Nasci na primavera numa hora longa
marcada pela saída dos meninos
com sacolas,
lousas e lápis de pedra,
em cantoria,
rua abaixo voando,
passarinhos,
num até amanhã à escola.
Nasci na primavera
e,
renasço em ti no outono,
num fruir dum tempo em que o tempo
já não conta,
em que o tempo não tem dono.
Acerca de mim

- Adelaide Monteiro
- Sintra/Miranda do Douro, Portugal
- Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Num olhar de deserto
Tantas horas, tantos dias
tantas caras tece o ano
tantos sonhos desvanecidos
tantos outonos perdidos
rebentos em musgo esquecidos
invernos a empurrar anos
tantas caras tece o ano
tantos sonhos desvanecidos
tantos outonos perdidos
rebentos em musgo esquecidos
invernos a empurrar anos
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Este sangre/ Este sangue
Este sangre
Este sangre que cuorre nas benas de la mie tierra ne ls
Outonhos nun se zbota. Hai burmeilhos i
amarielhos barro an carbalhos i an cereijeiras, amarielhos d´ouro an choupos,
berdes spargidos an manchas de nabales i coubales.
Miro pa las fuolhas abanadas pul aire friu que nun repente
chegou i beio-le sprito de lhuita para se assiguráren a la teta materna, regísten
i an pequeinhos mobimientos ansáian l bolo que ls há-de lhebar al chano para
apuis an cama dóndia çcansáren ne l Eimbierno, acocando ls rocos que siempre
médran adonde hai stierco de fuolhas.
Miro pal termo i ls uolhos scápan-se. Oubo ls suspiros de ls
páixaros registentes bolando altos i an bandos para stáren mais longe de la
gelada que yá abraçou la tierra dóndia, molhada i beisada por auga desiada i
cun esses marmúrios, l miu sentido scapa-se atrás, ambuolto an cheiros de doce
de temato i balancia que no pote férben.
Miro pa ls caiatos que gémen, zafiando l ásparo de las piedras, tal i qual
cumo las fuolhas, a sigurá-se a la bida andeble, registindo a mais un cair de
fuolha, mais fuortes que las fuolhas sbolaciantes; i hán-de registir a mais un
Eimbierno cun la sprença de berbonta que le há-de nacer an mais ua Primabera.
Trítan ls caiatos, tente nun caias a caminho de la missa, pedidos crentes de
salbaçon de la alma, remisson i mea culpa de ls pecados. Miro pa ls caiatos i
beio que trítan tal i qual you trito quando me deito sien un saco de auga
caliente, caiatos aquestumados a tiempos anfernosos.
Miro pal mundo que me ben d´ andrento l cumputadori beio-lo
bien mais negro, fumarento, sfamiado. Aténtio la fuorça i dou-me de counta que
ls uossos stálhan menos i cun eilhes porparo la tierra para que cun las fabas l
miu mundo seia mais farto.
Este sangre que cuorre nas benas de la mie tierra fai-me correr
mais sangre nas mies benas, mais burmeilho d´ua eimoglobina biba, de tanto
oucigénio bolar nas bochadas deste Praino.
Este sangue
Este sangue que corre nas veias da minha terra nos Outonos
não de descora. Há vermelhos e amarelos barro em carvalhos e em cerejeiras,
amarelos dourados em choupos, verdes espalhados em manchas de nabiças e couves.
Olho para as folhas agitadas pelo vento frio que num
instante chegou e vejo-lhe o espírito de luta do povo, para se segurarem ao
peito materno, resistindo. Com pequenos movimentos ensaiam o voo que as levará
ao chão para depois em cama fofa descansarem no Inverno, abrigando os cogumelos
que sempre crescem onde há o húmus das folhas.
Olho para o campo e os olhos escapam-se; ouço os suspiros dos pássaros resistentes,
voando alto e em bandos para estarem mais longe da geada que já abraçou a terra
fofa, molhada e beijada por chuva tão
desejada e com esses murmúrios a minha mente foge, envolta em aromas de compota
de tomate verde e de melancia que na panela fervem.
Olho para os cajados que murmuram, desafiando o áspero das
pedras, tal qual as folhas, a segurarem-se à vida débil, resistindo a mais uma
queda da folha, um pouco mais fortes que as folhas esvoaçantes. E, hão-de resistir a mais um Inverno, com a
esperança do rebento que lhe há-de nascer em mais uma Primavera.
Tiritam os cajados, tente não caias, a caminho da missa,
pedidos crentes de salvação da alma a caminho da missa, remissão com a mea culpa dos pecados. Olho para os
cajados e vejo que tiritam como eu tirito quando me deito sem um saco de água
quente, mesmo habituados a tempo de
inferno.
Olho para o mundo que me vem de dentro do computador e
vejo-o muito mais negro, fumarento, esfomeado. Experimento a força e constato
que os ossos estalam menos e, com eles preparo a terra para que com as favas o
meu mundo seja mais farto.
Este sangue que corre nas veias da minha terra faz-me correr
mais sangue nas minhas veias, mais vermelho de hemoglobina viva, por mais
oxigénio voar nos pulmões deste Planalto.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Escrever como quem reza
Gostava tanto de te poder escrever. Escrever-te como quem
conta um conto, lê uma paisagem no peito, reza uma ladainha na mente.
Sim, é isso mesmo! Quero escrever como quem reza uma ladaínha
daquelas que ambos ajudámos a fazer, eu
com os passos pequeninos, como se eu fosse o
reboque dos mais velhos, eles com a roda do alcance da perna grande, eu a dar o
triplo das passadas pelo curto alcance da minha perna.
