Senta-te junto a mim, amigo
e deixa que te ouça a dor
que tão bem disfarças.
Pássaro ferido,
continuas a voar,
disfrutando estações,
meses, dias,
cantando poemas,
distribuindo penas
em forma de risos.
Há aqui uma pedra
a servir de banco
neste jardim de urzes
onde sempre me sentarei
para procurar as palavras
para todos os poemas
e onde te sentirei
Acerca de mim

- Adelaide Monteiro
- Sintra/Miranda do Douro, Portugal
- Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
sábado, 16 de novembro de 2013
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Dum trago
Bebi-te dum trago
Mosto
Dum São Martinho
A saber a jeropiga
Bebo-te em goles pausados
Vinho
Sentindo o teu aroma
Degustando as castas
Que te fizeram encorpar
No volátil do açúcar transformado
Bebo-te ainda em
vapores
Destilado
E com receio de que se escapem…
Bebo-te dum trago
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Na ponta dos versos
Eram altas madrugadas
e a noite tremia
fria nas tuas mãos
e das minhas
um corpo em cascata
feita céu descia.
e a noite tremia
fria nas tuas mãos
e das minhas
um corpo em cascata
feita céu descia.
Os dedos!...
Os dedos mexiam
segurando a noite
madrugada fora
e ao romper da aurora
os dedos cansados
bendiziam o dia.
Os dedos mexiam
segurando a noite
madrugada fora
e ao romper da aurora
os dedos cansados
bendiziam o dia.
Despontava o dia na ponta dos versos
e os dedos travessos
como que a levitar
levantavam as estrelas
que pressentindo o dia
no céu recolhiam
e, de pálpebras pesadas,
fechavam os olhos
para se irem deitar.
e os dedos travessos
como que a levitar
levantavam as estrelas
que pressentindo o dia
no céu recolhiam
e, de pálpebras pesadas,
fechavam os olhos
para se irem deitar.
Dormiam as estrelas
mas sempre reacendiam…
mas sempre reacendiam…
Preparam-se madrugadas
na ponta dos dedos,
e acordam as estrelas
no seu cintilar
e na ponta dos versos
adormece a noite
empurrando os dedos
para seu versejar.
na ponta dos dedos,
e acordam as estrelas
no seu cintilar
e na ponta dos versos
adormece a noite
empurrando os dedos
para seu versejar.
até o sol despontar
An mirandés
Na punta de ls bersos
Éran altas madrugadas
i la nuite tremie frie
nas tues manos i de las mies
un cuorpo an cachoneira
feita cielo decie.
Ls dedos mexien
sigurando la nuite madrugada afuora
i al rumper de l´ourora
ls dedos cansados
benedezien l die.
Assomaba l die na punta de ls bersos
i ls dedos trabiessos
cumo que a lebitar
a lhebantában las streilhas
que, pressentindo l die
ne l cielo arreculhien i, de piçtanhas pesadas,
cerrában ls uolhos para s´ir a deitar.
Drumien-se las
streilhas
mas siempre riacendien…
Porpáran-se madrugadas na punta de ls dedos,
i spértan las streilhas ne l sou relhampar
i na punta de ls bersos
drume-se la nuite
drume-se la nuite
ampuxando ls dedos
para sou bersiar.
I la nuite manten-se ne l berso
até l sol tornar
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Enquanto és!...
Canta o amor
mesmo que as cordas apertem
os acordes da guitarra ...
e os ventos velozes passem
sem levar o teu cantar.
Há tantos beijos espalhados
pelo chão em desalinho,
há abraços amontoados
em antebraços, perdidos,
tantos olhares que se perdem
por olhares não merecidos,
tanto doce, tanto mel,
em frascos que estão partidos.
Canta o amor
mesmo que na guitarra
já haja cordas partidas
e a tua voz se lance no abismo,
sem rede, cantando sozinha.
Há tantas vozes que se calam
por não treinarem o canto,
tantos poemas se esquecem
por se lhes esvanecer a cor,
tantas letras e palavras
esquecidas em ruas mudas,
tantos silêncios que matam
a génese, ao desabrochar.
Canta o amor
antes que à fonte
se lhe seque a nascente.
Há tanta água que brota,
que corre à pressa e não cria
o que deveria criar.
