Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

terça-feira, 29 de março de 2016

Quando me dizes, poema


Quando me dizes mar, poema,
dizes-me vaga em mar alteroso.

Não me digas assim, poema!
Pois tu não sabes que o meu nadar 
é feito de frágeis braçadas, 
respiração descompassada, 
braços e pernas desatentos,
corpo inábil, 
na iminência de afundar.

Se me quiseres dizer, poema, 
diz-me rio, 
apressado
ou calmo, 
vadio, 
ou constante,
esticando com suas águas, 
as ervas que lhe são margens, 
ou dormindo sobre os seixos 
que lhe são leito e
no espelho beijando o céu.

Diz-me também ribeiro,
apressado, 
à beira do precipício, 
suspensa a respiração, 
arrepios na espinha, 
e o abraço a dar-se,
o remoinho a formar-se, 
uma força a sugar
toda a espuma em alvoroço 
e aí sim, 
na loucura do rio, 
eu serei vaga alterosa, 
envolvente, 
apaixonada, 
sem pé 
nem chão.

sexta-feira, 25 de março de 2016

O poema inacabado



Tento segurar  o poema inacabado
e agarro-me às silvas,
ainda que saiba que as mãos ficarão rasgadas
e as pernas trémulas do medo
da fragilidade das hastes
perante o meu peso.
Procuro numa mirada rápida um arbusto
que me sugira ser mais robusto,
mas nada vejo.
Penso: Terá que ser o silvado 
a livrar-me da queda
no chão rochoso do despenhadeiro. 
Assim,
tomo-o como um amigo verdadeiro,
aperto  com força
e ele
tudo faz para me manter o brilho na voz,
a lua no olhar
e, nas mãos
o poema continuará
por  acabar.

terça-feira, 15 de março de 2016

Habitas numa rua de olhos tristes


Habitas-me no olhar mesmo em reflexo
e ouço o barulho da bengala,
surdo, frouxo,
a bater contra as agruras do granito,
duro, incerto,
o mesmo que galopaste nos tempos,
em que no teu olhar habitavam lírios
e no teu corpo floriam girassóis.
Habitas-me no peito em imensidões,
mais do que savanas,
em cores de picadas ocres e vermelhas.
Habitas-me,
mesmo que à mesa o teu prato esteja imaculado,
muito menos que a tua voz doce,
muito menos que a bondade do teu coração,
muito menos do que tu
e muito menos que tudo a que não demos voz.
Habitas numa rua de olhos tristes…


15.03.2016

quarta-feira, 9 de março de 2016

Uma Mulher entre tantas...


Marcou-te a vida o rosto.
O trabalho as mãos
No coração
há resquícios de desgosto, 
à mistura com perdão

Menina 
foste tão pouco, 
por falta de tempo de ser... 
Trabalho, choros, canseiras, 
embrulhados em brincadeira 
que mal conseguiste ter

Mãe, 
cresceste comigo, 
dando-me a teta na ceifa, 
quente, tão quente que ardia, 
no meu corpo pequenino, 
na sombra sempre fugidia, 
do carvalho ou do freixo

Enrolas os feijoeiros 
com sonhos que desenrolaste, 
olhas e tens agora medo,
dos caminhos que trilhaste, 
Apoias-te ao meu aconchego, 
contas dias, somas dores, 
sentes ainda alguns desamores,
de injustiças que te fizeram

Está o teu olhar sereno, 
quase a esboçar um sorriso, 
estão as mãos em desassossego,
o corpo quase que ri.
Fitas-me como que a dizer, 
ainda bem que te pari!

A ti mulher/mãe/menina
8/03/2016

domingo, 6 de março de 2016

Amizade, poemas, palavras - Apresentação do livro Gritos, Ecos e Silêncios, de Adelaide Monteiro, na CTMADL