Lembro-me especialmente
duma, quando as searas eram para o lado
de Fonte Nova, em direção a Genísio. Como eu poderia esquecer essa ladainha de
rezas, como rosário de penitências?! O padre à frente ia mandando a reza, o povo
respondia rezando; o padre parava à frente das searas e, metendo o espargidor
da água benta no balde de prata escurecida, fazia o gesto de a lançar aos campos para que
a seara não fosse atacada de ferrugem, a folhagem crescesse para que não
tombassem as canas umas sobre as outras e o grão não apodrecesse antes que fossem
cumpridas as semanas de gestação até estar loiro, de maduro, ou não viesse uma
trovoada e lhes esmagasse o grão antes de ser feita a ceifa.
O povo parava e
olhava a trigueira, rezando ainda com mais devoção quando virado para uma que
lhe tivesse nascido do seu suor. Eu corria o tempo todo, com os passos
curtíssimos e só descansava quando se ouvia o espalhador contra as paredes da
pia da água benta e o pessoal parava. Era tempo de merugens, daquelas mesmo verdes
antes do cuco chegar. E eu que tanto gostava de merugens! ( nem sei o
verdadeiro nome em português). Houve um chamamento mais forte que a reza do
padre. De uma trigueira, da parte de cima do caminho saía um rego de água
límpida, atravessava o caminho e, ia espalhar-se na berma baixa, formando no
chão um manto verde claro, de plantinhas tenras, umas bem encostadas às outras,
veludo de seda tecido em tear, aos meus olhos uma tentação da gula. Parei
especada. Quando me dei conta, a cantilena ia já mais adiante, a minha mãe foi
ficando e, quando viu que já não importunava a reza, gritou: Á garota!, que estarás
tu a fazer?
Dei um pulo sobre mim mesma com o susto. Uma perna cruzou-se
com a outra perna e caí estatelada no meio do charco de merugens. Encharcada, segui
a reza, com um safanão em cima do lombo que era para não ser distraída, a
tremer de frio, com o vento a bater-me no corpo, o vento frio a anunciar a
Semana Santa sobre a água das minhas vestes a repassar até à pele.
A reza contornou
outro caminho para mais searas benzer e, eu rezava, não pelas searas, não pelo
vestido que ficou manchado com os depósitos acastanhados próprios das águas paradas, mais quentes,
porque só as águas mais quentes criam aquele verde de salada; rezava e
tiritava, com receio de ficar com febre, da gorja inchada e assim não poder ir
ao bailarico do dia de Páscoa, onde toda a gente dançaria, incluída eu, dois
palmos e meio de altura, agarrada a outras tais.
Era assim que eu gostava de te escrever, nessa cadência de
palavras como que a rezar, rezas que fariam medrar o sustento de quem não tinha
outro sustento. Escrever-te sem tempo para olhar as mãos, os dedos deformados
pelo frio das artroses, sem sentir as dores das tendinites causadas pela
escrita fria num quadro de ardósia cinzenta e pela caneta Bic, a vincar com
toda a força a matriz que serviria para duplicar os pontos, para que ficassem
legíveis.
domingo, 16 de setembro de 2012
Só mesmo o vento
Só mesmo o vento me trará o que a memória teima em me
apagar.

Talvez o chiar dos pássaros aqui em cima nas árvores, o
rugido dos leões ao longe, o esmagar de folhas secas pelos pisar cauteloso dos
leopardos, ou, quem sabe a hiena que, movida pelo instinto de encontrar
cadáveres, me segue, por me julgar cansada e na esperança que eu caia, para de
mim fazer o seu deleite; talvez eles
todos me devolvam muitas das memórias.
Quem sabe bastássem
as hienas, sim as hienas, asquerosas, traiçoeiras!, com os seus dentes fortes e mandíbulas mais potentes
que as do leão bastássem para rasgar a carapaça que cobriu o meu cérebro,
cravadas bem naquele ponto que corresponde à memória, e, me farão acordar do
torpor que tudo me apaga na mente: O que
me contaste, o que tinha o dever de ter
escrito e não escrevi, tudo o que eu
tinha o dever de ter vivido e não vivi.
Levem-me lá deuses da floresta, levem-me lá, para ver se no local, a memória se me aviva!
Os deuses!...
Os deuses!...
Talvez só o vento! O vento que percorre todas as veredas,
florestas, cidades e estepes, savanas ou mesmo pântanos, talvez ele me traga
tudo, ou antes ,me leve até lá.
Prefiro que me leve. Quero prender-me aos cabelos do vento e,
bem rente às nuvens, voarei.
Prometo lá pintar uma tela onde ficarão escritas as histórias de manadas de luzes dos olhos das manadas de búfalos na noite, dos solavancos do jeep a atravessar as savanas, do barco a navegar o Púnguè ou a virar-se nos pântanos povoados de crocodilos, dos leopardos a comer o isco mesmo ao lado da tua choupana feita de ramos verdes, parecida à camisa de camuflado que vestias; para que não desse com a tua presença, do crocodilo que te mordeu e a ferida que fez gangrena, do braço que ía sendo amputado, das centenas de quilómetros por picadas com uma mão só a guiar o jeep e estrada de terra batida sem fim, numa viagem a parecer a última. Tu sempre a resistir, a resistir, sempre a resistir até ao dia em que não deixaram que resistisses…
Prometo lá pintar uma tela onde ficarão escritas as histórias de manadas de luzes dos olhos das manadas de búfalos na noite, dos solavancos do jeep a atravessar as savanas, do barco a navegar o Púnguè ou a virar-se nos pântanos povoados de crocodilos, dos leopardos a comer o isco mesmo ao lado da tua choupana feita de ramos verdes, parecida à camisa de camuflado que vestias; para que não desse com a tua presença, do crocodilo que te mordeu e a ferida que fez gangrena, do braço que ía sendo amputado, das centenas de quilómetros por picadas com uma mão só a guiar o jeep e estrada de terra batida sem fim, numa viagem a parecer a última. Tu sempre a resistir, a resistir, sempre a resistir até ao dia em que não deixaram que resistisses…
É tão difícil escrever! Sim, prefiro pintar que escrever.
