Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sábado, 31 de outubro de 2009

Dai-me talento



Tenho tanta coisa dentro do peito
Em forte ebulição, pronta a sair.
As coisas estão alvoroçadas
Como está a terra na água do rio
Que corre veloz, com as trovoadas.

Quero soltar as palavras
Para que a enxurrada decante
Para que o meu rio amanse
Mas falta-me a coragem, a arte
E o engenho para construir frases

Dai-me sabedoria se a tiverdes
Para que o meu grito seja vosso
E para que quando me ouvirdes
Seja de todas, seja nosso.

Sem compreender a razão
As palavras não se libertam
E os remoínhos da minha alma
Que tudo agitam, amansam.

E as minhas palavras aconchegadas
Formam aluvião no fundo
Na espera de serem semeadas
E com a luz despertas
Aquecidas, germinadas.

Dai-me talento
Para deitar para fora as palavras
Na minha alma aconchegadas
Inúteis, caladas.

Quero que gritem o desespero
Das mães esfomeadas
Que assistem à morte dos filhos
Ossos com as barrigas inchadas.

Quero que gritem a humilhação
Das mulheres aprisionadas
Das crianças violadas
E a sua carne vendida
Para prazeres, mas não amadas.

Quero gritar por aquelas
Que de tanta violência sofrerem
Já não sentem o corpo nem a alma.
Impotentes, deprimidas
Já não têm auto estima
Nem forças para reagirem.

Quero gritar por todas aquelas
Com salários de mulheres
E duplicados os seus afazeres
Se escapam sempre a correr.
Embalando os filhos, dormem de pé
E voltam e correm
Ao seu salário desigual, de mulher.

Dai-me talento.
A escrever, quero gritar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Meto-vos na cadeia




Não te escondas atrás da máscara branca
Que mostras ingénua, pura, divinal.
Já não enganas ninguém
A máscara com que te escondes
É feita do vil metal.

Despe-te
Desce
Aos calabouços dos mortais.

O que é isso?
Perguntas com desdém.
Os calabouços para mim
Não são iguais aos demais.
Os crimes de que me acusam
Usam camisa alva pura
Tão branca como a minha máscara
Que me impedem a clausura.

O vil metal?
Mas que injúria!
Eu processarei quem me acusar
Nestes cargos que comprei
Muito me custou a ganhar.

Demitir-me eu?
Mas nem pensar.

O povo que se esmifre
Que se cosa, que se lixe
Que trabalhe sol a sol
E neste alto paiol
Cá estou eu para o roubar.

Não me insultem ou difamem
Não me teçam nenhuma teia
Porque olhem que daqui onde estou
Meto-vos a todos na cadeia.

Guardo


Esboçaste um sorriso triste mesmo quando falaste de coisas que aparentemente te dariam alegria.
Agora vejo que estavas triste. Tarde de mais eu vi!...
Sempre foste reservado.
Torpe, não pressenti.
Quando me envolveste nos teus braços e me disseste sem palavras o adeus, não sabia que seria um adeus, pensei que fosse um até qualquer dia.
Também tu não sabias; dois meses depois o soubeste.
Precipitaste-te para o abismo, ninguém sabe ao certo a razão...
Tantos porquês proferi, outros tantos ouvi.
Cerrei os lábios, rangi os dentes, numa mistura de raiva e desespero. Firmei os pés ao chão trémulo e sem te olhar, saí.
Tu guerreiro, desististe de lutar. Desististe com a tua razão mas que afinal seria insignificante se a tivesses partilhado.
Poderias ter vivido ainda tanto tempo!
Quão precioso tempo, quão necessário tempo!
Guardo no cofre dos meus sentires a tua voz, das conversas do que foi o nosso último almoço.
Guardo no meu corpo o calor do teu último abraço.
Não preciso de te dizer o quanto era teu amigo; tu sábe-lo.
Se a energia que tinhas vaguear junto aos meus passos, acerca-te de mim... para nos unir-mos em abraços.
Até um dia, meu amigo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Aos meus filhos


Cortei-te o cordão para te soltar
Quero livre tudo o que amo.
Cortei-te o cordão
Rente ao teu umbigo
Para te deixar voar.
Com o primeiro grito
Quando de mim saíste
Foste senhor de ti.
Com o pedaço de cordão
Que em mim ficou
Velo-te de noite em sonhos
Vejo-te através das neblinas
De dia.
Nas tuas pupilas vejo espelhados
Os temporais, as enxurradas.
Nos movimentos das tuas pernas
Adivinho as tuas felizes caminhadas.
Deixo-te livre
E, como a ua andorinha
Que em cada Primavera volta
Pressinto-te no meu beiral
Livre
Sempre.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Depois, regressa firme!


