Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Como me dói



Sinto um cansaço terrível que me tolhe os passos.
Tenho os músculos com espasmos que me contraem os tendões.
Quero caminhar, mas esta inércia de vagalume gelado prende-me, os pés estão frios, a boca dormente, a língua presa.
Quero chamar-te mas tu não olhas para trás, não ouves. É que da minha boca sai uma brisa leve, tão leve, tão gasta e o som das minhas palavras que fica retido no meu peito, não chega a ti.
Quero lançar as palavras numa folha branca para ta mandar pelo vento, mas a tinta não adere, esguicha e mancha-me o vestido, mancha-me o corpo.
Quero compor uma melodia com o som das palavras que não saem, mas a pauta ficou desfeita num vendaval e as teclas do piano estão partidas.
Como me dói esta impotência, como me dói o tempo!
O tempo, sempre o tempo!...
O tempo que não tenho, o tempo que me mata, o tempo que há-de vir, sempre o tempo.
Tenho uma nuvem de poeira branca depositada pelo tempo, em cima dos ombros, no xaile negro. Soprei a poeira para com ela te mandar, em neblina, o aroma do meu corpo. A poeira petrificou e não fez neblina e eu tenho os ombros doridos, cansados.
Onde estás, condor de asas fortes para me levares para longe?
Onde estás tu, águia de bico forte, para me partires os pedragulhos que me imobilizam o corpo?
O condor não veio, a águia também não.
Luz difusa inundou-me o quarto e acordei do pesadelo.
Abri a janela, o veda luz e saudei o sol radioso que prometia um dia quente.
Saudei a vida, saudei o tempo, cantei!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Reflexos

Porque me enganas, espelho
E me mostras diferente
Daquilo que sou?
És fútil, indiferente
Vives de aparências
Pedes-me cosmética
Que não sei usar
E nem mesmo transmites
A essência
Do meu verdadeiro olhar.
Mentes-me
Incorrigível mentiroso.
Asno, vaidoso
Que me tira o sonho
Que me faz agitar.
Porquê que manhoso
Não mostras a pureza
Da minha alma
Do meu olhar?
Contigo
Sinto-me intimidada
Faço caretas
De envergonhada.
Criticas-me
O mau humor do acordar
Os papos, as remelas
O sono a cambalear
Se ando vestida
Ou despida
Se ando descalça
Ou calçada
Se sou careca
Ou tenho cabeleira
Grisalha ou pintada.

Gostas de me minimizar
E não vales nada.
Vou-te mandar bugiar.

sábado, 23 de maio de 2009

Reage, gaivota!


De olhar triste e fixo
Olhas o horizonte
Mas para além das tuas penas
Nada vislumbras.
Olhas para ti
mas o que vês
não te pertence.
Gaivota solitária
Que habitas o mastro
De um barco à deriva no mar
Reage
E voa para aquele rochedo!
Não vês que vais naufragar
Nesse mar imenso
Que te tragará
E que depressa te lançará
Nas ondas, a flutuar?
Vai gaivota!
Sai dessa inércia de morte
Não te entregues à tua sorte
Pesca, come, ganha coragem
Deixa o mastro
Parte em viagem!
Voa gaivota!
Rasga o oceano, pára num coral
Olha as águas de puro cristal.
Vai para aquela praia
De águas mansas
Onde brincam crianças
Que te esperam, no areal.
Canta gaivota!
Canta com a tua voz rouca
E bate as asas com força
Vai a terra, volta ao mar.
Vai gaivota!
Vai com as crianças sonhar!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Canta, luta


Canta velho, canta novo,
a dor alivia a cantar
quanto mais acabrunhado,
mais ficas desanimado
e impotente para lutar.

Canta velho,
contra a injustiça,
o abandono, a indiferença,
contra aqueles que te dão
a esmola com uma mão,
para nas urnas mostrares
a tua fiel presença.

E tu jovem canta,
sempre, sempre, sem parar
e luta para mais saber
pare dares a lição a valer
àqueles que te estão a enganar,
na escolha que não escolheste
seguiste o que nunca quiseste
para contrariado falhar.

Canta contra o estratagema
das novas oportunidades
que te querem dar, sem estudar
e que mais não são,
que para justificar
as falhas de todo o sistema,
que te fez fracassar.

Luta jovem, canta e dança
e com toda a seriedade,
com trabalho,justiça e verdade,
constrói uma sociedade,
de completa mudança.

Vem!


Vem sol!
Derreter a geada
que se formou na noite
e gelou os sonhos de tanta gente.

Vem lua!
Trazer magia, luz, alegria
à noite escura,
onde perdura
a dor,
e a fome que se sente.

Vem mar!
Recolher o sal das lágrimas
vertidas,
em rios de tumultos
de desilusões, de insultos,
de incertezas, de verdade ausente.