Não há caneta ou teclado que seja capaz de por a cor que vejo, o cheiro que sinto
da terra molhada e dos raios a incendiar as árvores, a leveza e frescura do
amanhecer, o calor abafado do ocaso, a força da lua alaranjada a nascer e que
depois se vai fazendo puramente prateada, beijando o lago onde vaidosamente penteia os cabelos grisalhos.
Quero na capulana escrever-te, sim!, na capulana pintada de todas as cores que em ti sinto e para que um dia a já fraca
memória não me atraiçoe e negue, que me apaixonei por tudo quanto
és e me mostraste.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
Flores que beijam

Fechei a mão
para que as flores que lá semeei
não voassem tão cedo
Abri-a
e da sua conchinha saiu
o aroma de flores secas
tão forte
e tão único
como únicas são as flores
que crescem
nascem e secam
em mãos de mulher
Abri-a i semeei-a
porque na mão crescerá
uma flor
sempre que a mulher quiser
Abri a mão
em carinhos de rosas
e com elas te beijei
(An mirandés)
Flores que béisan
Cerrei la mano
para las flores que alhá sembrei
nun bolássen tan temprano
Abri-la
i de sue poçanquita saliu
l´oulor de flores secas
tan fuorte
i tan solo
cumo únicas son las flores
que médran
nácen i sécan
an manos de mulhier
i de sue poçanquita saliu
l´oulor de flores secas
tan fuorte
i tan solo
cumo únicas son las flores
que médran
nácen i sécan
an manos de mulhier
Abri-la
i sembrei-la
i sembrei-la
porque
na mano
medrará ua flor
siempre que la mulhier quejir
Abri la mano
an carinos de rosas
i cun eilhas te beisei
medrará ua flor
siempre que la mulhier quejir
Abri la mano
an carinos de rosas
i cun eilhas te beisei
domingo, 29 de julho de 2012

Viagens
Quando olho os teus olhos castanhos
vejo un azul a verdejar de mar bravo,
força de ondas a bater,
espuma a subir os rochedos,
... força que te leva
para lá de todos os limites
em viagens a um mundo sempre pequeno
para tanto olhar agitado.
Depois,
Vejo azul sereno de céu
com mãos macias,
palavras a conviver
em noites de gelo,
gestes frescos em dias quentes,
arco íris a pintar-me o cabelo,
luminoso,
lua
e Caminho de Santiago.
Mas,
naquele mar e naquele céu
crescem ourretas de freixos,
encostas de carvalhos,
florestas de de castanheiros i cerejeiras,
cores de fogo,
labaredas de folhagens d´Outono,
i desfazem gelos,
criam trigueiras espintalgadas de papoilas,
colhem maçãs e marmelos.
Depois,
os teus olhos castanhos voltam a castanhos,
fazem-me lembrar nozes e avelãs
e,
neles me deito
na serenidade do Natal.
(An Mirandés)
Biaijes
Quando miro ne ls tous uolhos castanhos
beio un azul a berdegar de mar brabo,
fuorça d´óndias a bater,
scuma a chubir pulas faias,
fuorça que te lhieba
para alhá de todos ls lhemites
an biaijes a un mundo siempre pequeinho
para tanto mirar zanquieto.
Apuis beio azul sereno de cielo
cun manos dóndias,
palabras a asseranar nas nuites de carambelo,
géstios frescos an dies calientes,
Cinta de la Raposa a pintá-me l pelo,
scalrretado,
lhuna
i Camino de Santiago.
Mas,
naquel mar i naquel cielo
médran ourrietas de freixos,
montes de trampos,
touçones de castanheiros i creijeiras,
quelores de fogo,
lhabaredas de folhaiges d´ Outonho,
i çfázen carambinas,
crían trigueiras spintarroxadas de papoulas,
cuolhen maçanas i marmelos.
Apuis,
ls tous uolhos castanhos tórnan a castanhos
i lémbran-me nuozes i abelhanas
i,
neilhes me deito na serenidade de l Natal
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Lança-me!
Lança-me às feras!
Quero ver se sou capaz de fugir
e deixar de sentir
os espasmos
que me tolhem o andar
Lança-me para o centro do tornado!
Quero que me abane por dentro
e por fora
e me leve estes nós
como quem arranca um monstro
dum ventre a rebentar
Quero ver se sou capaz de fugir
e deixar de sentir
os espasmos
que me tolhem o andar
Lança-me para o centro do tornado!
Quero que me abane por dentro
e por fora
e me leve estes nós
como quem arranca um monstro
dum ventre a rebentar
sexta-feira, 1 de junho de 2012
O programa Erasmus
http://internacional.elpais.com/internacional/2012/05/25/actualidad/1337952241_301083.html
Sociedade multicultural e gerações futuras com raízes de dois países.
Um bébé vem a caminho, meio português, meio italiano. O meu primeiro neto...
Sociedade multicultural e gerações futuras com raízes de dois países.
Um bébé vem a caminho, meio português, meio italiano. O meu primeiro neto...
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Sou cubata, sou choupana
Sou terra vermelha,
cubata que o sol fez forte
e se vires rombos na pele,
paredes derrubadas pelo tempo,
não me cuides em desnorte,
porque o vermelho é forte
e o barro seco não morre,
como vinho que se bebe,
ou em vinagre se torne
Sou barro vermelho amassado,
cozido em forno de telha,
daquela mesmo vermelha,
com o tempo escurecida
e com musgo revestida.
Sou charrua, sou arado,
por vezes trigueira tombada,
espiga dormida e não grada
Sou cubata, sou choupana
De telhados feitos de colmo
daqueles que beijam a lua,
se deixan beijar pela chuva
e têm olhos de céu.