Há dias em que uma pessoa rebenta de contentamento…
Nada é mais importante neste mundo do que a amizade, ter amigos que ao olhar-nos nos dizem: o que se passa hoje? Não estás bem; ou fica-te tão bem essa flor no cabelo! Mesmo que nos sintamos desajeitados e a ocupar demasiado espaço, as palavras dos amigos fazem com que nos sintamos umas estrelas.
No passado dia quatro, António Cangueiro apresentou o meu livro nesta casa, duma forma sábia e perfeita. No começo, quando disse umas palavras sobre Amadeu Ferreira e leu um poema da sua autoria, em mirandês, as lágrimas começaram-me a nascer.
É um poema que bem podia ter sido escrito para mim, pensei. Recordo o verso, “das rosas, guarda o perfume”.
Bem poderia ter sido escrito para mim, disse eu. O meu livro tem alguns poemas que lhe dediquei, a maioria escritos desde que adoeceu. Muito mais lhe dediquei desde que partiu, mas não estão neste livro, disse, depois de ter lido o dito poema, em português.
Senti um nó. Depois, respirei fundo duas ou três vezes e o vazio foi-se enchendo à medida que o apresentador ia falando. Uma cebola, dizia ele: umas vezes a abrir-se, casco a casco, a fazer chorar quem dela se ocupa para fazer o guisado, desencanto, raiva, revolta, para logo depois voltar ao centro da cebola: força, serenidade, amor, erotismo; outra vez, casco por casco.
Frases saídas dos poemas, umas flores a saltar dos olhos do seu dizer, a língua mirandesa a pular de contentamento por se estar a fazer ouvir, uma sala cheia, atenção redobrada para tudo entenderem, na língua que não conhecem mas minimamente entendem, pois pediram que fosse em mirandês. Uma palavra ou outra, o António repetia-a em português, por lhe faltar semelhanças.
Depois foi a minha vez de falar para os meus amigos: amizades desde a infância e da juventude, outras das “ terras do pôr do sol vermelho e trovoadas”, Moçambique; outras nascidas ao longo dos anos, no trabalho ou fora dele; outras que o mirandês fez nascer. Se por mais não fosse, valeu a pena este encontro, pois revi amigos que não via há anos. Outras amizades nasceram nessa tarde.
Em frente, a Praça de Touros transmite-nos calor através das sua cor tijolo, quente, bem precisas para o dia escuro e frio, umas vezes com pequenas abertas entre nuvens, outras, a chover.
Antes das seis as pessoas começaram a subir ao terceiro piso, degrau a degrau, daquele prédio antigo com elevador mas que só transporta quem tiver a chave que o faça mover-se.
Os carros buzinam nas ruas molhadas, e, em filas são como chichos em chouriças. Primeiro por ser hora de ponta, segundo por causa da chuva e de ser sexta-feira e para pior, molhada.
Abraços, beijinhos, conversas entre amigos e aos poucos a sala foi-se enfeitando de gente, a ocupar todos os lugares nas mesas redondas.
Elsa Moreira, responsável pela cultura, na Casa, começou por nos apresentar,
Fez-se silêncio na sala. Lá fora, os carros buzinam, a água bate nas janelas. O António começou a abrir os cascos da cebola e, mais nada se ouviu.
Eu, à medida que ia mostrando a estrutura do livro, fui lendo um poema de cada capítulo. Seguiu-se a Bina Cangueiro que com a sua pronúncia perfeita, sempre encanta, e o Leonardo. Leram ambos em mirandês. A Cremilde Esteves e a Romana, leram em português. Aplaudidos sempre.
Seguiu-se “ o Vinho do Porto” e algo mais, para que não caísse em fraqueza.
Era hora de jantar.
O Palácio Galveias, ali ao lado, não deu conta de que outra língua oficial fazia eco tão perto. Temos que oferecer livros em mirandês à sua Biblioteca, porque, seara que não se semeia, dela não se espere colher grão…
- Amisade, poemas, palabras
- Apersentaçon de Bózios, Retombos i Siléncios, na Casa de Trás ls Montes de Lisboua
Hai dies que un nien nel cabe, de tan cuntento star…
Nada ye mais amportante neste mundo que l´amisade, que tener amigos a mirar ne ls nuossos uolhos i a dezí-mos: que se passa, hoije? Nun stás bien; ou que bien te queda
essa flor ne l pelo!
Anque un se sinta que nien un aternate a acupar mais campo que debie, las palabras de ls amigos fázen cun que un se sinta ua streilha…
L atrasado die quatro, Antonho Cangueiro apersentou l miu lhibro, Bózios, Retombos i Siléncios, na Casa de Trás ls Montes de Lisboua, dua maneira tan sábia i porfeita, que ne l ampeço, quando dixo uas palabras subre Amadeu Ferreira i liu un poema del, an mirandés, las lhágrimas ampecórun-me a nacer.
Ye un poema que bien poderie tener sido screbido para mi, penso. Recordo l berso, “de las rosas, guarda l oulor”.
.Bien podie tener sido screbido a pensar an mi, dixe you. Ten l miu lhibro alguns poemas que screbi para el, l mais deilhes screbidos çque se achou malo. Muitos mais screbi, apuis que mos deixou, mas nun stán neste lhibro, dixe, apuis de haber lido l tal poema an pertués.
Senti un nuolo. Apuis resfolguei fondo dues ou trés bezes i l uoco fui-se anchendo al modo que l apresentador iba falando. Ua cebola dezie el: uas bezes a çcascá-se casco por casco, a fazer chorar quien deilha s´acupa pal guisote: zancanto, raiba, rebuolta, para lhougo apuis ir al centro de la cebola: fuorça, serenidade, amor, eirotismo; outra beç casco por casco. Frases salidas de ls poemas, uas flores a saltar ne ls uolhos de l sou dezir, la lhéngua mirandesa a poular de cuntenta por se star a fazer oubir, ua sala chena, atençon al drobo para todo oubíren na lhéngua que nun sáben mas que anténden, puis fúrun eilhes mesmos que la quejírun oubir. Ua palabra ou outra, Antonho repetie an pertués, quando, por nun tener asparecéncias cun l pertués, nun serie antendida.
Apuis fui you a falar para ls mius amigos. Amisades que yá bénen de la nineç i jubentude, alguas deilhas; outras, de las “tierras de çponeres burmeilhos, de atronadas” , Moçambique; outras, nacidas al lhargo de ls anhos, ne l trabalho i fuora del; outras que l mirandés fizo nacer.
Muitos amigos yá nun ls bie bai para un par d´anhos.Solo por isso baliu la pena haber screbido l lhibro, para star cun eilhes, pals abraçar…Outras amisades nacírun nessa tarde.
Delantre, la Praça de Touros trai-mos la calor atrabeç de las sues quelores de tejolo, calientes, bien precisas pal die scuro i friu, uas bezes cun sol a salir an racicas antre nubres, outras, a chober.
Un cacho antes de las seis de la tarde ampeçórun las pessonas a chubir al terceiro piso, scaleira a scaleira, daquel prédio antigo cun eilebador mas que só lhieba quien tenga la chabe pal fazer salir de l sítio. Ls carros nas rugas molhadas apítan i, an correlinas son que nien chichos an chouriça: a la ua, por ser hora de salir, a la outra, porque ye sesta i inda porriba, molhada.
Abraços, beisicos, cumbersas antre amigos i a pouco la sala fui-se anfeitando cun las pessonas a acupar todos ls lhugares nas mesas redondas.
Elsa Moreira, repunsable pula Cultura de la Casa, ampeçou a falar i apersentou-mos, a mi i al apresentador de l lhibro, Antonho Cangueiro. Fai-se siléncio na sala.
Fuora, ls carros apítan, l´auga bate nas jinelas. Antonho ampeçou a abrir ls cascos de la cebola i, a mais nada se dou fé.
You, al modo qu´amostrei l spinaço de l lhibro, fui lendo un poema de cada capítulo. Seguiu-se Bina Cangueiro que cun aqueilha pernúncia guapa, siempre ancanta i Lionardo, lírun an mirandés, Cremilde Estebes i Romana, an pertués. Todo mundo daba palmas.
Seguiu-se “l Bino Fino” i algo mais, para que nun caísse an fraqueza. Éran horas de ciar.
L Palácio Galveias, eilhi a la borda, nun se dou de cuonta, que outra lhéngua oufecial fazie eilhi retombo, bien acerquita… Hai que dar uns lhibricos an mirandés a la sue Biblioteca, porque, senara que nun se semeie, nun puode granar…
Adelaide Monteiro