Há tanta água que rasga
em vez da terra regar,
há tanto fruto largado
por não se saber saborear.
Canta o amor enquanto és!…
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
E a fonte!
Morro lentamente em cada fonte
que aos poucos agoniza em ais,
em cada rã a escavar à procura de dormida,
em cada sapo de pele gretada
buscando a viscosidade perdida.
Morro lentamente quando por ti passo,
freixo,
sedento,
estendendo as raízes à
terra em chamas
e ardendo por dentro
antes que seja tempo
das folhas fazer despedidas.
Ardo em chamas e morro lentamente,
Ah!, se morro e como
me dói este morrer lento!…
Há um ressumar leve nos meus olhos
Que, por lhe faltar sal não chega a lágrima
e não chega a chuva por lhe faltar ousadia.
Há um morrer lento no
beiral
onde o ninho chora a partida da andorinha.
Morro lentamente neste tempo
em que as promessas não me agitam,
por descrédito!
Morro lentamente quando vejo
a sepultura que para
mim cavaram,
mas juro, não deixarei
que me matem por inteiro!…
Como o freixo, a rã, o sapo, o ninho!
E a fonte!
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
De lã cardada se fez
De lã cardada se fez fio
Do fio se fez novelo
Do novelo teci o vestido
Que me cobriu com desvelo
Às vezes naquele rodar
O novelo torce o fio
E cego se dá um nó
Tão difícil de desatar
Puxo com força e rebenta
E também rebenta o vestido
Enche-se de nós o fio
Impróprio para restaurar
De lã cardada se faz fio
Envolto em nós, o novelo
Já não remendo o vestido
Que me cobriu com desvelo
Entra-me tantas vezes o frio
Por causa daquele
rasgar
Que eu me ponho a projectar
A confecção doutro vestido
De lã cardada se fez!
terça-feira, 27 de agosto de 2013
E há este dia…
Mal me levantei da cama olhei-te fixamente nos olhos a desafiar-te, não para um duelo, pois que de espadachim não entendo, mas antes para te ordenar que te recolhas na tua toca e que não ajudes a fazer mais estragos.
O orvalho não ousa nascer, as plantas não conseguem crescer e os fogos, esses medram infinitamente como se fugissem de ti.
Confesso que muitas vezes me agradas, quando, à beira mar, observo os castelos que ajudas a formar....
Hoje, aqui no planalto, secas-me o corpo e a alma, tal como fazes às aboboreiras de folhas fechadas, prestes a sucumbir aos teus braços.
Há uma poeira no ar a saltitar à tua frente; há uma secura na terra da horta arreganhando-te os dentes à medida que as gretas lhe nascem à tua passagem. E há este tempo sem chuva, nascentes sequiosas de um beijo molhado, mesmo que seja de nuvem carregada de rugidos e electrificada.
E há este dia em que me levantei cedo e me secou os lábios…
terça-feira, 20 de agosto de 2013
Cravo
Em português (tradução)
Cravo
Por muita água que te ponha, cravo
Não sou capaz de te tirar um sorriso
Julgo deitar-te o que te chegue d´água
Mas quem sabe, a falta será minha
Tantas vezes te reguei e tu floriste
Abrias de noite e depois sorrias
Dizendo que para mim te abriste
E que o teu florir eram labutas minhas
Em tantas tardes duma cor dourada
Em tanta noite a fazer-se estrelada
Te cheirei cravo, t´acarinhei a pele
Vermelho cravo, volta-me a florir
Que o teu aroma eu volte a sentir
E na boca nasça sabor doce a mel
(Em mirandês)
Crabo
Por muit´ auga que te ponga crabo
Nun sou capaç de te sacar ua risa
Cuido botá-te l que te bonde d´auga
Mas quien sabe, la falta nun será mie
Tanta beç te reguei i tu floriste
Abries pula nuite i apuis sunries
Dezindo-me que para mi abriste
I que l tou florir éran lhabutas mies
An tanta tarde de quelor dourada
An tanta nuite a fazé-se strelhada
Te cheirei crabo, t´acarinei la piel
Burmeilho crabo, torna-me a florir
Que l tou oulor you torne a sentir
