Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Os teus filhos




Os teus filhos não são teus filhos,
são os filhos ou filhas da ânsia por si mesma.
Vêm através de ti, mas não de ti, e,
embora vivam contigo, não te pertencem.
Podes outorgar-lhes amor mas não os teus pensamentos,
porque eles têm os seus próprios pensamentos.
Podes abrigar os seus corpos,
mas não as suas almas,
pois as suas almas moram na mansão do amanhã
que tu não podes visitar nem mesmo em sonhos.
Podes esforçar-te a ser como eles,
mas não os podes fazer ser como tu,
porque a vida não anda para trás
e não se demora com os dis passados.
Tu és o arco
com o qual os teus filhos são arremessados
como flechas vivas
no encurvamento da mão do arqueiro.


Khalil Gibran

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

É preciso aprender


As imagens têm chegado, reais, medonhas. De um momento para outro, após umas horas de chuva intensa o que era considerado como uma pérola do Atlântico reduziu-se a um monte de pedras e lamaçal. Muitas vidas ceifadas pela força das correntes, o fruto de uma vida de trabalho que num sopro se foi.
Tantas outras imagens destas e piores, nos têm chegado recentemente doutros pontos do planeta embora esta, porque a tragédia é nossa, nos toque mais profundo.
Outras tragédias deste tipo já ocorreram recentemente, felizmente menos gravosas em prejuízos materiais e humanos porque, por um lado era em regiões de planície que sendo preocupante pelo menos a água não atinge tão elevada velocidade que nas encostas com elevado declive, e por outro lado a pluviosidade não seria tão intensa. Estou a lembrar-me de Beja em dois mil e poucos, fenómenos cíclicos que um pouco por todo o lado vão surgindo.
Pensando nestes dramas nunca é demais falar dos grandes responsáveis por essas desgraças para a lém da própria natureze: Mão humana, a eterna ganância, o compadrio e coisas do mesmo tipo, onde o dinheiro anda sempre de mão dada com o restante. Ribeiras às quais lhes foram roubados os leitos e que enraivecidas recuperam o que lhes pertenceu, levando à frente tudo quanto encontram.
Porquê?
Porque as cidades e outras localidades foram projectadas para situações normais, como se as forças da natureza se comportassem sempre duma forma normal, porque se construiu onde nunca se devia à cata do lucro.
O incumprimento das normas, quando elas existem, a troco de dinheiro ou compadrios, muitas vezes de natureza política como sucede na Madeira. O eterno problema da currupção...
É um facto que mesmo tudo feito dentro da legalidade, mesmo seguindo um plano de ordenamento do território adequado,o plano director municipal à risca, o drama havia de existir, mas incomparávelmente menor.
Será que o AJJ não retirará destes dramas alguma aprendizagem e que mais não seja se torne menos arrogante e mais justo para todos os madeirenses e os trate por igual, mesmo àqueles que não lhe dão o voto? Receio que não e infelizmente julgo que não me engano.
Assusta-me sentir o quão somos frágeis e impotentes perante as forças da Natureza e assusta-me também o facto de quem tem a obrigação de governar com seriedade a maior parte o não faça...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A medida do amor



Perguntaste-me um dia
Quanto o amor media.

Não te soube responder.
Seja lá com que for
Eu não tenho nada
Com que meça o amor.

O amor é céu.
O amor é oceano
Um verde de esperança
Em ondas tecido.

Mas também há dor
Delírio e loucura
Nas danças do amor.

A medida do amor
Eu não ta sei dar.
O que te posso dizer
É que o amor é uma flor
E para não morrer
O tens que regar.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Fico-me pela sangria



Um pouco de sal, água e vinho branco; alho e coentros para dar aroma, um pouco de aguardente para dar coragem e frontalidade, um naco.

Deixei-o cozer em fogo esperto, como convém, para não se perderem os sucos, afim de que ficasse tenro e terno.

Segui à risca a receita para que tudo saísse na perfeição para depois escrever um conto.

