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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

domingo, 20 de março de 2011

Lembro-me, e não quero!

Lembro-me do tempo em que as açucenas povoavam o meu jardim, brancas e imaculadas, pele de seda, seios a apontar o caminho, para diante, sempre para diante, a caminhar entre os dias, os segundos que queria ultrapassar para que os meus canteiros se enchéssem de rosas rubras.
Pobre açucena, varrida pelas giestas de uma vassoura de ilusão!
As rosas, quimeras, usadas em vão, de espinhos cravejadas como a coroa de Cristo.
Se ao menos o seu perfume intenso eu tivesse guardado num frasquinho de cristal!

Lembro-me do tempo em que me dizias que o ar que eu deixava ao passar te fazia lembrar amoras silvestres e te cheirava a madressilva.
Tudo muda pela acção do tempo, ou será o tempo uma desculpa para justificar a não existência do jasmim que por mim trepava e que depois sucumbiu, jazendo no chão a meus pés. Tu sabes do que falo, sabe-lo pela chaga do punhal que ficou na carne quando tiveste que arrancar-lhe a raíz já seca, por falta de rega.
Maldito tempo a apunhalar pelas costas enquanto corremos incessantemente e nos convencemos de que somos quase eternos.
Áh, como eu gostava que ao menos uma vez, uma que fosse, voltasse a sentir a força das ondas a empurrar o casco da minha embarcação!... Fixo-me num pôr de sol quente que não tenho, contemplo o ocre do outono e, o que me vai chegando é um frio gélido a paralizar-me os ossos.
Talvez não mais me aventure numa incursão mar dentro. Talvez eu não tenha olhos para lhe ver a transparência das ondas. Olhos sim, tenho a certeza que tenho, e desejo de lá chegar também. Talvez me falte a coragem e a força. Sim a força, muito mais que a coragem é a força que me falta e me faz recear um naufrágio. Os meus braços são restos dum canavial destroçado pela passagem dum furacão, remos frágeis e impotentes para a embarcação que quero ser.
Lembro-me do tempo. Insisto em lembrá-lo e não quero. O meu tempo é hoje, este momento em que escrevo, em que te quero aqui, para que, ainda assim, me faças lembrar um pouco do rubro que me cobriu.
O meu tempo será o amanhã, sempre que a minha mão te acene.

3 comentários:

  1. Adelaide: Adorei o tempo post, lembranças dos tempos passados ou apenas recordações de alguem que deixou de fazer parte da tua vida, lindo texto como disse adorei.
    Beijos
    Santa Cruz

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  2. Estados de alma apenas, amigo.
    É tudo o que queremos que seja...

    Beijinhos,
    Obrigada por continuares a gostar de me ler.

    Adelaide

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  3. Achei curiosa a imagem das açucenas! Perfumadíssimas e brancas eram também as do meu jardim! Crianças brincavam por ali.Um estado de alma, um tempo irrepetível! Lindo o teu texto!
    Beisicos

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