Vem tu!
Grita bem alto em cada rua,
em cada esquina,
tira a mordaça
e grita a razão que é minha e tua.
Defende-te
de tudo o que nos ameaça,
a ti, a nós, a toda a gente

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Silêncio


Silêncio, porque te escondes
em cada esquina?
Porque te entranhas na minha mente
e me roubas os sons da noite?
Venham sapos e grilos
Transponham a barreira
Entrem na minha casa
Na minha lareira
E cantem para mim
A noite inteira

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Chuva de Maio




A chuva, puxada pelo vento, forma gotículas que se assemelham a pequenas pérolas. À medida que o vento traz mais água, essas gotículas vão engrossando e deslizam vidros abaixo, como se fossem estrelas cadentes.
O céu está carregado de nuvens escuras que vão despejando a chuva que há uns tempos era pedida. De tal forma era desejada que os habitantes, crentes nos milagres de Fátima, rezaram uma novena. Não me interessa se por milagre ou não, a chuva veio e veio fria, miudinha.

O vento sibila de encontro aos pilares de granito. Sentada, a ouvir esse sibilar, os meus pensamentos vagueiam à velocidade do vento, à medida que os meus olhos olham os campos verdejantes, o céu cinzento carregado, com pequenas manchas de azul celeste junto à linha do horizonte.
Olho através de janelas rasgadas e desnudas, viradas a nascente, sul e poente. Desnudas como convém no campo.
As cortinas, por mais leves e transparentes que sejam, são para mim como que nuvens escuras que tapam o luar de Agosto.
Janelas desnudas são canais abertos à cor, à beleza, à divagação, ao sonho.

Os pássaros, esses reduziram os cânticos. Só de vez em quando passa um ou outro mais afoito a desafiar a chuva fria. Meteram-se nos ninhos para protegerem os ovos ou os pequenos filhos.
As árvores balançam e a localização estratégica do ninho,deixou de o ser, pela mudança da posição dos ramos embalados pelo vento, o que confere uma maior vulnerabilidade aos pequeninos pássaros.
Os grilos recolheram-se nas profundezas dos buracos e calou-se a orquestra.
A azáfama da toupeira contrasta com o estado de sonolência da maioria dos outros; fura em estado de quase loucura, túneis intermináveis para drenar os terrenos. Está a exercer com elevado profissionalismo a sua função, embora seja mal interpretada e frequentemente recebida com um golpe de morte, quando à superfície emerge com o montão de terra molhada.

Também eu sinto uma sonolência leve, um torpor hipnótico, causado pelos sons em surdina da natureza, do ruído da chuva que agora cai mais forte e, por esta luz difusa que me chega de um sol escondido, perdido no firmamento.
Uma sonolência que me convida a fechar os olhos, ouvir o silêncio e, quem sabe, a uma soneca reconfortante, numa tarde primaveril com laivos de Inverno…

domingo, 10 de maio de 2009

Evade-te, poema!


Poema, porque te escondes
Se os teus olhos são estrelas
Em noite escura?
Porque te escondes atrás da nuvem negra
Na penumbra, no engano, na amargura?

Evade-te, poema
Dessa nuvem, espuma dissipada
Das vagas,
Contra a areia molhada.

Insinua-te poema
E à tua amada mostra a luz
Dos teus olhos, seduz!

Sai da masmorra em que te encontras
Labirinto de pesadelos, terror
Onde confundes dever com amor
Onde lentamente cavas a tua sepultura.

Perfura a nuvem negra, poema
Sai em liberdade, doçura!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Vem, chuva!



Vem, chuva!
Quero receber-te na rua
Abraçar-me às tuas gotas frescas
Molha-me
Recebo-te como se estivesse nua.
Como uma árvore gotejante
Peço vento e sol bastante
Brilhante
Para secar-me na rua.

Vem, chuva!
Molha-me o meu cabelo
Perfuma-o com desvelo
Com cheiro a terra que trazes.
Quero sentir o aroma
Das flores molhadas
Rosas, lírios, lilazes
Delírios
Para perfurmar-me na rua

Vem, chuva!
Traz-me frescura de Outono
Na Primavera estival.
Contigo eu quero dançar
Quero que sejas meu par
Melodia sem igual
Abandono
Numa dança minha e tua

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Velejando


Quando falaste, fui toda ouvidos
Quando me olhaste, olhei para ti
Fogos cruzados, olhares perdidos
Num barco à vela, numa viagem.
Vento soprando, mais do que aragem
As velas enchem, o barco desliza
E o mastro sobe, sempre em crescendo.
Sopra mais forte, ao vento pedi.
Com as velas cheias, o barco avança
Sobem as ondas e ele balança.
O vento amaina, o mastro descansa
O barco desliza, em brisa mansa.