Tanto quiz que apurado ficasse, o cozinhado esturrou-se e na cozinha tresandou a alho e coentros.

Do álcool da aguardente nem a mais pequenina porção de vapores!
A água e o vinho secaram e o molho ficou excessivamente salgado.

É no silenço que as palavras me saiem dos poros.
O ruído do esturricar roubou-me as condições para a escrita. Além disso, julgo que de tudo isto um conto não sairia, ficando-se tão somente por um dia sem almoço.
Desisti e fiquei-me pela sangria.

...Vou merendar!
Até já.

...Caminha







Hoje,
mesmo que o dia seja triste
falo-te de esperança.
Hoje,
mesmo que o dia esteja escuro,
falo-te de confiança.
Hoje,
mesmo que no campo haja gelo,
falo-te de aconchego.
Vai!
Vai ao jardim e
lá encontrarás as magnólias,
flores sedutoras de insectos,
só elas,
amores primeiros sem rivais
que chamam a Primavera,
tempo antes das demais.
Só elas!
Serás magnólia se quiseres.
Única.
Coragem a brotar dos caules despidos,
calor sem agasalhos.
Depois, acende as centelhas
que moram nos seus olhos felinos
e, com elas,
hás-de derreter a geada dos dias,
dos insensatos dias,
das escorregadias noites.
Única,
...caminha.




Agradeceu-me com um sorriso

Descalcei-me dos medos e caminhei no escuro da noite. Gelada noite, vento a entrar-me por entre os buracos de um xaile de renda.
Tremia e a minha pele arrepiava-se. Passei as mãos pelo corpo, com força, para acalmar a sementeira de pele de galinha que se espalhava.
Por um instante parei e reflecti: Que faço aqui? Porquê que teimo e continuo enfrentando temporais gélidos se eu não tenho agasalho? Porquê que simulo descalçar-me do medo se trago o medo agarrado a botas de cano alto?
O vento sibilava cada vez mais, cada vez mais frio e o céu cada vez mais escuro. Nem uma única estrela, nada reluzia que não fosse o meu cigarro que me fez companhia em grandes bufaradas de quem travou o fumo, até o fundo dos infernos de si, pulmões negros de alcatrão, olhos raiados de sangue da tosse que asfixia.
Olhei para o cigarro que ardia quando lhe batia o vento à medida que ia gritando:
Para quê que acendi esta merda que só me faz merda cá dentro!? Quero lá saber, que se lixe o dentro e o fora, que se lixe a noite escura que me assusta, o frio que me mata. Tenho um cigarro por companhia, por agasalho, por lamparina.
Meti a mão num bolso dos buracos do xaile, de onde tirei outro cigarro. Acendi-o, aspirei-o com força para dele tirar sustento, mastiguei-lhe o fumo, como se fosse um pão que me matasse a fome.

Continuei reclamando:
Quero lá saber do cigarro, da porra do pão, do frio, do gelo das minhas entranhas, das minhas rotações descompassadas, das putas das pernas presas... Tenho um medo do caraças, do escuro, das sombras, aqui neste ermo escuro onde nem eu própria faço sombra…

Aspirei uma vez mais o cigarro para ver os dedos trémulos.

Foi por causa do cigarro aceso que me descobriste na noite.

...

Pareceu-me ouvir vozes lá fora, de alguém que falava agitada.
Abri a porta, mandei-a entrar e dei-lhe guarida. Embrulhei-a numa manta de lã para que se descongelasse ao pé da fogueira enquanto me foi contando a sua história, aquela história.
Aos poucos, ganhou brilho e força e depois dormitou.
A seguir, peguei nela, lancei-a no escuro e, com um sopro, ajudei-a a elevar-se no céu.
Quando olhei para cima, lá estava ela, cheia, resplandecente de luz e, aos poucos, a noite deixou de ser noite escura.
Fui-me deitar.

Indiscreta olhou-me através da cortina de seda, acenou-me e agradeceu com um sorriso.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sim, eu sei!




Sim, eu sei
que depois do ocaso,
outro dia vem.

