Acerca de mim

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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

À distância de um clik

A Internet aproxima as pessoas e de que modo.
Amigos que algures, por algum desencontro da vida se perderam, endereços anotados e telefones que se foram com uma simples mudança de casa, o desalento, as saudades, o sentimento de culpa por não ser suficientemente organizado para que nada se perca. E perde-se, perde-se muitas vezes, o papel e o fio condutor dos encontros, para que a amizade perdure.

Aconteceu o ano passado quando por curiosidade escrevi no Google o nome de uma cidade, daquelas que nos deixam marcas indeléveis e que nunca mais visitei nem sei se um dia voltarei a pisar, o país, os sítios que sinto como berço.
À distância de um clik percorreram-se milhares e milhares de quilómetros, países e mais países, oceanos, desertos.

Os olhos brilharam perante o écran cheio, informação diversa e sites. O site, antigos alunos e professores da escola tal, espicaçou-me a curiosidade. Tinha lá sido professora, o primeiro ano de docência. Ao fim do ano lectivo, foi a separação. Um corte com poucas despedidas, os alunos que ficaram, a maioria dos amigos que não voltei a ver, os colegas que acabei por esquecer, como se, de peças de mobiliário fora de moda se tratasse.

Entrei no site. Espasmos percorreram-me o estômago e os intestinos com a ansiedade. É sempre assim, voltas e mais voltas que o nervosismo miudinho me dá nas tripas.
Listagem de pessoas, uma ou outra que conhecia, uma amiga a quem mandei uma mensagem. As mensagens podem ser lidas por toda a gente, o que de certa forma facilita os contactos e o rebuscar de afectos, já que as pessoas que ali entram têm os mesmos objectivos e ao fim ao cabo cria-se uma cadeia de solidariedade.
Uns a viver aqui em Portugal, outros fora do país, fomos chegando uns aos outros, ao todo menos que uma dúzia. Excelente, depois de mais de trinta anos!

Comecei a sentir cheiros que vinham ter comigo: de especiarias, de flores, de frutos, de maresia, de leite de coco que usávamos para um bronzeado mais castanho dourado, o mesmo sem tirar nem por que se usava para aromatizar o caril na hora de servir, exactamente igual, saído do coco fresco ralado e espremido. O Coppertone fazia pouco mais e era muito mais caro.
Vi-me com shorts e uma pequena blusa, reduzidíssima mesmo, as xanatinhas de enfiar o dedo e que ainda agora adoro calçar do mesmo tipo, pela liberdade que os meus pés sentem, a bata branca que tinha que usar na Escola nesse tempo de liberdade restrita, curta, alva, tão alva como a saiínha fresca de cetim com renda na baínha que usava por baixo, para que os alunos não me vissem o que não deviam quando eu, ao levantar o braço para escrever no quadro, a bata também levantava. Para cima era a bata a única peça de roupa que usava, de algodão puro, adequado ao calor húmido que se sentia.
Tantas, tantas lembranças!
O som da noite vindo dos batuques aos fins de semana no Chipangara, sons que me chegavam desse bairro de africanos, nas proximidades do bairro onde eu morava, extraordinariamente melodioso, ritmado e quente, tão quente como a noite tropical.

Telefonemas a seguir, emails trocados, fotos, a mesma voz, os corpos e os rostos diferentes com as marcas dos anos e dos desencontros que fazem com que se mostrem as rugas e os quilos a mais de uma vez só, sem que aos poucos nos habituemos.
Mas ah felicidade, estamos vivos!...
Estamos vivos por dentro e por fora, neste mundo global que a Internet nos proporciona e em que tudo está à distância de um clik.

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