Uma imensidão




Há uma imensidão de mar
entre o vermelho do crepúsculo
e o alvorecer dos sonhos
quando de olhos fechados te vejo
içando velas,
endireitando o leme,
levando o veleiro ao cais.


Há uma imensidão de crepúsculo
dizendo adeus ao meu adeus
quando o dia me morre nos dedos
e a lembrança se me atiça
nas silhuetas dos montes
onde me nascem poemas,
onde sinto o eco das águas
da ribeira em suicídio,
nas escarpas dum vale fundo
e me chegam ecos da canção.

E mais imensidão…
A aurora a despontar…

O rio a lançar-se ao mar,
o rouxinol a cantar
o salgueiro a balançar,
a ribeira a transbordar,
a espera, o rio,
espuma, ondas,

espasmos, cio…

terça-feira, 1 de março de 2016

Às ervas que sempre ervas verdes, serão...

BILINGUE
A las yerbas
que siempre yerbas berdes,
hán-de ser…


Yerba,
flor de chougarço i temielho,
medrados ne ls granicos de puolo i tierra
cun que fazies l mundo,
paixarico cun çubiaco i a cantar,
flor a beisar.
Stan las faias de las arribas
hoije mais sgúbias;
anque nun las quejisses ber cun uolhos tristes,
slhagrimonórun pula nuite anteira.
L zimbro medrado na peinha,
a quemer puls spinos,
stá hoije algo mais drobado,
algo mais triste,
anque quando por el passabas le dezísses:
Nada nien naide te bote abaixo,
tu sós la fuorça d´ampossibles,
la fuorça de la natureza an sous lhemites!
L mesmo riu,
las tues palabras
an retombos nas arribas...
A ti, Amadeu
1-03-2016


Erva,
flor de chougarço e tomilho,
medrados nos grãos de pó e terra
com que fazias o mundo,
passarinho
a fazer ninho i a cantar,
flor a beijar.
Estão os penhascos das arribas mais molhados;
mesmo que não os quiseses ver com olhos tristes,
choraram a noite inteira.
O zimbro medrado na peinha,
a alimentar-se pelos espinhos,
está hoje um pouco mais curvado,
um pouco mais triste,
mesmo que ao passar lhe tivesses dito:
Nada nem ninguém te derrube,
tu és a força dos impossíveis,
a força da natureza em seus limites!
O mesmo rio,
as tuas palavras em ecos nas arribas...
A ti, Amadeu Ferreira, um ano depois
1/3/2016

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