Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boca calada, dizia o monstro!

Nadava gracioso, o peixe com suas barbatanas tanto mais coloridas quanto mais as abria, escamas brilhantes e de cores vivas, como tela montada num cavalete que aos poucos ganha céu e mar.
O mar onde nadava era verde com reflexos azuis do céu que lhe morava em cima. Nas algas buscava os verdes da natureza e, nos corais, ia buscar tons de pôr do sol, com que completava a pintura. De boquinha aberta ia cantando e, depois de concluir a melodia, fechava os lábios e, com os dentinhos, segurava os pincéis. Com as barbatanas laterais, ondulantes, dava pinceladas com movimento.
Depois, havia um monstro para fechar a boquinha ao peixe, o peixe imbecil que só fazia inutilidades, voluntarioso, o peixe que até tinha vontade e voz próprias.
Uma jamanta de barbatanas viscosas, ondulante, pegajosa, ia-se colando ao monstro como lapa em rochedo. Abanava a cabeça, sempre a concordar com tudo o que o monstro queria. Detestava a jamanta, o peixinho, a jamanta melosa, ranhosa, superficial e fútil, sempre armada aos cucos que por cima da água voavam, ainda que fosse feia como um peixe sapo. Tinha a cara como um sapo concheiro, aquela jamanta!
Quanto mais a jamanta se enrolava ao monstro mais o monstro obrigava o peixe a fechar a boca. Se não calares a boca rebento-te, disse-lhe um dia. E o peixe foi deixando de dar opiniões: doutros peixes, da cor dos corais, do cheiro das algas verdes, de Neptuno rei de todos, das leis do reino das águas, de tudo.
Mas o peixe continuou a pintar telas com as algas e os corais e nunca se submeteu à vontade do monstro. Boquinha semi-aberta, a segurar os pincéis com os dentinhos, ali ia ele até aos bancos de corais, em busca de sonhos.

1 comentário:

  1. Há peixes radiosos que só querem a liberdade de pintar o mar de azul poético. São aqueles seres que apanham a beleza do coral nas suas telas e só querem ser felizes, simplesmente, no meio delas.
    Já o monstro, que se esconde na escuridão, parece que gosta de estragar os tons que o ofuscam...
    E que seria do espírito do mal se a força do bem não lhe abrisse o caminho?
    E para mudar de rumo, terá força o peixinho?

    Beijicos querida amiga.

    ResponderEliminar

Seguidores

Arquivo do blogue