Porta de verde e de flores
Janelas feitas d´ocasos
por onde entram os respirares
de pássaros e seus cantares.
Sou cubata, sou choupana
barro ou pedra,
pouco interessa…
(an mirandés)
Sou cubata, sou chabola
Sou tierra burmeilha,
cubata que l sol fizo fuorte
i se bires çfolhados na piel,
paredes caídas pul tiempo,
nun me cuides an znorte,
porque l burmeilho ye fuorte
i l barro cozido nun se muorre
cumo bino que se bebe
ou an binagre se quede
Sou barro burmeilho amassado,
cozido ne l forno de la teilha,
daqueila mesmo burmeilha,
cun l tiempo scurecida
i cun mofo rebestida.
Sou xarrua, sou arado,
tanta beç trigueira caída,
an beç de granada, amubida
Sou cubata, sou chabola
cun telhados feitos de cuolmo
daqueilhes que beisan la lhuna,
se déixan beisar pula chúbia
i ténen uolhos de cielo.
Puorta de berde i de flores
Jinelas de çponeres
por adonde éntran ls resfolgares
de páixaros i sous cantares
Sou cubata, sou chabola
barro ou piedra
que mais dá…
Sou cubata
Sou terra vermelha,
cubata que o sol fez forte
e se vires rombos na pele,
paredes derrubadas pelo tempo,
não me cuides em desnorte
porque o vermelho é cor forte
e o barro seco não morre
como vinho que se bebe
ou em vinagre se torne
Sou barro vermelho amassado
com as minhas próprias mãos,
cozido em forno de telha,
daquela mesmo vermelha,
com o tempo escurecida
e com musgo revestida.
Sou charrua, sou arado,
por vezes trigueira, em campo chão
Caída e de grão não grado
cubata que o sol fez forte
e se vires rombos na pele,
paredes derrubadas pelo tempo,
não me cuides em desnorte
porque o vermelho é cor forte
e o barro seco não morre
como vinho que se bebe
ou em vinagre se torne
Sou barro vermelho amassado
com as minhas próprias mãos,
cozido em forno de telha,
daquela mesmo vermelha,
com o tempo escurecida
e com musgo revestida.
Sou charrua, sou arado,
por vezes trigueira, em campo chão
Caída e de grão não grado
sábado, 19 de maio de 2012
ANTES PELO CONTRÁRIO
DANIEL OLIVEIRA: ANTES PELO CONTRÁRIO
Um rapazola a quem calhou serprimeiro-ministro
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Segundafeira, 14 de maio de 2012
"Estar desempregado não pode ser um sinal negativo. Despedir-se ouser despedido não tem de ser um estigma. Tem de representar também umaoportunidade para mudar de vida. Tem de representar uma livre escolha, umamobilidade da própria sociedade." Pedro Passos Coelho
Há pessoasque tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, ela melhorou. Mas nãose esqueceram de onde vieram e por o que passaram. Sabem o que é o sofrimento enão o querem na vida dos outros. São solidárias.Há pessoas que tiveram uma vida difícil. Por mérito próprio ou não, elamelhorou. Mas ficaram para sempre endurecidas na sua incapacidade de sofrerpelos outros. São cruéis. Hápessoas que tiveram uma vida mais fácil. Mas, na educação que receberam, nãodeixaram de conhecer a vida de quem os rodeia e nunca perderam a consciência deque seus privilégios são isso mesmo: privilégios. São bem formadas. E há pessoas que tiveram afelicidade de viver sem problemas económicos e profissionais de maior e ainfelicidade de nada aprender com as dificuldades dos outros. São rapazolas.
Nãoatribuo às infantis declarações de Passos Coelho sobre o desemprego nenhumsentido político ou ideológico. Apenas a prova de que é possível chegar aos 47anos com a experiência social de umadolescente, a cargos de responsabilidade com o currículo de jotinha, a líder partidáriocom a inteligência de uma amiba, aprimeiro-ministro com a sofisticaçãointelectual de um cliente habitual do fórum TSF e a governante semnunca chegar a perceber que não é parareceberem sermões idiotas sobre a forma como vivem que os cidadãos participamem eleições. Serei insultuoso no que escrevo? Não chego aoscalcanhares de quem fala com esta leviandade das dificuldades da vida depessoas que nunca conheceram outra coisa que não fosse o "risco".
Sobre acaracterização que Passos Coelho fez, na sua intervenção, dos portugueses, quenão merecia, pela sua indigência, um segundo do tempo de ninguém se fosse feitana mesa de um café, escreverei amanhã. Hoje fico-me pelo espanto quediariamente ainda consigo sentir: comoé que este rapaz chegou a primeiro-ministro?
In Expresso.pt de 14-05-12.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
...São vampiros
São híbridos de cabra e gente
mais cabra quando trepam arranhacéus
mais tudo
quando pastam em vales férteis
de qualquer paraíso.
São vampiros!
São também...
duma mãe, filhos...
mais cabra quando trepam arranhacéus
mais tudo
quando pastam em vales férteis
de qualquer paraíso.
São vampiros!
São também...
duma mãe, filhos...
quinta-feira, 17 de maio de 2012
Maio
Maio
Vieste
Em dias grandes e soalheiros
Tão quentes e namoradeiros
... Rebentando em viva cor
E embriagante odor
Recebeste-me
Quando os teus braços
Já eram fortes abraços
Fraldas que me embrulhavam
E capas que m´enfeitavam
Floriste
E eu contigo flori
Em berço de giestas cresci
Que as rosas amaciaram
Cum os aromas que deitaram
De rosa brava passei
A papoila toldeante
De risos contagiante
Cabelo escuro a esvoaçar
O que agora a branquear
Trouxe-me a neve Dezembro
Trouxe-me a lavrada Abril
Na minha pele sulcos mil
Mas depois é Maio a mandar
Para com flores tudo apagar
Agora sou flor tardia
Já em tempo de colheita
Duma vida toda feita
De flores, de espinhos e folhas
De decisões e de escolhas
E quando Maio pensando
Que nenhum més me daria flores
Rego-as como quem rega amores
Com a mão amaciados
Em todo o ano medrados
Enquanto me visitares, Maio!
