
Sento-me à espera, na soleira do meu aconchego e ali me despeço do vermelho do poente, quente.
Com os meus sonhos e com a minha solidão, despeço-me da luz que me deixa aos poucos, lentamente, como que a embalar-me e a levar-me para um sonho.
Lentamente apaga-se, interruptor dos dias, faísca das noites.
Aos poucos vais surgindo e contigo vem a brisa, fresca, orvalhada, que me refresca o corpo e sensualmente me arrepia.
Depois, noite enigmática, noite mágica, trazes-me novamente a luz, a luz difusa, prateada, com que me enamoras, noite,...
...a noite dos meus delírios.
Submeto-me à tua vontade e neste não lutar, deixo-me ficar na soleira, sentada, submetida a ti, serena.
Ofereces-me a lua, sorrio e, feiticeira, a lua sorri.
Fixo os olhos, balanço o corpo dançando, dançando ao som de uma melodia que vem de dentro de mim, e danço em rodopio, balanço.
Balanço,... balanço com o vento, suspensa.
Projectas a minha sombra no chão como se fosse num espelho.
Vejo-a, admiro-a, adoro-a como a uma deusa, a sombra fugaz, argéntia, a minha sombra,... a sombra do meu voar.
Continuo suspensa, sentada na soleira, ouvindo os sons da noite, doces, ardentes, melodias ternas de entrega, quentes, sons de paz e harmonia, sons de amor, de alegria, sons de paixão e volúpia.
Depois noite, entrego-me a ti em orgasmos de letras, e com elas me desnudo, faço retratos de sentires, me entrego em orgias de palavras que me saiem da alma, me relaxam os músculos, me fazem ir além de mim, para lá dos meus horizontes, dos meus limites.
Nessa entrega, em ti permaneço, a ti pertenço , noite, desde o crepúsculo dos meus sentidos, até o ocaso das minhas pálpebras e em ti me dou em alvoradas de palavras, repletas de sentires, afectos, raivas, paixões, desilusões, sonhos, esperança.
Em ti renasço,
aterro, levito,
resisto, cedo,
incendeio, apago
morro, ressuscito,...
simplesmente em palavras.
Noite!...
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