I na boca naça, gusto doce a miel
Cravo
Por muita água que te ponha, cravo
Não sou capaz de te tirar um sorriso
Julgo deitar-te o que te chegue d´água
Mas quem sabe, a falta será minha
Tantas vezes te reguei e tu floriste
Abrias de noite e depois sorrias
Dizendo que para mim te abriste
E que o teu florir eram labutas minhas
Em tantas tardes duma cor dourada
Em tanta noite a fazer-se estrelada
Te cheirei cravo, t´acarinhei a pele
Vermelho cravo, volta-me a florir
Que o teu aroma eu volte a sentir
E na boca nasça sabor doce a mel
(Em mirandês)
Crabo
Por muit´ auga que te ponga crabo
Nun sou capaç de te sacar ua risa
Cuido botá-te l que te bonde d´auga
Mas quien sabe, la falta nun será mie
Tanta beç te reguei i tu floriste
Abries pula nuite i apuis sunries
Dezindo-me que para mi abriste
I que l tou florir éran lhabutas mies
An tanta tarde de quelor dourada
An tanta nuite a fazé-se strelhada
Te cheirei crabo, t´acarinei la piel
Burmeilho crabo, torna-me a florir
Que l tou oulor you torne a sentir
I na boca naça, gusto doce a miel
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Sem a minha canção
Se eu conseguisse destruir o dique
e as palavras livremente me escorressem,
tentaria escrever para ti uma canção,
com
a música de gestos e
palavras,
aquelas palavras que não digo,
que não ouço,
gestos que não tenho,
quando solitária caminho
ao lado duma multidão também solitária,
sonâmbula,
olhando sem nada ver,
tocando sem nada sentir,
seguindo neste tempo
num egoísmo a não deixar abrir
as portadas e as cortinas
para que o reverdecer dos campos
lhe entre através dos
vidros.
Olha!
Há Primavera lá fora,
há flores a abrir,
hortas a crescer,
indiferentes
à falta das palavras do poema!
Olha a margaça a falar com a papoila,
o lírio a abraçar a rosa,
a urze a beijar a giesta,
a violeta a crescer na friesta
e a sorrir para os
picos do tojo
indiferente ao picar;
uma aqui, outra ali,
algumas ou em multidão,
misturam aromas,
desabafam queixumes,
partilham alegrias e prantos
e,
quando de cortinas abertas
eu olho para além da vidraça
eu vejo que sem a
minha canção,
em harmonia elas nascem,
crescem, murcham e
morrem
e não sentem solidão
terça-feira, 26 de março de 2013
Ó povo
Como eu queria escrever a verde!
De coração aberto
o faria.
Como te direi que está tudo bem
se há estômagos colados
se os colchões onde gente,
cada vez mais gente se deita
são casas de rua feita
telhadas pelo céu,
e nem sequer o céu é quente?
Onde nos levarão os deuses
de Olimpos em
desordem?
Ó povo,
quem és tu, povo,
nesta Europa em geral?
És escravo e chamam-te livre,
és livre de mãos atadas,
feridas e amordaçadas
por ditadura do capital.
Ó povo em escravidão,
tens a rua por algemas,
o servilismo por capa,
o desemprego por pão…
Ó meu país!
Se o Poeta cá
estivesse
do mar, talvez ele dissesse
Ser de lágrimas e podridão
quinta-feira, 21 de março de 2013
Nas asas dun sonho
Pedi ao vento
que me levasse nos cabelos, em viagem sem destino.
O vento ouviu o meu pedido
e levou-me, em viagem;primeiro em voo picado
depois em voo sustido.
Do mar recebi a aragem,
do sol recebi o calor; olhei para a lua serena
e suas crateras observei,
detive-me no cintilar duma estrela
e a um cometa me segurei.
e de tão rápido, enjoei.
roguei ao vento então,
que entrançasse os cabelos,
me prendesse
e me pusesse no chão!
Prendeu-me com suas tranças,
como em braço de guindaste
e em viagem alucinante,
na terra fez voo rasante.
dum sopro abriu a janela
dos meus olhos e do quarto,
A tua viagem acabaste,
deixo-te aqui e eu parto.
Fechei a janela ao vento
e as minhas janelas também
recomecei outra viagem,
no sonho que a vida sustem.