Vieste
Em dias grandes e soalheiros
Tão quentes e namoradeiros
... Rebentando em viva cor
E embriagante odor
Recebeste-me
Quando os teus braços
Já eram fortes abraços
Fraldas que me embrulhavam
E capas que m´enfeitavam
Floriste
E eu contigo flori
Em berço de giestas cresci
Que as rosas amaciaram
Cum os aromas que deitaram
De rosa brava passei
A papoila toldeante
De risos contagiante
Cabelo escuro a esvoaçar
O que agora a branquear
Trouxe-me a neve Dezembro
Trouxe-me a lavrada Abril
Na minha pele sulcos mil
Mas depois é Maio a mandar
Para com flores tudo apagar
Agora sou flor tardia
Já em tempo de colheita
Duma vida toda feita
De flores, de espinhos e folhas
De decisões e de escolhas
E quando Maio pensando
Que nenhum més me daria flores
Rego-as como quem rega amores
Com a mão amaciados
Em todo o ano medrados
Enquanto me visitares, Maio!
quarta-feira, 2 de maio de 2012
A esperança
Experimenta o voo
quando o corpo te
pesa
para sair do beco
que t´aperta
Experimenta a
corrida
quando a noite
se estende pelo dia
para o dia fazeres
crescer
Experimenta o nado
para as ondas
vencer
e o mar obrigar a
amansar
Tantos becos
tantas noites
tantas preocupações
se passeiam
nos carreiros
destes tempos!
Agarra a luz duma estrela
faz uma cama de nuvem
apanha cores do
arco íris
a nascente a
anunciar
chuva no dia
seguinte
e assim te anuncie
mesmo que frágeis
as manhãs
Hão de espevitar as flores
para enfeitar os
andores
destes tempos
desde que todos
espevitemos!
Outro tempo se mostrará
com mesa um pouco
mais farta
de pão
de carinhos
na serenidade de
dar as mãos
Experimenta o voo
Experimenta o voo
mesmo que te pese o voar
Experimenta a esperança
ainda que te custe
acreditar
A esperança não
morreu em maio
e havemos de fazer
colorir
os seus botões
desbotados
num campo que se
quer
para todos
a verdejar
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Queria ver maio
Queria olhar para ti e ver maio,
em vez dum retrato a queimar-me as retinas,
a arrepanhar-me as entranhas.
Ó maio, maio!
Porque não me disseste
que haveria flores
que eu pensava que eram flores,
doçura extrema em seu néctar
e afinal em vez de néctar,
maio,
deste-me amargo de giestas
cujo mel me envenenou
e o enxame dizimou!?
Queria olhar para ti e ver agosto,
quente, claro,
colheita farta,
celeiro cheio,
sombras de freixos frescas
a refrescar os meus pés,
mas maio quando para mim olhas,
em vez de flores vejo imagens
de besouro mal cheiroso.
Ó Agosto,!
porque nunca me segredaste
que para além dos meus pés
toda a seara me ardia,
e que à eira não chegaria!?
Quero olhar para a frente,
em direcção ao infinito,
mas os meus passos são gritos,
ecos de um tempo de uivos
dum inverno de geada.
Maio,
porque não me trouxeste flores
que não secássem na jarra?!
Há momentos
em que d´abril eu faço maio,
de dezembro faço agosto,
para logo a seguir nem sequer ser capaz
de ouvir o rouxinol pousado
nos meus ramos,
da árvore a cobrir-me o telhado
dos meus ombros assaz gastos.
Queria olhar para ti e ver Agosto,
queria olhar para maio
sem que em abril eu ouvisse
a ave a piar desgosto.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Aleluia a qualquer hora
Quantas vezes quero criar imagens difusas
a caminhar para o esquecimento
mas a grafite
a cada passo
vinca de novo o traço
e há uma laje que se abre
ainda que não seja Páscoa.
a caminhar para o esquecimento
mas a grafite
a cada passo
vinca de novo o traço
e há uma laje que se abre
ainda que não seja Páscoa.
terça-feira, 27 de março de 2012
quarta-feira, 14 de março de 2012
Onde os sonhos te nascem
Deixa-te levar pelo balançar dos sonhos
sem que te lembres da secura das tuas hastes
e da tempestade
a que o país presta vassalagem.
Depressa o teu jardim será verde,
as tuas flores coloridas,
o teu oco preenchido,
a tua guerra vencida.
Basta que feches os olhos
e te deixes levar
até ao banco dos corais
onde todos os sonhos te nascem.
sem que te lembres da secura das tuas hastes
e da tempestade
a que o país presta vassalagem.
Depressa o teu jardim será verde,
as tuas flores coloridas,
o teu oco preenchido,
a tua guerra vencida.
Basta que feches os olhos
e te deixes levar
até ao banco dos corais
onde todos os sonhos te nascem.
quinta-feira, 8 de março de 2012
Não queiras!
Não queiras o teu dia, mulher!
O teu dia são todos, por mérito teu.
Rasga o dia do calendário!
Rasga os poemas dos melosos poetas
cuja pena amanhã está seca!
Desfolha a flor desse dia
e guarda as pétalas no peito
para assim lhe poderes sentir o perfume
nos restantes dias!
Guarda-as!
Amanhã podem estar murchas...
Esvazia na sarjeta
o perfume oferecido
pelo marido ou namorado que te maltrata!