terça-feira, 5 de maio de 2009

De Sapinho Feio a Príncipe

……logo que os arados sulcavam o solo, caminhava na terra remexida, indiferente ao barulho produzido pelo tractor.
O tio Zé, homem para os seus setenta e muitos Invernos, artroses a condizer com os anos, não se lembrava de cegonha assim. Caminhava imediatamente a seguir, sem sequer manifestar o mínimo receio de ser atropelada, quando para lavrar a pequena propriedade ele metia a marcha atrás. Desviava-se ligeiramente e sempre a espreitar na terra mais húmida, de onde retirava os seus pitéus de minhocas e outros bichos tais.
Aquela cegonha era de uma voracidade assustadora.
O tempo secou e, com a secura, os arados não conseguem penetrar na terra; o tio Zé deixou de lavrar.
A cegonha voraz teve que procurar outro sítio para satisfazer a sua gula. Sobrevoou os terrenos adjacentes à aldeia e lá do alto avistou uma lagoa coberta de flores brancas de uma beleza incomparável. De patas na vertical, desceu e ficou com elas, quase submersas.
Com o longo bico dentro da água e de encontro ao fundo, remexia aquele lodo cinzento à procura de qualquer coisa que fosse que lhe preenchesse o vazio que sentia no estômago. A certa altura pressentiu algo a mexer no meio daquele lamaçal. Estava pronta para lhe apertar as mandíbulas assassinas, não fosse ter ouvido um som, numa mistura de gemido e grito que lhe dizia:

Senhora cegonha, a senhora sempre tão elegante e esbelta, não me coma; eu sou apenas um sapinho feio, tão feio, olhe para mim! Houve quem me tivesse confessado que eu à nascença era como todos os outros sapos são, mas a minha mãe e os meus irmãos começaram a chamar-me feio, eu convenci-me disso e sou muito infeliz. A senhora cegonha se me comer vai ficar também mais feia!...

A cegonha que era vaidosa, reflectiu nestas palavras e como não queria de modo algum por em risco o seu porte e rosto perfeitos, não apertou as mandíbulas. Puxou o sapinho cá para fora e colocou-o em cima das flores brancas. Na verdade, emoldurado com aquela verdura matizada de branco, não lhe pareceu aquele sapo diferente dos que já tinha visto. Olhou-o naqueles olhos pestanejantes e suplicantes por clemência e pensou:
Mas porque carga de água uma mãe pode achar que o filho é feio, e mais do que isso tê-lo feito acreditar que assim é?
Olhou-o nos olhos mais demoradamente, reparou na boca, nas manchas da pele húmida e achou que o sapinho era perfeitamente normal, dentro dos parâmetros de beleza dos sapinhos.
Continuou a conversar e para seu espanto, a fome desaparecera. Achava o sapinho, de tão simpático e puro, cada vez mais bonito e quanto mais conversava, mais beleza lhe achava.
Ele, perante o olhar fixo da cegonha, começou a tremer e de tanto medo que sentia, não conseguia dizer mais nada.
A tua mãe onde está, perguntou-lhe a cegonha.
A minha mãe partiu para outra lagoa com os meus irmãos, eu não quis ir com eles e fiquei aqui.
Se eu te disser que tu és o sapinho mais bonito que alguma vez vi, tu acreditas?
És um verdadeiro príncipe. Gosto muito de ti e vou levar-te comigo, para junto do meu ninho.
Segurou-o cuidadosamente e voou.
O sapinho nem queria acreditar.
Eu príncipe!
Eu que sempre pensei que era o Sapinho Feio, agora sou Príncipe!
Como eu sou feliz!...

“Depressa um Príncipe passa a Sapinho Feio, se for tratado com desdém”.
“Depressa um Sapinho Feio passa a Príncipe, se for tratado com amor e compreensão”.
“Nem sempre os pais estão certos em relação aos filhos e por vezes transformam-nos em sapinhos feios, complexados, infelizes”.

domingo, 3 de maio de 2009

Quero

Deixei de lutar
Não porque tenho perdido as forças, mas tão só, porque não quero.
Quero relaxar os músculos e deixar-me levar pelo ritmo da corrente
Das águas de um rio tumultuoso, rápido, espumoso, sem bote
Num percurso onde de tudo, acontece.
Quero emoção,
Quero que aquelas águas me massagem a pele, me beijem
Com a sofreguidão de faminto, sequioso.
Depois, quero desaguar
Num mar calmo, transparente, silencioso.
Quero flutuar nesse mar
E em quietude
Deixar-me arrastar
Sem inseguranças ou medos
Que me obriguem a voltar.

Naquele deserto, onde jaz


À tristeza disse não
Despiu as lágrimas
Engoliu o pranto
Varreu as dores do seu coração.
Fechou a porta a sete chaves, não fosse a tristeza voltar e de mansinho quisesse entrar.
Mandou-a embora. Pôs-lhe a mala à porta, cheia de trastes velhos e de tão cheia, teve que lhe pôr o joelho em cima para a poder fechar.
Vestiu-a com todas as mágoas, lavou-a com as lágrimas, penteou-lhe os cabelos longos e lisos com pentes de angústias. Para a tornar mais elegante, calçou-lhe uns sapatos de salto alto produzidos numa mistura de desencantos e abandono.
Assim aperaltada, a tristeza apanhou o primeiro comboio da manhã. Constava que teria sido deportada para longe. Soube-se mais tarde que o seu destino fora um deserto imenso, de dunas gigantescas, de areias escaldantes que calcorreou descalça.
Procurou um oásis para beber. Morreu de sede.
Foi acometida por uma miragem que a conduziu para dunas cada vez mais altas e intransponíveis. Diz-se que ao morrer, terá emitido um grito estridente que continua a ser ouvido nas noites frias do deserto.
Deportou-a...
Esqueceu-a,... naquele deserto, onde jaz...

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