Pronta a levitar
Olhas o céu
Escolhes a nuvem
A mais fofa
Onde te possas deitar

O que vislumbras, mulher
A olhar para o teu céu?
Queres soltar-te
Do mundo que não é teu
Mas os teus pés estão presos
Como preso está
O teu olhar.

Solta-te, vai!
Em sonhos
Parte em viagem.
Mas antes da partida
Grita ao mundo
Destemida
Que o sentes imundo
Para ti injusto
Sem rumo.

Depois voa, mulher!
Solta os pés da rocha fria
Liberta-te dessa friagem
Segue os teus sonhos
Parte em viagem.
A seguir
Regressa firme
E luta.
Nada é impossível
Com o teu querer.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Enxurradas de sentires



Enxurradas de sentires te acordam
Nas orvalheiras do Outono
Te levam
Para granizos doutras trovoadas
E te banham
Nas águas de outras marés.


És um pássaro
Que vai e que vem
À procura do que tem
E nunca tem
E que nem na Primavera
Respirou o ar que chegasse
Nos remoinhos de vento
Desse tempo
Sem a ousadia para respirar
Em invencíveis ciclones
Que o revigorassem…
Que o enlouquecessem…


Amedrontavas-te
Com a ideia de que a colheita
Pudesse ficar desfeita.
Acabaste por respirar
Apenas uma doce brisa
Sonhando com remoinhos
Ciclones, enxurradas,
Ventos Norte, vendavais.


As folhas secas do Outono
Nos caminhos, em remoinho
Fazem os teus passos débeis.
O ar cortante a anunciar o Inverno
Arrefece o forno que te aquecia
E enregela o teu respirar.


Enxurradas de sentires te embalam…

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Voo



Sou aquela que procura paz
E que nem sempre a encontra.
Sou um puzzel onde há uma peça
Que não encaixa.

Resvalo…
A custo levanto-me e continuo a resvalar.
Em tudo resvalo
No tempo que não tenho e no tempo que me sobra
Nos caminhos tortuosos e nas alamedas perfeitas
Nos rios limpos e nos lagos lamacentos
Nos pisos gelados e nos caminhos secos.
Resvalo...
E embato contra mim própria.

Vasculho…
Há sempre algo que não encontro
Algo que se perdeu
Numa núvem de poeira.

Os olhos procuram, lacrimejantes
Em pestanejar constante.
Fixos e ausentes deixam de pestanejar
E de repente
Algo vislumbram
Num canto esquecido, amarelecido.
Será essa a peça que procuro
Aquela que me falta encaixar?
Tento arrancá-la à força
Mas não a posso despegar.
Desvio o olhar
E não há nada.


Caminho...
Continuo a minha vida
A paisagem onde falta
Um pedacinho de azul no céu.

Voo ...
Em direcção ao azul.

sábado, 3 de outubro de 2009

Não!!!!


....indecisa, segue um carreiro, sem saber o destino...
Caminha,... caminha e vacila.
Arrefece
É maresia
Pegajosa e húmida.
Estremece...
Com o ronco que vem do fundo
Da falésia gigantesca
Pára assustada e treme.
As vertingens enrolam-lhe o cérebro
E reclina-se para o abismo!
Não!!!!
A custo, recua...
A escarpa a pique
As pernas a tremer
O suor frio
O mar enraivecido

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Na minha cegueira



Quero mergulhar no verde dos teus olhos
Cobrir-me com o algodão das tuas pálpebras
Ser em ti barco à vela
Entregue ao sabor das tuas danças.
Quero mergulhar nas tuas lágrimas salgadas
Banhar o meu corpo no teu leito, esquecida
Perdida no tempo e no espaço, acariciar-te
Em leve vaivém, entrega apetecida.


Depois, quero ficar em contemplação
Seguir os teus contornos no horizonte
De olhar fixo, ausente, sem destino
Percorrer-te à deriva, entregue à sorte.
E, encandeada pelos clarões dos espelhos
Que me apontas e me cegam
Perder-me na minha cegueira, …..sem norte.

Seguidores

Arquivo do blogue