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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sábado, 16 de abril de 2011

Da minha exposição de pintura, " Sons do Silêncio"






A inauguração foi no dia oito de Abril, na Biblioteca Municipal de Miranda do Douro, na companhia de alguns amigos e da minha família.A Câmra serviu um "porto de honra" e a saborosíssima bola doce, típica da região. Poderá ser visitada até 30 de Maio.
Durante o Festival Intercéltico e até fins de Agosto, estará em Sendim.


Adelaide Monteiro é professora aposentada, da área de contabilidade e gestão, nascida em Especiosa [1949], Miranda do Douro.
À escrita e à pintura, o escape das tensões da vida citadina, paixões sem as quais já não é ela mesma, dedica-lhes o principal do seu tempo, passado entre a sua Especiosa natal e Sintra, fontes por onde jorra a sua alma insatisfeita.
Em 2010 editou o seu primeiro livro de poesia, Antre Monas i Sbolácios, escrito em Mirandês, a sua primeira língua.
Sons do Silêncio é o tema da pintura que agora apresenta, tema tão abstracto, quanto poético, nascido em cenários de viagens de sonho às suas raízes, ao seu mundo, real ou imaginário, convidando o espectador a procurar nas nuances e traços das suas pinceladas, os sons que só do silêncio podem nascer.





Texto do catálogo, escrito por Amadeu Ferreira



Sons do silêncio

Pode parecer estranho o título desta exposição – Sons do silêncio – mas ele abre-nos a porta certa para os caminhos por onde segue a pintura de Adelaide Monteiro. Nada percebo de técnicas de pintura, aqui saltando entre a espessura do traço nervoso e a leveza suave das transparências, e a pintora sabia isso quando me convidou para escrever umas palavras sobre esta exposição. Por isso, seguirei os olhos, aqui dando nota do seu espanto, das suas perguntas e das paisagens onde me levarem estes miradouros de Adelaide Monteiro.
É esta uma pintura sem rostos, mas de ideias, de sons, de um convocar os sentidos muito além da pele, poesia sem palavras, misturada nos sons que se elevam do silêncio das cores e das formas. Rostos para quê, se é uma representação onírica do real que vem ter connosco? É alegórica e romântica esta pintura, talvez mais sonhadora que visionária, repleta de simbolos e de referências à mulher e a uma terra. Por vezes provocadora, a mexer com convenções sociais, outras calma e nostálgica, mas que não há muito tempo levou a censura a mostrar o seu rosto tirânico, inculto e insensivel. AS mulheres de Adelaide Monteiro ora nos aparecem a saltar do seu corpo nu e apaixonado, ora transformadas em símbolos, feitas viola ou violoncelo, cântaro ou a imprevisível alquitara, grávida de uma aldeia branca, nevada, virgem de passos, mulheres que tanto gritam o seu erotismo, pura sedução de romã em convite grão a grão, como acolhem em seu calmo colo maternal, ou desaparecem em puro voo, muito para além de mãos e olhos, por céus onde possam ser ultrapassados todos os limites.
As imagens que Adelaide pinta apenas querem ser a porta para outros mundos, um modo de materializar ideias, sons, sentidos, sentimentos, tudo puramente imaterial, que não se deixa agarrar pelos pincéis, mas pode voar pelas cores, indecisas estas entre o escuro da dureza da vida e os brancos transparentes e azuis de luz e de futuro. Tudo isso se concretiza por vezes numa pintura um pouco enigmática, onde parece vir acima uma certa educação de que as mulheres de Adelaide fazem gala em se libertar, vingança por andarem para trás os anos e a juventude. É, portanto, uma pintura de memórias, por vezes opressivas, onde a Sé se ergue como um marco, mas também memória de tempos simples, de uma aldeia que morreu e apenas vive dentro da pintora, de um rio que nos ensinou a força dos impossíveis e nos leva com ele, ou de um cântaro cheio de searas em puro fogo, pão que o diabo amassou e um céu num outro mundo.
Por que razão olhamos para duas maçãs pintadas e não vemos apenas maçãs, entranhando-se uma na outra, em posição contrária uma à outra, aproveitando a sua vida, a sua frescura, antes que o verme, essa essência fálica reduzida ao mínimo, as deite a perder, as fertilize?
Quando mãos encavalitadas se estendem, já não sabemos muito bem se ajudam e apoiam ou se apenas procuram luz, talvez paz, fuga de um inferno ou de uma negra noite que as deixa entregues a si próprias, mãos duras, escuras e calosas.
Um dos mais emblemáticos quadros da exposição é a alquitara com a aldeia dentro, pintada como um corpo quente de mulhier grávida, que a leva no seu ventre como se fosse um filho. Quando dela sai, vem destilada pelo tempo que a nevou como se essa fosse a via para a conservar, fresca e menina, e melhor poder passear na sua rua que atravessa o mundo a meio.
Não é o mundo que Adelaide pinta, mas apenas os seus mundos, os seus sonhos, as suas aspirações, o tempo que a viu atravessar épocas e continentes. Uma pintura de interiores onde se sente que a pintora esbraceja com falta de espaço, em busca de uma serenidade que o tempo é avaro em trazer.

Amadeu Ferreira

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