Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

NADA MAIS INTERESSA



 Nada mais interessa
Ao tempo
Quando as folhas lhe caem suaves
Melodias na pele descendo
Carícias de Outono sábio
Trazidas por doce vento

Nada mais interessa
Ao olhar
Quando o caminhar
Se faz contra o nevoeiro
E mais adiante o sol se ergue
Brilhando o arvalho nas silveiras


Nada mais interessa
Ao coração sedento
Quando se abre numa fonte
Dum sopro aparta o limo
Da água a mostrar-se límpida
E em pequenos goles bebe

Nada mais interessa…

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Boas vindas


Bateu-me à porta de mansinho como quem não me quer acordar mas ainda assim, não quer deixar de me ver. Vinha radiante, com um brilho muito especial no olhar.
Esfreguei os olhos, estiquei os braços bem para cima e saltei da cama.
As esplanadas estão cheias de gente, gente que toma um refresco enquanto seca o fato de banho, gente que simplesmente quer apanhar sol enquanto lê um livro eleito para aeste verão, em qualquer esplanada de café.
Os freixos dos jardins, esses coitados tentam segurar as últimas folhas, a todo o custo as seguram, na esperança de retardar o sopro de ar frio a passar-lhe no corpo nú.  No centro da avenida, as árvores continuam verdes e esvoaçantes. No jardim lá ao fundo, o ocre e o amarelo predominam, iluminados por uma luz que a cada passo lhes faz fechar os olhos e virarem-se para o lado norte, com medo de ficarem demasiado tostadas.
Chegou-me o cheiro a mosto nos cantares saídos da televisão  que me lembraram as vindimas, chegou-me  o perfume das maçãs  colhidas em cestas de vime e espalhadas no chão da velha casa, sobre as tábuas largas de madeira. Chegou-me o sabor das compotas, a lembrança dos licores a macerar na despensa para ser feito no Natal e enfrascado a preceito, em frascos de vidro transparente.
Calcei uns sapatos rasos de pele fina, vesti umas calças de licra e uma túnica de algodão, daquelas que me serviam de vestido  na altura em que ia à praia.  
Tomei o pequeno-almoço no terraço e ao fim bebi o café que não dispenso pela manhã. Peguei na trela e, depressa a minha cadela percebeu que íamos dar uma bela caminhada.
Bem vindo Outono!!!

domingo, 25 de setembro de 2011

Com lágrimas mais salgadas e folhas mais ocres


É o começo do Outono, também o meu Outono,
 quando as folhas se me vão aninhando no regaço,
a pele se vai tornando mais fina, e,
 perdida a textura de seda lisa
 vai sendo engomada por aprendiz,
com vincos onde não devia.

Foi neste Outono soalheiro que te vi,
te conheci,
 tu que foste a princesa que eu não pude ser,
por causa da imensidão dum mar,
e do barco onde não me deixaram embarcar.

E assim cresci,
 como pude crescer,
 na medida em que os trabalhos de menina
 me deixaram ser,
quiçá menos menina.

Muitas vezes me questiono que pessoa seria
 noutro sítio que desconheço,
 onde os vales seriam diferentes do vale do Molinico
que me fez verter lágrimas
enclausuradas entre dois montes
e,
sem o ar que me bastasse.

Sabes?
Senti uma ponta de ciúme e de inveja,
quando me disseste que o  adoravas,
por ser doce e lindo, lindo
e te chamava princesinha.

Como eu gostava de ter sido princesa,
também eu princesa
naqueles olhos vivos cor de café!

As folhas vão-se-me soltando nesta manhã
e as lágrimas vão-me caindo peito abaixo
e molham o colchão ocre
que se aninha no meu regaço!

Agora
Já não posso ouvi-lo
E é por isso que as lágrimas me são mais salgadas
E as folhas mais ocres…

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mergulhando num abismo

Esta noite
vi que te esvaías em sofrimento
e eu
nada podia

De noite
na escuridão
quiz te tocar
com um dedo que fosse

O dedo não cresceu
a espessura dum cabelo
e esse cabelo seria o bastante

Lanço um grito que sai mudo
tento correr
tento voar

Mas ah!
pernas inertes
asas presas
para que vos quero eu!?

Porque será que o meu sono
em vez de  descanso
me faz mergulhar num abismo!?

Felizmente o sol
abriu-me a cortina
e
num instante em pestanejos
abri os olhos em bocejo
e foi mais um dia
a nascer
e uma noite que termina

No mar sereno

Talvez  to diga um dia
ou talvez não.
Olhei nos teus olhos
e vi-me no reflexo
dum mar sereno.
Lá fiquei a navegar
sem canoa
nem remos
sem cristas de ondas
nem murmúrios
para te balbuciar

Uma lágrima desperdiçada

Deslizou-me uma lágrima
peregrina
sozinha
uma lágrima a menos
dentro de mim
uma lágrima gasta
por imprópria razão.
Não gastarei mais lágrimas
por qualquer desilusão!

Limpei-a
do rosto queimado
pelo sal em cristais
e
no lenço de seda
com que a limpei
lancei-o ao vento
para não mais a ver.
Não mais verei a lágrima
de desilusão, de sofrer!




Hei-de tê-las no rosto
de riso, de alegria
e com elas orvalhar
os lábios e o peito
e
com o lenço na mão
ensopado de lágrimas
limparei a minha alma
e o meu coração.
Não mais chorarei lágrimas
de desilusão!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

No vazio


Sinto-te aqui  neste dia
Nesta hora, neste beijo
Que me sobra
Neste lençol onde a dobra
Não se desdobra
Nem a cama se desmancha
Nem se vinca
Nem desvinca
O travesseiro à espera
Desespera
E os meus braços abraçam
A cama vazia... 

domingo, 4 de setembro de 2011

Gostava...

Gostava que me viesses visitar logo pela manhã e me trouxesses um ramos de flores orvalhadas, colhidas numa horta, multicolores, crescidas ao lado dos feijoeiros e das cebolas, misturando o seu perfume com o odor forte dos tomateiros.

Sabes?!... há hortelões que são poetas e amantes do belo. E há-os também pintores.
Pintam as suas hortas como quem pinta telas em nuances frescas e coloridas. Num lado o verde esvoaçante e vivo dos feijoeiros de hastes altas, depois, um verde sépia das cebolas e das beringelas, logo a seguir, imponente, o verde escuro dos pimenteiros. Na ponta, espraia-se o verde das aboboreiras matizadas de flores amarelas, onde as abelhas laboram intensamente, e,  numa ponta qualquer, florescem cécias, flores que aqui são conhecidas por marianas.

Tal como nas hortas dos pintores, também há flores nas hortas dos poetas, só que, nestas, os legumes dançam, esvoaçam, como se fossem letras à procura da sua palavra, da sua estrofe, do seu poema. Bailam em bicos de pés para não apertarem a terra acabada de regar e para não sujarem o poema.

Gostava que passasses logo de manhã pelas hortas dos poetas e nelas colhesses um punhado de poesia.
A mim, presenteia-me com as flores orvalhadas.
A poesia, vai-a espalhando pelas aldeias, em acenares, em boas tardes, em sorrisos. É que, há hotelões nas aldeias, onde a poesia deixou de sersentida, há muito!...É que, os caminhos até à horta,  têm um piso incerto, e, os hortelões-poetas deixaram de lhes sentir a poesia dos passos firmes com que escreviam os caminhos.

Seguidores

Arquivo do blogue