Sim, eu sei
que depois do vermelhão
com que se despede o dia,
outro dia virá,
outra luz voltará,
roxa, laranja em clarão.

Sim, eu sei…
Mas também sei que há noites
em que o corpo
me treme de frio
e tenho medo da escuridão.

Sabes sol da tarde?
Não posso contar com o luar
porque de fases é a lua.
Umas vezes doce a amar,
outras vezes dura e crua.

Por isso sol do poente,
tão vermelho de paixão,
não me deixes entregue à noite
tira-me desta escuridão.

Dizes-me
que tens pouca luz,
sol poente?


De pouca,
eu estou carente!
Amanhã,

ao amanhecer
prometo que te vou ver,
bem cedinho a nascente.


sábado, 13 de fevereiro de 2010

Docemente




Nos olhos de avelãs onde me vejo
há reflexo da sede que se sente.
Tu nos meus a beber ensejos,
para mais beberes na minha sede,
a chuva dos nossos desejos.

Os corpos que se juntam
na pele que sabe a mar.
Os braços que se encontram,
mãos inquietas, rodopiar
em sufoco dos nossos beijos.

Calor a fundir-se em arrepios
e as bocas em devaneios.
Dos silêncios aos gemidos,
no brotar das fontes e enleios
dum vai vem de almejos.

Os corpos a escalar ao cimo

para em queda livre virem a descer.
Nos corpos, a nudez vestida
e a tua mão a adormecer
docemente nos meus seios.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Para onde queremos caminhar?




Uns olhos negros pedem ajuda.
Lindos, expressivos numa expressão triste. Uma imensa ilha num rosto negro, corpo de menino marcado pela dor: uma alma tão inocente a sofrer, um corpo tão pequenino a gemer silêncio. Aguenta firme sem que a primeira lágrima engrosse e um rio desça cara abaixo apesar das dores que deve sentir quando, um jovem português lhe faz o penso para lhe tratar e tapar as chagas. Está só, não tem com quem partilhar as lágrimas e talvez por isso não chore. Os pais já não estão para lhas limparem.

Outro, ao colo da mãe sentada no chão da tenda transformada em hospital, chora com dignidade na dor, a de um menino que cedo se habituou a sofrer.
Pronto, já acabou, disse o jovem médico português à medida que ia dizendo à mãe que seria aconselhável fazer uma radiografia ao joelho. O rio de lágrimas evaporou-se de imediato, nem mais uma, nem mais um soluço lhe ficou no peito.
Meninos corajosos, uma coragem que lhe vem de dentro das entranhas e que cresceu como grama em solo seco, como um cacto no deserto.

Espírito de entrega, amor ao próximo, altruísmo e um sem fim de adjectivos que só podem ser usados para definir pessoas com uma formação baseada em valores que infelizmente estão em vias de extinção. Assim é esse médico que, tal como outras pessoas se entregam em doação sem que nada queiram em troca e que mais não recebem senão o sentimento de gratidão dum povo destroçado.
Será que nem catástrofes com0 esta fazem com que as pessoas reflictam quão pequenos somos, perante as forças da natureza ou perante um conflito armado sério.


Depois, comecei a pensar no terramoto e na guerra aberta que se está a travar em Portugal, onde altruísmo e espírito construtivo são coisas em desuso.
Um terramoto causado pelo homem, não um terramoto a abanar o físico, mas a abanar as mentes.
Acontecimentos a exceder os limites do razoável, pessoas a exceder os limites das suas funções... Falta de respeito pelas instituições em que bombardeamentos se cruzam em todas as direcções sem haver respeito algum pelo alvo, seja ele quem for, nem respeiro pelos cidadãos.
Os políticos a agirem levianamente, palavras e actos sem serem previamente ponderados e sem medir as consequências dos mesmos, falta de transparência e rigor, causando desilusão àqueles que os elegeram.
Uma comunicação social sem regras, tendenciosa na sua maioria que, a coberto da liberdade de imprensa comete barbaridades, como se dever público de informar fosse o pôr a nú o que é do domínio privado, atacando e acusando mesmo que nada esteja provado, num desrespeito total pelas instituições.

