Acerca de mim

A minha foto
Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

domingo, 4 de julho de 2010

Em mim...

Vive em mim uma andorinha, aquela que quando dei o primeiro grito para experimentar a eficácia dos pulmões e a partir do qual fui eu inteira, poisou no parapeito da pequena janela vestida de vidro riscado do quarto que me serviu de maternidade, sem marquesa, sem médico ou enfermeira e onde de cócoras a minha mãe me lançou nas mãos da minha avó, ali bem junto ao sobrado de tábuas esfregadas com escova e sabão azul.
Era Maio. Não me lembro que tempo fazia. Presumo que seria bom tempo e que as andorinhas esvoaçassem para retocar os ninhos com o barro arrancado ao ribeiro ou ao buraco escavado na terra vermelha donde antes as gentes sacavam o barro para moldar as telhas que seriam cozidas no forno. O forno da Fontásia ainda me lembro sempre que por lá passo e vejo o buraco atafulhado de lixo e silvados.
Há uma andorinha em mim, aparentemente exuberante mas no fundo discreta como uma flor silvestre, uma violeta da beira do caminho, sequiosa de aventura e de mundo.
Há uma andorinha em mim a transportar o barro vermelho com que construa as telhas tão poeticamente belas para refazer os telhados da minha infância que uma moda de novo riquismo as extinguiu para deixar os telhados altivos, vestidos com telhas de diferentes cores que graciosamente descascam em cada inverno sempre que as geadas lhes congelam os pigmentos.
Há telhas em mim, também há telhas, daquelas de barro sepultadas num fosso de esquecimento! Daquelas de vermelho acastanhado, cobertas de história e musgo onde passarinhos poetas saltitavam para ver o céu mais perto, e a lua e com ela fazerem poemas.
Há uma andorinha em mim. Às vezes sim, outras não! Já não sei!...
Outras, há cotovia de cantar triste, tão triste que faz chorar a pedra onde fazia o vinho de amoras, ali debaixo da amoreira, na covinha bem no centro e que depois sugava aquele vermelho de lábios virgens, com uma palhinha de centeio. A cotovia do meu coração triste já não tem onde beber o sumo de amora, porque a pedra, aquela que lá está é cinzelada, lisa de painel de vidro de novos ricos.
A cotovia que havia em mim morreu de sede e de pranto!
Desisto de ter em mim o que quer que seja… mas quero tão só, estar em cada andorinha, em cada cotovia ou cuco, gaivota, rouxinol ou albatroz e agarrada às suas asas voar, voar cantando!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seguidores

Arquivo do blogue