
nunca antes encontrados
nos raios desse mirar.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Talvez um dia

Porquê?
Porquê que
armando-te em heroína de batalhas
escondes a dor que te vai nos refluxos
da tua raiva?
Mais valia que te enfrascasses
que te enraivecesses e regurgitasses
aquilo de que te sentes incapaz de digerir...

Ah!
Talvez um dia
quem sabe,
tu venhas a conseguir...

Por um desejo,
por um sonho não vivido,
por um beijo,
por um orgulho engolido,
por um amor encoberto e
incolor, ao teu lado disfarçado,
descoberto,
por um destino que nem sabes
se é candura ou pecado.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Deixa sem pressas

Deixa sem pressas
que o perdão desça à chaga aberta,
que o granizo descongele
e se deposite em aluvião na horta,
para que frescos cresçam
e lentamente floresçam os sonhos,
ainda que o tempo te meta pressa,
veloz a escapar-te das mãos.
O perdão!...
O perdão dissipa a dor,
ainda que a dor seja atroz,
atenua imagens,
ainda que as imagens não se esqueçam,
mas antes esmoreçam.
Vive o hoje sem pensares no ontem,
mesmo que o ontem tenha sido elevado,
pois que comparado,
o hoje pode parecer baixo,
e o amanhã, quem sabe!?
Espera que as lágrimas decantem a poeira,
para delas extrair apenas o sal,
branco, puro,
com  que vais temperar
o alimento para os beijos,
os abraços,
o enlevo com que irás olhar o cravo
e sentir o seu perfume
nas noites, nos dias,
na covinha do sorriso.
Depois, há-de reavivar a chama,
hão-de incendiar-se os recantos do corpo,
hão-de elevar-se os picos dos montes
a fundirem-se nas lavas do desejo,
a fazer transbordar o rio que em ti corre,
entre margens vulcânicas, apertado.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Sangrar por dentro

Beijei a rosa,
toquei os espinhos,
sequei os lábios
para não sangrar.
Sangrei por dentro,
sem flor, sem espinhos,
escorri mais sangue,
sem me picar

Antes num charco

O peixinho não navega no mar a qualquer preço e em quaquer situação. Se o mar for indolente ou demasiado agitado e lhe descamar a pele, o peixe sairá dos rebentamentos e, antes perder-se no areal, dentro dos pequenos charcos formados pelas marés vivas, do que viver despido, à mercê de esmolas, dentro dum mar ingrato.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Os meus ais

Já não há ais!
O peito secou
pensando-se envolvido em pesadelo
e o real
parece que deixou de o ser,
num corpo em forma de mulher,
os choros em forma de expiação,
as abstrações
em formas de poupar o coração
.
Já não há ais digo
mas ao dizê-lo quanto minto,
ao senti-lo quanto sinto
em ais que já nem balbucio,
vazios que não posso suportar.
Será que não me sei dar!

Já não tenho ais para fora do meu peito,
mas antes rebentamentos dentro de mim
que me fazem esfacelar a carne,
uma força visceral a implodir-me
como me têm feito explodir o que sinto
dito em palavras verdadeiras.

Os meus ais engoli-os
como quem engole fel
em deglutição instantânea
para na garganta não sentir a queimadura
e na boca o amargo.

Já não tenho ais!
Os ais entraram, reviraram as vísceras,
esfacelaramm o coração
e inundaram a alma.

Se ao menos
alguém pudesse ouvir os meus ais,
expressados em espasmos,
em náuseas,
em movimentos viscerais
em debelidade muscular.

Só eu!
Só eu posso ouvir os meus ais!
Mas, hei-de secá-los
nem que para isso me arraste,
me canse e me gaste
de tanto os secar
para, sem narcisismos
me continuar a amar.

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