(An mirandés)
Nas alas dun suonho
Pedi al aire
que me lhebasse ne l pelo an biaige sien çtino.
L aire oubiu l miu pedido
i lhebou-me an biaige; pormeiro an bolo dagudo,
apuis an bolo sustenido.
De l mar recebi l´araige,
de l sol recebi la calor; mirei la lhuna serena
i sous galatones ouserbei;
pasmei-me ne l relhampar dua streilha
i a un quemeta m´assigurei.
El eizagerou ne l bolo
i, de tanta mecha, mariei.Cun un bózio de zaspero,
amplorei al aire por duolo,
que antrançasse l pelo,
me prendisse
i me punisse ne l suolo.
Prendiu-me cun las sues tranças,
cumo an braço de guindaste
i an biaige stuntiante,
na tierra fizo bolo rasante.
Dun assopro abriu la jinela
de ls mius uolhos i de l quarto,
dezindo,
la tue biaije acabeste,
quedas eiqui i you scápo-me.
Cerrei la jinela al aire
i las mies jinelas tamien, ampecei outra biaige,
ne l suonho que la bida susten.
terça-feira, 19 de março de 2013
Pai
Pai!
Tantas histórias por contar,
tantas palavras por rimar,
tantos poemas por nascer,
tantos frutos por colher...
tantas palavras por rimar,
tantos poemas por nascer,
tantos frutos por colher...
Voaste duma história a meio contar,
daquelas que tu viveste,
de muitas que não escreveste
e que não sei acabar.
daquelas que tu viveste,
de muitas que não escreveste
e que não sei acabar.
sexta-feira, 8 de março de 2013
Como tu…
Se me ensinasses o modo de tecer o fio
e o tear não embaçasse nos nós da vida
e serena soubesse tecer um rosto como o teu
Se me ensinasses a
dizer calada
e discreta eu
dissesse
sem que a boca traísse o meu dizer
Poria um lenço, juro que poria!
Quiçá roxo como o teu
e ele me segurasse o tecido
de que o meu rosto se vai tecendo,
disfarçasse a aspereza dos cabelos
e me secasse as lágrimas vertidas
por não saber,
como tu,
… envelhecer
Rendilhados na pele
Que segredos esconde
o teu olhar roubado ao mar,
que feitiços enrolas nos cabelos,
que paixão ateias nas maçãs do rosto,
boca de romã contornada a amora
desejando beijos com sabor a mosto.
De mãos lisas a esculpir as tranças,
pareces menina a caminho da escola.
E,
se rendilhado não fora
o cetim que te cobre o rosto,
seriam de primavera as flores
escondidas em subtis desejos
ateando fogo ao teu olhar
e formando orvalho
na boca a pedir beijos
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Foste tudo, tudo és
…E,
quando daqui observo os montes
quando daqui observo os montes
a mostrárem em curvas
femininas
as suas cores e contrastes
e os horizontes a
parecerem mar altivo,
guardo nas retinas o
encanto,
de nesse berço um dia
ter nascido.
Guardo na pele os cheiros,
o calor e o frio,
na boca retenho o
sabor a mosto,
no olhar a macieza do
teu verde,
vestido de musgo a crescer
flores nas pedras
do meu nascer.
Fecho a mão
e nela deposito as lembranças
daquilo que de mim fizeste,
doces, amargas,
macias, agrestes...
Tudo!
Tudo és e tudo foste
Sulco, alqueire e palha onde dormi,
lameiro onde chorei i ri,
trilho onde a pele se me queimou,
inferno que as entranhas me gelou,
pão duro e fresco
que o diabo amassou,
flores em ramalhete
que de ti brotou
…
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Te peço!
Não me limpes as lágrimas que deslizam
Embaladas pela música a entrar na alma
Á noite
Envolvida na serenidade do silêncio
O tempero do alimento com que sacio a fome
O bálsamo a amenizar o ar triste e cansado
Com que se vestem os ventos
A soprarem nestes tempos…
Mas há lágrimas que não temperam
Nem matam a sede
Nem a alma aromatizam
E, de tão secas
Só a esperança retraem
Em cenários de deserto.
Ah!
Seca-me essas lágrimas
Te peço!
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