Em que país vivemos e o que esperamos com estas guerrilhas de emboscada?

Para onde queremos caminhar se já estamos numa situação económica tão débil, com um défice elevadíssimo, com as empresas de rating a colocarem Portugal como um país quase incapaz de honrar os seus compromissos, fazendo com que os juros pagos pelos portugueses aumentem exponencialmente?
Para onde queremos caminhar com querelas que mesmo que pertinentes, nos fazem esquecer os verdadeiros problemas do país, os problemas sociais decorrentes do desemprego, as pensões de miséria, a fragilidade das instituições de segurança social?

Não querendo ser excessivamente dramática, foi num clima semelhante ao que hoje se vive que a primeira República caiu e originou cinquenta anos de ditadura.
Também nesse tempo havia uma situação económico desastrosa, desrespeito pelos Órgãos e Instituições do Estado, desrespeito e descrédito pela Justiça, descontentamento e conflitos sociais.
Para o bem e para o mal, os acontecimentos históricos repetem-se.
A seguir, sabemos bem o que foi a falta de liberdade e a censura. Pelo menos as pessoas da minha geração sabem-no.
Era bom que toda a gente soubesse. Se assim fosse, não se levantariam de ânimo leve as vozes, pelo menos, sem que fosse provado por quem de direito.
Também em democracia tem que haver regras e essas regras têm que ser extensivas à comunicação social. A entidade reguladora da comunicação social tem que ser um organismo actuante para que a troco da liberdade de imprensa não se cometam excessos dessa liberdade. Os excessos são sempre maléficos, venham eles de que lado vierem.

Era bom que, em breve, este clima de crispação em todos os domínios terminasse e que todos arregaçássemos as mangas com vista à construção de um futuro melhor para nós e para as gerações vindouras, para que futuramente não haja meninos com sorrisos tristes.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Para quê tantas palavras?!!!

Queria escrever...
Queria escrever coisas sonantes,
que me enchessem de vitórias,
mas a tinta do tinteiro entornou-se
num terreno
sedento de protagonismo
e a minha pena
não tem fonte de glórias.
Já não tenho palavras!...
Já não quero mais palavras!...

As últimas que desenhei
entupiram-me a caneta,
em teias emaranhadas.
Não foi por censura, não foi por medo
nem em prostituição vendidas,
foram elas mesmas,… as palavras!

Desejaram no seu silêncio,
um respirar suspenso,
gritos calados,
ais sustidos,
sons não pronunciados.
Amadurecidas,
banhadas em bom senso,
passaram a ser muito mais que palavras…



num país que querem fazer com palavras...


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Numa fonte a brotar





Foste-te...
Como se fosses
Um cavalo de corrida
Em arenas sem fim
À procura de vitórias.

A galope te perdeste
Caminhando por bosques
Onde não tinhas cadeado
Para prender memórias.

Caminha...
Agarrada aos teus braços
A que um dia se segurou
Para remar em remoínhos
E em teus beijos se afundou.

Espera-te...
No colo do cansaço
Segurando nas mãos
Os sonhos que restaurou.

Espera-te...
Nas escadas da alma
Para que, degrau a degrau
Vás subindo
Em escalada verdadeira.

Não te importes pela água
Que devagarinho escapou
Pela ribeira.

Espera-te...
Numa nascente a brotar.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Mulheres:

Aos vinte, temos o mundo aos pés
Aos trinta, nas mãos
Aos quarente, em tudo
Aos cinquenta, no coração
Aos sessenta, na sabedoria

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

À distância de um clik

A Internet aproxima as pessoas e de que modo.
Amigos que algures, por algum desencontro da vida se perderam, endereços anotados e telefones que se foram com uma simples mudança de casa, o desalento, as saudades, o sentimento de culpa por não ser suficientemente organizado para que nada se perca. E perde-se, perde-se muitas vezes, o papel e o fio condutor dos encontros, para que a amizade perdure.

