Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

para todos os poemas

Senta-te junto a mim, amigo
 e deixa que te ouça a dor
que tão bem disfarças.
Pássaro ferido,
continuas a voar,
disfrutando estações,
meses, dias,
cantando poemas,
distribuindo penas
em forma de risos.

Há aqui uma pedra
a servir de banco
neste jardim de urzes
onde sempre me sentarei
para procurar as palavras
para todos os poemas
e onde te sentirei

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Dum trago


 

 

Bebi-te dum trago
Mosto
Dum São Martinho
A saber a jeropiga
 

Bebo-te em goles pausados
Vinho
Sentindo o teu aroma
Degustando as castas
Que te fizeram encorpar
No volátil do açúcar transformado
 

Bebo-te ainda  em vapores
Destilado
E com receio de que se escapem…
Bebo-te dum trago

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Na ponta dos versos


Eram altas  madrugadas
e a noite tremia
fria nas tuas mãos
e das minhas
um corpo em cascata
feita  céu descia.

Os dedos!...
Os dedos mexiam
segurando a noite
madrugada fora
e  ao romper da aurora
os dedos cansados
bendiziam  o dia.

Despontava o dia na ponta dos versos
e os dedos travessos
como que a levitar
levantavam  as estrelas 
que pressentindo o dia
no céu recolhiam
e, de pálpebras pesadas,
fechavam  os olhos
para se irem deitar.

Dormiam as estrelas
mas sempre reacendiam… 

Preparam-se  madrugadas
na ponta dos dedos,
e acordam as estrelas
no seu cintilar
e na ponta dos versos
adormece a noite
empurrando os dedos
para  seu versejar.

 E a noite perdura no verso
até o sol despontar

 
An mirandés
 


Na punta de ls bersos 
Éran altas madrugadas
i la nuite tremie frie
nas tues manos i de las mies
un cuorpo an cachoneira
feita cielo decie. 
Ls dedos mexien
sigurando la nuite madrugada afuora
i al rumper de l´ourora
ls dedos cansados
benedezien l die.  


Assomaba l die na punta de ls bersos
 i ls dedos trabiessos cumo que a lebitar
a lhebantában las streilhas
que, pressentindo l die
ne l cielo arreculhien i, de piçtanhas pesadas,
cerrában ls uolhos para s´ir a deitar. 

 
Drumien-se  las streilhas
mas siempre riacendien… 


Porpáran-se madrugadas na punta de ls dedos,
i spértan las streilhas ne l sou relhampar
i na punta de ls bersos

drume-se la nuite
ampuxando ls dedos
para sou bersiar.
I la nuite manten-se ne l berso
até l sol tornar

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Enquanto és!...



Canta o amor
mesmo que as cordas apertem
os acordes da guitarra ...
e os ventos velozes passem
sem levar o teu cantar.
Há tantos beijos espalhados
pelo chão em desalinho,
há abraços amontoados
em antebraços, perdidos,
tantos olhares que se perdem
por olhares não merecidos,
tanto doce, tanto mel,
em frascos que estão partidos.

Canta o amor
mesmo que na guitarra
já haja cordas partidas
e a tua voz se lance no abismo,
sem rede, cantando sozinha.
Há tantas vozes que se calam
por não treinarem o canto,
tantos poemas se esquecem
por se lhes esvanecer a cor,
tantas letras e palavras
esquecidas em ruas mudas,
tantos silêncios que matam
a génese, ao desabrochar.

Canta o amor
antes que à fonte
se lhe seque a nascente.
Há tanta água que brota,
que corre à pressa e não cria
o que deveria criar.
Há tanta água que rasga
em vez da terra regar,
há tanto fruto largado
por não se saber saborear.

Canta o amor enquanto és!…

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

E a fonte!



Morro lentamente em cada fonte
que aos poucos agoniza em ais,
em cada rã a escavar à procura de dormida,

em cada sapo de pele gretada
buscando a viscosidade perdida.

Morro lentamente quando por ti passo,
 freixo,
sedento,
 estendendo as raízes à terra em chamas

e ardendo por dentro
antes que seja tempo
das folhas fazer  despedidas.

Ardo em chamas e morro lentamente,
 Ah!, se morro e como me  dói este morrer lento!…

Há um ressumar leve nos meus olhos
Que, por lhe faltar sal não chega a lágrima
e não chega a chuva por lhe faltar ousadia.
 Há um morrer lento no beiral
onde o ninho chora a partida da andorinha.

Morro lentamente neste tempo
em que as promessas não me agitam,
 por descrédito!


Morro lentamente quando vejo
 a sepultura que para mim cavaram,
mas juro, não deixarei
que me matem por inteiro!…

Como o freixo, a rã, o sapo, o ninho!
E a fonte!