Cospe no sorriso sacana
do patrão que te descrimina
só porque podes parir um filho.
Não queiras o teu dia, mulher!
O teu dia, são todos os dias.
Os que tens no calendário
e aquele que amarfanhaste
na mão de mulher inteira.
O teu dia são todos, por mérito teu.
Rasga o dia do calendário!
Rasga os poemas dos melosos poetas
cuja pena amanhã está seca!
Desfolha a flor desse dia
e guarda as pétalas no peito
para assim lhe poderes sentir o perfume
nos restantes dias!
Guarda-as!
Amanhã podem estar murchas...
Esvazia na sarjeta
o perfume oferecido
pelo marido ou namorado que te maltrata!
Cospe no sorriso sacana
do patrão que te descrimina
só porque podes parir um filho.
Não queiras o teu dia, mulher!
O teu dia, são todos os dias.
Os que tens no calendário
e aquele que amarfanhaste
na mão de mulher inteira.
quarta-feira, 7 de março de 2012
O verde de que foi tecido
Houve um campo de trigo
A fustigar-me o rosto
Dum tom aloirado
Em meu peito de estio
E o verde de que foi
O campo tecido
É gume de foice
Noutro dia em agosto
A fustigar-me o rosto
Dum tom aloirado
Em meu peito de estio
E o verde de que foi
O campo tecido
É gume de foice
Noutro dia em agosto
E querendo o verde
Do campo em meu peito
Rego-o a preceito
Para que não seque
Do campo em meu peito
Rego-o a preceito
Para que não seque
De tanto fustigar
Secou-lhe a garganta
Agitou-lhe as vestes
E o peito tão verde
Deixou de ser verde
Dobrou-se cansado
Daquele balançar
E levando a sede
Do campo em meu peito
Guardo-a a preceito
E comigo bebe
Do campo em meu peito
Guardo-a a preceito
E comigo bebe
Bebemos a água
Que restou do estio
Segurando as folhas
Com os braços frágeis
E o campo e o peito
São agora homenagens
À vida tão verde
E o inevitável frio
Que restou do estio
Segurando as folhas
Com os braços frágeis
E o campo e o peito
São agora homenagens
À vida tão verde
E o inevitável frio
E tendo o tapete
Do campo em meu peito
Enrolo-o a preceito
E com ele aqueço
Do campo em meu peito
Enrolo-o a preceito
E com ele aqueço
terça-feira, 6 de março de 2012
Só tu
Não te procures para além do espaço
que a tua sombra ocupa
à hora em que o sol está a pique.
Só em ti te perdes e só em ti te encontras
e, mesmo que penses
que a tua coragem te levou mais longe
muito para além do pedaço de terra
que te segura os passos
mesmo que o tua longa caminhada
te tivesse provocado cansaços
foste tu que te perdeste
sempre agarrada a ti própria.
Só tu serás capaz de te encontrar
dentro de ti mesma
e,... tão perto
tão perto...
que a tua sombra ocupa
à hora em que o sol está a pique.
Só em ti te perdes e só em ti te encontras
e, mesmo que penses
que a tua coragem te levou mais longe
muito para além do pedaço de terra
que te segura os passos
mesmo que o tua longa caminhada
te tivesse provocado cansaços
foste tu que te perdeste
sempre agarrada a ti própria.
Só tu serás capaz de te encontrar
dentro de ti mesma
e,... tão perto
tão perto...
Haverá mais mar
Há uma imensidão de mar
entre o vermelho do crepúsculo
e o alvorecer dos sonhos
quando de olhos fechados te vejo
içando velas
endireitando o leme
levando o veleiro a um cais sereno.
Há uma imensidão de crepúsculo
dizendo adeus ao meu adeus
quando o dia me morre nos dedos
e a lembrança se atiça nas silhuetas dos montes
onde me nascem poemas
onde sinto o eco das águas
da ribeira em suicídio
nas escarpas dum vale fundo
onde um rio retrata cegonhas negras
nos seus espelhos
e o rouxinol amedrontado se fica
por sentir vertigens no soletrar
duma canção por cantar.
Haverá uma maior imensidão de mar
quando o rio se lhe lançar nos braços
e o rouxinol cantar
dentro da frescura dum salgueiro
da ribeira
que para trás ficou
e se fez lago
para se lançar ao rio
na secura do estio
e nele se desfazer em espuma
entre o vermelho do crepúsculo
e o alvorecer dos sonhos
quando de olhos fechados te vejo
içando velas
endireitando o leme
levando o veleiro a um cais sereno.
Há uma imensidão de crepúsculo
dizendo adeus ao meu adeus
quando o dia me morre nos dedos
e a lembrança se atiça nas silhuetas dos montes
onde me nascem poemas
onde sinto o eco das águas
da ribeira em suicídio
nas escarpas dum vale fundo
onde um rio retrata cegonhas negras
nos seus espelhos
e o rouxinol amedrontado se fica
por sentir vertigens no soletrar
duma canção por cantar.
Haverá uma maior imensidão de mar
quando o rio se lhe lançar nos braços
e o rouxinol cantar
dentro da frescura dum salgueiro
da ribeira
que para trás ficou
e se fez lago
para se lançar ao rio
na secura do estio
e nele se desfazer em espuma
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Caminhavas
Caminhavas pelo silêncio da noite, empurrada pelo vento gelado a aligeirar-te o cansaço.
Ias sozinha, como sempre foste, como sempre irás quando o pulsar do querer se acender nas tuas veias. Carregavas na mochila a cadeira descartável para poderes abrir quando as núvens descessem e te levassem para mais perto do sol, para te sentires mais quente.
Hei-las!, disseste.
Tiraste a cadeira da mochila, e, num gesto lento, para que o vítrio braço não partisse, montaste a cadeira e sentaste-te. O gelo que te cobria o corpo estalou e os estalidos quebraram o silêncio da noite.
