Há dias em que a chuva chega sem bater à porta, molha as
soleiras e os parapeitos, a roupa do estendal que deixei enfeitado com cores de
roupa de verão e leveza de esvoaçantes de festas. Vem e pronto. Quando dou
conta já nada há a fazer. Aventuro-me à chuva para salvar algumas peças dos
sopros do vento e, antes de concluir o intento, já estou como um pintainho acabado
de sair da casca do ovo.
Há dias em que na cidade me faltam coisas que tenho no
campo. O contrário também é verdadeiro.
Estivesse eu na aldeia e a chuva não me fintaria desta
forma! O chão estava sequioso e, aos primeiros salpicos, despertar-me-ia os
sentidos com o cheiro forte a terra molhada. Teria corrido para o estendal e
deliciar-me-ia com o gotejar dos primeiros pingos e, passando debaixo do beiral, não
levaria ainda com os riozinhos suspensos que me encharcam a cabeça até os
miolos e me fazem arrepios nos ossos.
O cheiro a terra seca depois de ter sido salpicada levemente
pelo primeiro borrasco, traz-me a imagem
de especiarias garridas, das que se podem ver nos mercados da Grécia, de
Marrocos, da Turquia e tantos outros lugares como já vi também em Marselha num
mercado de rua. Acho que aquele cheiro, se se pudesse identificar a cor dum
cheiro, eu diria que seria vermelho, misturado com terra queimada e um pouco de
laranja, de açafrão. Quente, forte, sensual. Da cor da terra em muitos sítios de
África. Talvez a minha identificação de cor num cheiro, como muito quente, me venha mais desta terra do que propriamente das bancadas de especiarias que
já vi em diversos lugares. Aromas cor de terra. Vermeilhos alaranjados.
Há tantas coisas que na aldeia me fazem tanta falta e que a cidade me dá. Quando chego venho faminta: De cinema, de concertos de música clássica ao ar livre tão frequentes nos jardins de Lisboa e Sintra durante o Verão ou em salas a preços mais convidativos, bailados, museus.
Há tantas coisas que na aldeia me fazem tanta falta e que a cidade me dá. Quando chego venho faminta: De cinema, de concertos de música clássica ao ar livre tão frequentes nos jardins de Lisboa e Sintra durante o Verão ou em salas a preços mais convidativos, bailados, museus.
Sou um passarinho livre de campo, mas a cidade fascina-me e
faz-me falta e, o mar é ópio que me leva para além dos limites da imaginação.
Há dias em que na cidade não sinto que a chuva me deva
trazer o cheiro das cores quentes da terra quente e seca porque simplesmente a
acho linda e abençoa e há dias de chuva que me pesam sobre os ombros toneladas.
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