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

De lã cardada se fez


 
De lã cardada se fez fio

Do fio se fez novelo

Do novelo teci o vestido

Que me cobriu com desvelo

 

Às vezes naquele rodar

O novelo torce o fio

E cego se dá um nó

Tão difícil de desatar

 

Puxo com força e rebenta

E também rebenta o vestido

Enche-se de nós o fio

Impróprio para restaurar

 

De lã cardada se faz fio

Envolto em nós, o novelo

Já não remendo o vestido

Que me cobriu com desvelo

 

Entra-me tantas vezes o frio

Por causa  daquele rasgar

Que eu me ponho a projectar

A confecção doutro vestido

De lã cardada se fez!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

E há este dia…




Mal me levantei da cama olhei-te fixamente nos olhos a desafiar-te, não para um duelo, pois que de espadachim não entendo, mas antes para te ordenar que te recolhas na tua toca e que não ajudes a fazer mais estragos.
O orvalho não ousa  nascer, as plantas não conseguem crescer e os fogos, esses medram infinitamente como se fugissem de ti.
Confesso que muitas vezes me agradas, quando, à beira mar, observo os castelos que ajudas a formar....

Hoje, aqui no planalto, secas-me o corpo e a alma, tal como fazes às aboboreiras de folhas fechadas, prestes a sucumbir aos teus braços.
Há uma poeira no ar a saltitar à tua frente; há uma secura na terra da horta arreganhando-te os dentes à medida que as gretas lhe nascem à tua passagem. E há este tempo sem chuva, nascentes sequiosas de um beijo molhado, mesmo que seja de nuvem carregada de rugidos e electrificada.
E há este dia em que me levantei cedo e me secou os lábios…

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Cravo

Em português (tradução)

Cravo

Por muita água que te ponha, cravo
Não sou capaz de te tirar um sorriso
Julgo deitar-te o que te chegue d´água
Mas quem sabe, a falta será minha

Tantas vezes te reguei e tu floriste
Abrias de noite e depois sorrias
Dizendo que para mim te abriste
E que o teu florir eram labutas minhas

Em tantas tardes duma cor dourada
Em tanta noite a fazer-se estrelada
Te cheirei cravo, t´acarinhei a pele

Vermelho cravo, volta-me a florir
Que o teu aroma eu volte a sentir
E na boca nasça sabor doce a mel

(Em mirandês)

Crabo

Por muit´ auga que te ponga crabo
Nun sou capaç de te sacar ua risa
Cuido botá-te l que te bonde d´auga
Mas quien sabe, la falta nun será mie

Tanta beç te reguei i tu floriste
Abries pula nuite i apuis sunries
Dezindo-me que para mi abriste
I que l tou florir éran lhabutas mies

An tanta tarde de quelor dourada
An tanta nuite a fazé-se strelhada
Te cheirei crabo, t´acarinei la piel

Burmeilho crabo, torna-me a florir
Que l tou oulor you torne a sentir
I na boca naça, gusto doce a miel

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Sem a minha canção


 

 

Se eu conseguisse destruir o dique

e as palavras livremente me escorressem,

tentaria escrever para ti uma canção,

com

 a música de gestos e palavras,

aquelas palavras que não digo,

que não ouço,

gestos que não tenho,

quando solitária caminho

ao lado duma multidão também solitária,

 sonâmbula,

olhando sem nada ver,

tocando sem nada sentir,

seguindo neste tempo

num egoísmo a não deixar abrir

as portadas e as cortinas

para que o reverdecer dos campos

 lhe entre através dos vidros.

 

Olha!

Há Primavera lá fora,

há flores a abrir,

hortas a crescer,

 indiferentes

à falta das palavras do poema!

 

Olha a margaça a falar com a papoila,

o lírio a abraçar a rosa,

a urze a beijar a giesta,

a violeta a crescer na friesta

 e a sorrir para os picos do tojo

 indiferente ao picar;

 uma aqui, outra ali,

algumas ou em multidão,

misturam aromas,

desabafam queixumes,

partilham alegrias e prantos

e,

quando de cortinas abertas

eu olho para além da vidraça

 eu vejo que sem a minha canção,

em harmonia elas nascem,

 crescem, murcham e morrem

e não sentem solidão

terça-feira, 26 de março de 2013


Ó povo

 

Como eu queria escrever a verde!

De coração aberto

 o faria.

Como te direi que está tudo bem

se há estômagos colados

se os colchões onde gente,

cada vez mais gente se deita

são casas de rua feita

 telhadas pelo céu,

e nem sequer o céu é quente?

 

Onde nos levarão os deuses

de  Olimpos em desordem?

 

Ó povo,

quem és tu,  povo,

nesta Europa em geral?

 

És escravo e chamam-te livre,

és livre de mãos atadas,

feridas e amordaçadas

por ditadura do capital.

 

Ó povo em escravidão,

tens a rua por algemas,

o servilismo por capa,

o desemprego por pão…

 

Ó meu país!

Se o  Poeta cá estivesse

do mar, talvez ele dissesse

Ser de lágrimas e podridão

quinta-feira, 21 de março de 2013

Nas asas dun sonho







Pedi ao vento
que me levasse nos cabelos,
em viagem sem destino.