Dali a pouco as núvens desceram rente aos teus pés, algodão doce das feiras, e tu partiste sentada na cadeira, naquele manto de esperança, subindo, subindo.
Mais perto do sol, o teu corpo foi aquecendo e, na terra gelada e seca donde havias há instantes saído, pequenas gotas de chuva, formadas pelo choro do degelo do teu corpo foram caindo, primeiro espaçadas, depois chovendo copiosamente.
Chegou-te o odor a terra molhada, como se fosse verão, daqueles verões escaldantes que só as trovoadas refrescam.
Sim, tu sabias que era inverno. Ainda tinhas no corpo manchas roxas provocadas pelo gelo e, na ponta dos dedos a dor de teres aquecido bruscamente. Sabias que era inverno, naquele seco estio precoce sem prenúncio de primavera.
As núvens deslaçaram, agora já são rarefeitas. Tu continuavas sentada na cadeira, a olhar o sol, sol que já descia à terra e lhe levantava folhos de neblina ténue, sinal de que a secura já tinha sido engolida pela chuva.
Olhaste para baixo e viste que a primavera te acenava com as folhagens verdes e pequenos botões de flores, prontos a abrir.
Pediste às núvens que te descessem. Dobraste a cadeira, meteste-a na mochila e caminhaste em direcção à vida que lentamente começava a florir nos campos verdes.
Eu, na escuridão do quarto, aconcheguei o lençol de flanela ao rosto, dei meia volta e desliguei-me da tua caminhada.
Quando o tecido da cortina se bordou de luz, espraiei o olhar pelos campos taciturnos, cinzentos, cobertos de geada, secos.
Ali em frente, pastavam ovelhas, a sangrar na ponta dos focinhos por tentarem colher a erva verde, escondida por baixo dos silvedos.
Ias sozinha, como sempre foste, como sempre irás quando o pulsar do querer se acender nas tuas veias. Carregavas na mochila a cadeira descartável para poderes abrir quando as núvens descessem e te levassem para mais perto do sol, para te sentires mais quente.
Hei-las!, disseste.
Tiraste a cadeira da mochila, e, num gesto lento, para que o vítrio braço não partisse, montaste a cadeira e sentaste-te. O gelo que te cobria o corpo estalou e os estalidos quebraram o silêncio da noite.
Dali a pouco as núvens desceram rente aos teus pés, algodão doce das feiras, e tu partiste sentada na cadeira, naquele manto de esperança, subindo, subindo.
Mais perto do sol, o teu corpo foi aquecendo e, na terra gelada e seca donde havias há instantes saído, pequenas gotas de chuva, formadas pelo choro do degelo do teu corpo foram caindo, primeiro espaçadas, depois chovendo copiosamente.
Chegou-te o odor a terra molhada, como se fosse verão, daqueles verões escaldantes que só as trovoadas refrescam.
Sim, tu sabias que era inverno. Ainda tinhas no corpo manchas roxas provocadas pelo gelo e, na ponta dos dedos a dor de teres aquecido bruscamente. Sabias que era inverno, naquele seco estio precoce sem prenúncio de primavera.
As núvens deslaçaram, agora já são rarefeitas. Tu continuavas sentada na cadeira, a olhar o sol, sol que já descia à terra e lhe levantava folhos de neblina ténue, sinal de que a secura já tinha sido engolida pela chuva.
Olhaste para baixo e viste que a primavera te acenava com as folhagens verdes e pequenos botões de flores, prontos a abrir.
Pediste às núvens que te descessem. Dobraste a cadeira, meteste-a na mochila e caminhaste em direcção à vida que lentamente começava a florir nos campos verdes.
Eu, na escuridão do quarto, aconcheguei o lençol de flanela ao rosto, dei meia volta e desliguei-me da tua caminhada.
Quando o tecido da cortina se bordou de luz, espraiei o olhar pelos campos taciturnos, cinzentos, cobertos de geada, secos.
Ali em frente, pastavam ovelhas, a sangrar na ponta dos focinhos por tentarem colher a erva verde, escondida por baixo dos silvedos.
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Foto de Alcides Meirinhos
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Rasgos
Quero rasgar as vestes que me tapam
Para me despir e vestir de novo.
Quero arrancar as linhas e os pespontos
Para que as vestes aos pés me caiam
Para que despida eu consiga ser
Queimem-se as vestes
Já que rasgá-las não ouso
Para das cinzas fazer a voz que calo
E lançá-la ao vento em estridentes gritos
Rasgos da alma em todo o meu querer
Tantas vezes quero e o querer se me tolhe
Tento rasgar e o pano não cede
Tento descoser e as mãos me tremem
Tantas vezes sou o que afinal não quero
Tantas vezes quero o que não ouso ser
Para me despir e vestir de novo.
Quero arrancar as linhas e os pespontos
Para que as vestes aos pés me caiam
Para que despida eu consiga ser
Queimem-se as vestes
Já que rasgá-las não ouso
Para das cinzas fazer a voz que calo
E lançá-la ao vento em estridentes gritos
Rasgos da alma em todo o meu querer
Tantas vezes quero e o querer se me tolhe
Tento rasgar e o pano não cede
Tento descoser e as mãos me tremem
Tantas vezes sou o que afinal não quero
Tantas vezes quero o que não ouso ser
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Quisera eu ter sapatos!
Quisera eu ter sapatos
para que a alma me não doesse!
Caminho pelos mesmos trilhos
dias seguidos, sem tirar nem pôr...
Porque será que há dias
que os pés se enchem de feridas
e noutros
nem um pequeno rubor!?
Quisera ao menos ter sabrinas
já que sapatos não tenho!
Caminho pelos mesmos trilhos
ou em carreiros que invento...
