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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Rouxinóis cantantes

Às vezes o rouxinol do jardim canta uma melodia mais triste.
Ou será que a tristeza está em mim e não na melodia do rouxinol? De uma forma ou de outra, hoje acordou-me muito cedo com a melodia.
Cantava sozinho e aquela música entrou-me no quarto, entrou-me na alma.
De repente a multidão de pardais com a camarata montada na laranjeira de folhagem mais densa, começou a cantar, sempre no mesmo tom de voz e ritmo repetitivo. O rouxinol quis ser maestro, mas não foi capaz. A multidão caótica tolheu-lhe os braços, as asas. Sentiu-se impotente, mas ainda assim a sua voz de barítono soava afinada acima do tom do ruído das vozes dos pardais.

A madrugada fresca e sombria trouxe chuva forte que ao bater com violência nos vidros, me fez mudar a atenção e por breves instantes deixei de ouvir o bando e o rouxinol. De repente o ruído da chuva que caía a pique nas janelas do sótão transportou-me para o mundo da gente que entretanto começava a passar, a ir para o trabalho, cortando com os escapes dos carros, o silêncio.

Como as pessoas acordam cedo e partem para o ganha pão ou ganha fome, sem sequer terem ouvidos, para o rouxinol cantante!
Parece impossível que haja tanta gente a cujos ouvidos não chegue outro som que não o da sua voz e o das suas rotinas alienantes!
Foi no meio destes pensamentos que transpus a orquestra caótica dos pardais, para o mundo dos humanos.

Os pardais deixaram de cantar e partiram para o saque diário de tudo o que de valioso e comestível encontram. No caos da sua madrugada, em vez de cantarem, emitiam sons de conjecturas, de golpes baixos, de entrujices que estavam a planear.
O rouxinol bem intencionado não foi capaz de lhes acertar o ritmo e o tom para que os pudesse demover dos seus vis intentos. Continua a cantar sozinho, uma canção já mais triste mas igualmente melodiosa e bela, numa sonoridade de soprano.
Está cansado, mas não desiste e tem ainda esperança que mais rouxinóis se lhe juntem para que, sendo muitos, se sintam mais fortes.

Cada vez mais proliferam pardais sequiosos, famintos de riquezas,sempre prontos para golpes sujos, neste mundo dos humanos. Cada vez mais os rouxinóis sentem mais impotência.
Os gaviões, chefes de todos, poderiam meter os pardais nas gaiolas,mas não, são ainda piores que os pardais. Planam e preparam a melhor ocasião para calar a voz dos rouxinóis cantantes, não vão estes com o seu belo cantar, espantar as suas preciosas presas.

No meio disto tudo onde estou eu, simples mortal, que não sou nem gavião, nem pardal, mas que de tão frágil ter a voz, também não sou rouxinol?
Estou nesta insignificante parte do cosmos, a levantar a pouca voz que tenho, para a juntar à tua, a de todos os rouxinóis. Todos seremos muitos, teremos mais força, mais determinação e cortaremos aos gavióes, o bico e as garras de ave de rapina.

O que poderemos nós os rouxinóis, fazer aos pardais, àqueles que roubam a torto e a direito o fruto do suor de tanta gente?
Será que temos mais alguma força para além daquela que nos advem da voz?

Fica a questão. Provavelmente temos mais, que aquela que julgamos ter!...

A ti, rouxinol do meu amanhecer, eu peço, continua a cantar!…

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