O vento ouviu o meu pedido
e levou-me, em viagem;
primeiro em voo picado

depois em voo sustido.


Do mar recebi a aragem,
do sol recebi o calor;
olhei para a lua serena
e suas crateras observei,
detive-me no cintilar duma estrela
e a um cometa me segurei.

 
Ele exagerou no seu voo
e de tão rápido, enjoei.

 
Com um grito de desespero
roguei ao vento então,
que entrançasse os cabelos,
me prendesse
e me pusesse no chão!


Prendeu-me com suas tranças,
como em braço de guindaste
e em viagem alucinante,
na terra fez voo rasante.


dum sopro abriu a janela
dos meus olhos e do quarto,
e dizendo:
A tua viagem acabaste,
deixo-te aqui e eu parto.



Fechei a janela ao vento
e as minhas janelas também
recomecei outra viagem,
no sonho que a vida sustem.

 

(An mirandés)





Nas alas dun suonho


 

Pedi al aire
que me lhebasse ne l pelo
an biaige sien çtino.


L aire oubiu l miu pedido
i lhebou-me an biaige;
pormeiro an bolo dagudo,
apuis an bolo sustenido.


De l mar recebi l´araige,
de l sol recebi la calor;
mirei la lhuna serena
i sous galatones ouserbei;
pasmei-me ne l relhampar dua streilha
i a un quemeta m´assigurei.


El eizagerou ne l bolo
i, de tanta mecha, mariei.


Cun un bózio de zaspero,
amplorei al aire por duolo,
que antrançasse l pelo,
me prendisse
i me punisse ne l suolo.


Prendiu-me cun las sues tranças,
cumo an braço de guindaste
i an biaige stuntiante,
na tierra fizo bolo rasante.


Dun assopro abriu la jinela

de ls mius uolhos i de l quarto,
dezindo,
la tue biaije acabeste,
quedas eiqui i you scápo-me.
 

Cerrei la jinela al aire
i las mies jinelas tamien,
ampecei outra biaige,
ne l suonho que la bida susten.

terça-feira, 19 de março de 2013

Pai

Pai!


Tantas histórias por contar,
tantas palavras por rimar,
tantos poemas por nascer,
tantos frutos por colher...

Voaste duma história a meio contar,
daquelas que tu viveste,
de muitas que não escreveste
e que não sei acabar.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Como tu…


 

 
Se me ensinasses o modo de tecer o fio

e o tear não embaçasse nos nós da vida

e serena soubesse tecer um rosto como o teu

 

 Se me ensinasses a dizer calada

 e discreta eu dissesse

sem que a boca traísse o meu dizer

 

Poria um lenço, juro que poria!

 

Quiçá roxo como o teu

e ele me segurasse o tecido

de que o meu rosto se vai tecendo,

disfarçasse a aspereza dos cabelos

e me secasse as lágrimas vertidas

por não saber,

como tu,

… envelhecer

Rendilhados na pele


Que segredos esconde
o teu olhar roubado ao mar,
que feitiços enrolas nos cabelos,
que paixão ateias nas maçãs do rosto,
boca de romã contornada a amora
desejando beijos com sabor a mosto.

De mãos lisas a esculpir as tranças,
pareces menina a caminho da escola.
E,
se rendilhado não fora
o cetim que te cobre o rosto,
seriam de primavera as flores
escondidas em subtis desejos
ateando fogo ao teu olhar
e formando orvalho
na boca a pedir beijos

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Foste tudo, tudo és


 
…E,
 quando daqui observo os montes
 a mostrárem em curvas femininas
as suas cores e contrastes
e  os horizontes a parecerem mar altivo,
 guardo nas retinas o encanto,
 de nesse berço um dia ter nascido.
Guardo na pele os cheiros,
o calor e o frio,
 na boca retenho o sabor a mosto,
 no olhar a macieza do teu verde,
vestido de musgo a crescer
flores nas pedras do meu nascer.
Fecho a mão
e nela deposito as lembranças
daquilo que de mim fizeste,
doces, amargas,
macias, agrestes...

Tudo!
Tudo és e tudo foste
Sulco, alqueire e palha onde dormi,
lameiro onde chorei i ri,
trilho onde a pele se me queimou,
inferno que as entranhas me gelou,  
pão duro e fresco
que o diabo amassou,
flores em ramalhete
que de ti brotou

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013



 
Te peço!

 

Não me limpes as lágrimas que deslizam

Embaladas pela música a entrar na alma
Á noite 
Envolvida na serenidade do silêncio
 
Elas são a água para matar a sede

O tempero do alimento com que sacio a fome
O bálsamo a amenizar o ar triste e cansado
Com que se vestem os ventos
A soprarem nestes tempos… 

Mas há lágrimas que não temperam
Nem matam a sede
Nem a alma aromatizam
E, de tão secas
Só a esperança retraem
Em cenários de deserto.


Ah!
Seca-me essas lágrimas
Te peço!

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