Aconteceu o ano passado quando por curiosidade escrevi no Google o nome de uma cidade, daquelas que nos deixam marcas indeléveis e que nunca mais visitei nem sei se um dia voltarei a pisar, o país, os sítios que sinto como berço.
À distância de um clik percorreram-se milhares e milhares de quilómetros, países e mais países, oceanos, desertos.

Os olhos brilharam perante o écran cheio, informação diversa e sites. O site, antigos alunos e professores da escola tal, espicaçou-me a curiosidade. Tinha lá sido professora, o primeiro ano de docência. Ao fim do ano lectivo, foi a separação. Um corte com poucas despedidas, os alunos que ficaram, a maioria dos amigos que não voltei a ver, os colegas que acabei por esquecer, como se, de peças de mobiliário fora de moda se tratasse.

Entrei no site. Espasmos percorreram-me o estômago e os intestinos com a ansiedade. É sempre assim, voltas e mais voltas que o nervosismo miudinho me dá nas tripas.
Listagem de pessoas, uma ou outra que conhecia, uma amiga a quem mandei uma mensagem. As mensagens podem ser lidas por toda a gente, o que de certa forma facilita os contactos e o rebuscar de afectos, já que as pessoas que ali entram têm os mesmos objectivos e ao fim ao cabo cria-se uma cadeia de solidariedade.
Uns a viver aqui em Portugal, outros fora do país, fomos chegando uns aos outros, ao todo menos que uma dúzia. Excelente, depois de mais de trinta anos!

Comecei a sentir cheiros que vinham ter comigo: de especiarias, de flores, de frutos, de maresia, de leite de coco que usávamos para um bronzeado mais castanho dourado, o mesmo sem tirar nem por que se usava para aromatizar o caril na hora de servir, exactamente igual, saído do coco fresco ralado e espremido. O Coppertone fazia pouco mais e era muito mais caro.
Vi-me com shorts e uma pequena blusa, reduzidíssima mesmo, as xanatinhas de enfiar o dedo e que ainda agora adoro calçar do mesmo tipo, pela liberdade que os meus pés sentem, a bata branca que tinha que usar na Escola nesse tempo de liberdade restrita, curta, alva, tão alva como a saiínha fresca de cetim com renda na baínha que usava por baixo, para que os alunos não me vissem o que não deviam quando eu, ao levantar o braço para escrever no quadro, a bata também levantava. Para cima era a bata a única peça de roupa que usava, de algodão puro, adequado ao calor húmido que se sentia.
Tantas, tantas lembranças!
O som da noite vindo dos batuques aos fins de semana no Chipangara, sons que me chegavam desse bairro de africanos, nas proximidades do bairro onde eu morava, extraordinariamente melodioso, ritmado e quente, tão quente como a noite tropical.

Telefonemas a seguir, emails trocados, fotos, a mesma voz, os corpos e os rostos diferentes com as marcas dos anos e dos desencontros que fazem com que se mostrem as rugas e os quilos a mais de uma vez só, sem que aos poucos nos habituemos.
Mas ah felicidade, estamos vivos!...
Estamos vivos por dentro e por fora, neste mundo global que a Internet nos proporciona e em que tudo está à distância de um clik.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Abre de par em par

Deixa que eu entre no teu silêncio,
para que no teu cerne,
desvende mistérios e descanse.
Amanheça eu aí,
encostada a uma gota de orvalho,
cristalina, reluzente,
com reflexos lilases e alaranjados
dum amanhecer de Agosto e,
lá ficarei o dia todo, a vida toda.
Abre-me o ferrolho da porta do templo,
esse, onde as gestações são eternas,
as palavras nascem espontaneamente,
as curas se fazem sem milagres e,
de onde brotam mananciais
capazes de regar estepes,
restolhos, desertos.
Abre-me os portões desse jardim de estrelas,
onde constelações são bailarinas
e a Via Láctea uma orquestra.
Abre de par em par
as portas do paraíso que tu és
à minha alma vagabunda.

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