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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

terça-feira, 22 de março de 2011

SE TU SOUBESSES LER UMA CARTA DE AMOR... (de Maria Mulher)

Se soubesses ler uma carta de amor, meu amor, eu voltaria no tempo, só para te escrever uma.
E dir-te-ia dos pássaros, que, por amor, voam horizontes perdidos até achar a equivalência do amor, nuns olhos de voo igual. E falar-te-ia das flores, que coabitam espaços só para criar jardins. E contar-te-ia as vezes que o vento muda de norte ou se veste de brisas, só para não magoar nuvens tresmalhadas ou não desviar beijos fugazes.

Falar-te-ia da confiança com que a semente se enterra na terra, húmida e fria. E da fé nascida nos olhos, frágil e pequenina, a necessitar do amparo de mãos amorosas, para a cuidar...
Da consciência da própria individualidade, para aprender que ao nosso lado existe gente. Que também sente.

Falar-te-ia ainda, se tu soubesses ler uma carta de amor, meu amor, que o amor nasce perfeito. Que nasce nú e inocente de pecado original.

Pedir-te-ia, meu amor, - se tu soubesses ler uma carta de amor e se eu pudesse voltar no tempo, - que me amasses como quem ama uma flor. Que me cuidasses como se me tivesses amor. Que me respeitasses com se eu fosse Tua. Igual e Mulher. Companheira e Forte. Flor e Frágil.

Dir-te-ia, amor, que comeria contigo a maçã, sim. Que correria todos os riscos contigo. Que não me importaria de ser expulsa do Paraíso. Que não me importaria de me vestir, por pudor, e, tão pouco, que só tu soubesses o tom da minha pele. E que, muito para além da pele, o meu maior gosto seria ser só tua, em pensamentos, palavras e emoções... (mesmo em omissões...) por amor, tudo isso, só, só, só, por amor.

Mas eu sei que sempre soube que nunca serias capaz de ler uma carta de amor... e esse foi o meu pecado mortal: ser capaz de as escrever...

Mesmo assim, meu amor, escondi-as todas, para não te inspirar ciúmes das palavras.
E regurgitei a maçã, para me purificar por dentro.
E deixei que me marcasses, para afirmares a tua posse.
E transformei-me em mãe, para conseguir amar-te.
E amei-te, para disfarçar o medo.
E temi-te, para sobreviver.
E fui só tua... mesmo amarfanhando todas as cartas de amor que não te escrevi.



Postado por Maria Mulher no blogue Telhas Caídas.
Espero que a autora não se importe de que o partilhe com os meus leitores.

2 comentários:

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