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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

domingo, 9 de agosto de 2009

Fugas

Acordei com o olhar indiscreto da lua a entrar-me no quarto através do cortinado fino que tapa a janela, acima da cabeceira da cama. Julguei que se tratasse da luz difusa da aurora e dum amanhecer que se aproximava. Sentei-me na cama, puxei o cortinado e espreitei o céu em direcção a poente, a orientação do quarto. Depressa me apercebi que por cor diferente não se tratava de um amanhecer, mas sim da luz lunar, daquela lua tão solitária quanto bela.

Embora o céu estivesse estrelado, aquela lua de Agosto, tão enigmática e bela sentia-se só. Os habitantes da aldeia não lhe dão a atenção que ela gosta de ter e, em vez de apaixonante passa a lua indiscreta que interfere com as sementeiras, colheitas, corte de madeiras.
Levantei-me e debrucei-me sobre o parapeito duma janela na mesma orientação. A lua olhou-me enigmática, apaixonada, perante a cumplicidade de Vénus. Ali fiquei a contemplar o céu como se fosse a primeira vez que via a lua a pôr-se, no preciso ponto em que todas as tardes de Verão o Sol se põe. Na verdade já não me lembrava do pôr da lua; telo-ia visto muitas vezes em menina quando acordava muito cedo para ir para as ceifas, mas na verdade não me lembrava.
Assim foi descendo gradualmente e com Vénus e as estrelas foi desaparecendo no horizonte, com a dignidade que só uma Lua pode ter. Antes que a luz traiçoeira do Sol lhe retirasse o brilho partiu triunfante para, deslumbrante, reaparecer na noite seguinte, do lado oposto do céu.

Eu, ser minúsculo deste universo magnífico, senti-me infinitamente mais pequena, perante tanta beleza!...
Vesti-me à pressa. Decidida a observar o nascer do Sol, subi o monte que mo retarda, no mínimo quinze minutos. Quando o sol me entra pela cozinha já vem quente e com brilho intenso.

Subi apressada e mais à frente, no Serro, no planalto, sentei-me numa pedra de granito no meio de uma terra lavrada, de fronte para aquela luz ainda discreta que se mostrava sobre o monte da Senhora da Luz e ali fiquei, descalça, pronta a receber o sol e a força que ele tinha para me transmitir.

Magnífico, exclamei!...
Assim fiquei a registar as várias tonalidades do céu, como que a captá-las para uma tela. Alaranjado junto ao horizonte, ia esbatendo para esverdeado e acima lilás a fugir para roxo. Estes tons eram reflectidos nas discretas nuvens que se espraiavam no céu o que dava ainda mais beleza àquele nascer do Sol.
O laranja foi gradualmente aumentando e tornando os restantes tons mais discretos até que desapareceram com o intensificar do brilho daquela bola que saiu do horizonte tão distante, neste planalto magnífico.
E assim fiquei, estática, absorta, a pensar na Lua e no receio que ela sentiu em enfrentar aquela luz. Também eu não suportei muito tempo aquela força da natureza que surgiu e depressa os meus pobres olhos começaram a lacrimejar.
Fiz o percurso inverso. Queria chegar ao cimo do monte sobranceiro à aldeia antes da luz do Sol. Aí, sentei-me no chão junto às giestas. O sol foi iluminando gradualmente os telhados da aldeia depois de em primeira mão ter chegado às carvalheiras da Moura, onde a lua se fora. Os telhados dos pontos mais altos em vários locais da aldeia começaram a receber a luz, a torre da igreja, os frondosos freixos de S. Lourenço e finalmente a minha casa que por ser a mais próxima do monte foi a última a ser cumprimentada pelo Sol.
Desci e dirigi-me a casa. O vício do café da manhã chamou-me…

4 comentários:

  1. Olá Adelaide,
    Já estou de novo por aqui.Gostei tanto deste teu texto.
    Uma noite de luar,lembro-me que em Agosto, o luar iluminava todo o quintal da casa dos meus pais.Via-se tudo perfeitamente. E é lindo assistir ao nascer do Sol, principalmente no campo. Há anos que não assisto a esse espectáculo lindo, que a Natureza nos oferece. Aqui na cidade é bem diferente.Nem se vê o céu estrelado, cheio de pontinhos luminosos, como eu via na minha infância.Tenho saudades. Beijos para ti e bom fim de semana

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  2. Olá Mariinha,
    Na berdade l campo ye fantástico! Ben até acá i berás!... Beio deiqui çponer de l sol dua belheza rara...parece ua splosón de fuogo. quanto l naçer ye d´ua einorme magie i belheza. Qualquiera die tengo que tornar a spertar cedo i tornar a bé-lo.
    Tengo l perbilégio de haber nacido eiqui neste planalto fabuloso, neste rinconico que ye un berdadeiro paraíso.
    Tu Mariinha, torna als carreirones de l´eifáncia i torna a ber las streilhas i la lhuna de Agosto que ye specialmente guapa i mágica.
    Beisicos

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  3. a do vício do café ficou a matar...
    Ass: Turco

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  4. Ye esso mesmo, sr. Turco.
    Pena tube you nun tener trazido la maquineta para fazer "l café turco" que cundizie melhor cun la aldé i ye buoníssemo...
    Bícios son bícios!

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