Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Este sangre/ Este sangue


Este sangre

 

Este sangre que cuorre nas benas de la mie tierra ne ls Outonhos nun se zbota. Hai  burmeilhos i amarielhos barro an carbalhos i an cereijeiras, amarielhos d´ouro an choupos, berdes spargidos an manchas de nabales i coubales.

Miro pa las fuolhas abanadas pul aire friu que nun repente chegou i beio-le sprito de lhuita para se assiguráren a la teta materna, regísten i an pequeinhos mobimientos ansáian l bolo que ls há-de lhebar al chano para apuis an cama dóndia çcansáren ne l Eimbierno, acocando ls rocos que siempre médran adonde hai stierco de fuolhas.

Miro pal termo i ls uolhos scápan-se. Oubo ls suspiros de ls páixaros registentes bolando altos i an bandos para stáren mais longe de la gelada que yá abraçou la tierra dóndia, molhada i beisada por auga desiada i cun esses marmúrios, l miu sentido scapa-se atrás, ambuolto an cheiros de doce de temato i balancia que no pote férben.

Miro pa ls caiatos que gémen,  zafiando l ásparo de las piedras, tal i qual cumo las fuolhas, a sigurá-se a la bida andeble, registindo a mais un cair de fuolha, mais fuortes que las fuolhas sbolaciantes; i hán-de registir a mais un Eimbierno cun la sprença de berbonta que le há-de nacer an mais ua Primabera. Trítan ls caiatos, tente nun caias a caminho de la missa, pedidos crentes de salbaçon de la alma, remisson i mea culpa de ls pecados. Miro pa ls caiatos i beio que trítan tal i qual you trito quando me deito sien un saco de auga caliente, caiatos aquestumados a tiempos anfernosos.

Miro pal mundo que me ben d´ andrento l cumputadori beio-lo bien mais negro, fumarento, sfamiado. Aténtio la fuorça i dou-me de counta que ls uossos stálhan menos i cun eilhes porparo la tierra para que cun las fabas l miu mundo seia mais farto.

Este sangre que cuorre nas benas de la mie tierra fai-me correr mais sangre nas mies benas, mais burmeilho d´ua eimoglobina biba, de tanto oucigénio bolar nas bochadas deste Praino.

 

Este sangue

 

Este sangue que corre nas veias da minha terra nos Outonos não de descora. Há vermelhos e amarelos barro em carvalhos e em cerejeiras, amarelos dourados em choupos, verdes espalhados em manchas de nabiças e couves.

Olho para as folhas agitadas pelo vento frio que num instante chegou e vejo-lhe o espírito de luta do povo, para se segurarem ao peito materno, resistindo. Com pequenos movimentos ensaiam o voo que as levará ao chão para depois em cama fofa descansarem no Inverno, abrigando os cogumelos que sempre crescem onde há o húmus das folhas.

Olho para o campo e os olhos escapam-se;  ouço os suspiros dos pássaros resistentes, voando alto e em bandos para estarem mais longe da geada que já abraçou a terra fofa, molhada e beijada por  chuva tão desejada e com esses murmúrios a minha mente foge, envolta em aromas de compota de tomate verde e de melancia que na panela fervem.

Olho para os cajados que murmuram, desafiando o áspero das pedras, tal qual as folhas, a segurarem-se à vida débil, resistindo a mais uma queda da folha, um pouco mais fortes que as folhas esvoaçantes. E,  hão-de resistir a mais um Inverno, com a esperança do rebento que lhe há-de nascer em mais uma Primavera.

Tiritam os cajados, tente não caias, a caminho da missa, pedidos crentes de salvação da alma a caminho da missa, remissão com a mea culpa dos pecados. Olho para os cajados e vejo que tiritam como eu tirito quando me deito sem um saco de água quente,  mesmo habituados a tempo de inferno.

Olho para o mundo que me vem de dentro do computador e vejo-o muito mais negro, fumarento, esfomeado. Experimento a força e constato que os ossos estalam menos e, com eles preparo a terra para que com as favas o meu mundo seja mais farto.

Este sangue que corre nas veias da minha terra faz-me correr mais sangue nas minhas veias, mais vermelho de hemoglobina viva, por mais oxigénio voar nos pulmões deste Planalto.

Seguidores

Arquivo do blogue