Porque será que há dias
que os meus pés são lamentos
e noutros...
frescura de flor!?
Como os meus pés anda a alma
o coração e eu toda...
Em cima de calhaus pisando
e quando os pés estão sangrando
não há nada que não doa.
para que a alma me não doesse!
Caminho pelos mesmos trilhos
dias seguidos, sem tirar nem pôr...
Porque será que há dias
que os pés se enchem de feridas
e noutros
nem um pequeno rubor!?
Quisera ao menos ter sabrinas
já que sapatos não tenho!
Caminho pelos mesmos trilhos
ou em carreiros que invento...
Porque será que há dias
que os meus pés são lamentos
e noutros...
frescura de flor!?
Como os meus pés anda a alma
o coração e eu toda...
Em cima de calhaus pisando
e quando os pés estão sangrando
não há nada que não doa.
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Semeado de papoilas
Rebentam-te primaveras
quando te lanço borboletas
a voar sobre o teu corpo
e o semeio de papoilas
com as sementes do poema
a saltarem dos meus dedos
quando te lanço borboletas
a voar sobre o teu corpo
e o semeio de papoilas
com as sementes do poema
a saltarem dos meus dedos
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No rio dos lírios
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
A fonte dos desejos
Lança-se a moeda na fonte
bem no fundo dos anseios.
Estão tantas moedas na fonte,
... tantos anseios a monte,
da gente que pede á fonte
remédio para seus receios.
Pudesse a fonte florir
no frio do vil metal!…
Escureceram as suas águas
com os metais corroídos
e agora se um justo desce
para de costas lançar
a moeda com o desejo
a fonte torce o nariz
faz trejeitos, como quem diz,
não me quero mais turvar…
E o justo mesmo assim
fazendo-se desentendido
do sentir da fonte santa,
de costas lança-lhe a moeda
para ver se com sorte pega
o vil que tanto lhe falta…
E logo o usurário
mesmo com sapatos calçados,
molhando os braços e o peito,
retira da água a eito
moedas de todas as cores,
leva dos desejos, os suores
que tanto cavaram o pão
e com o metal oxidado
sem sentir nenhuma mágoa,
cresce a pança ao comilão.
E a fonte de roubos farta,
disse para si, raios ma parta,
se não engolir toda a água!
bem no fundo dos anseios.
Estão tantas moedas na fonte,
... tantos anseios a monte,
da gente que pede á fonte
remédio para seus receios.
Pudesse a fonte florir
no frio do vil metal!…
Escureceram as suas águas
com os metais corroídos
e agora se um justo desce
para de costas lançar
a moeda com o desejo
a fonte torce o nariz
faz trejeitos, como quem diz,
não me quero mais turvar…
E o justo mesmo assim
fazendo-se desentendido
do sentir da fonte santa,
de costas lança-lhe a moeda
para ver se com sorte pega
o vil que tanto lhe falta…
E logo o usurário
mesmo com sapatos calçados,
molhando os braços e o peito,
retira da água a eito
moedas de todas as cores,
leva dos desejos, os suores
que tanto cavaram o pão
e com o metal oxidado
sem sentir nenhuma mágoa,
cresce a pança ao comilão.
E a fonte de roubos farta,
disse para si, raios ma parta,
se não engolir toda a água!
domingo, 29 de janeiro de 2012
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Um sorriso emprestado
O meu peito foi salina
disse-me eu um dia,
porque nesse dia
uma lágrima recolheu
e em vez da lágrima nasceu
um sorriso
emprestado a um olhar triste
disse-me eu um dia,
porque nesse dia
uma lágrima recolheu
e em vez da lágrima nasceu
um sorriso
emprestado a um olhar triste
Danças no teu verde olhar
Caminhei pela manhã com o sol a beijar-me o rosto,
a brisa a acariciar,
o azul do céu a fundir-se no mar,
inspirando o meu dia.
Olhei-te de frente mal cheguei,
bem nos olhos
como só se olha a quem se ama de verdade.
Ah! esta saudade!
Olhei a tua planície de centeio agitada pelo vento
e muito mais perto,
as tuas ondas caminhavam
e nelas me chegava a aventura de viagens.
Ao olhar-te sinto-me partir
e, enleada,
deixo-me embalar
pelo teu balançar.
Enebriada pela tua cor, alheada do mundo,
como se o mundo fosse feito
das tuas notas musicais
imagino-me noutro mundo,
um mundo sem fome,
sem injustiças, sem guerras.
Quando em ti me deito,
acabaram meus ais,
acabaram as sedes de ser livre
porque,
quando te olho,
eu sou,
livre dum mundo que me ameaça,
livre dum tempo que me amordaça,
livre dos temores que às vezes sobre mim se abatem.
Quando o meu olhar se espraia
sobre os campos de centeio da minha infância
que em ti invento,...
eu volto a ser menina,
com chitas vestida
e danço no verde do teu olhar,
mar
...e todas as dores se esbatem!
a brisa a acariciar,
o azul do céu a fundir-se no mar,
inspirando o meu dia.
Olhei-te de frente mal cheguei,
bem nos olhos
como só se olha a quem se ama de verdade.
Ah! esta saudade!
Olhei a tua planície de centeio agitada pelo vento
e muito mais perto,
as tuas ondas caminhavam
e nelas me chegava a aventura de viagens.
Ao olhar-te sinto-me partir
e, enleada,
deixo-me embalar
pelo teu balançar.
Enebriada pela tua cor, alheada do mundo,
como se o mundo fosse feito
das tuas notas musicais
imagino-me noutro mundo,
um mundo sem fome,
sem injustiças, sem guerras.
Quando em ti me deito,
acabaram meus ais,
acabaram as sedes de ser livre
porque,
quando te olho,
eu sou,
livre dum mundo que me ameaça,
livre dum tempo que me amordaça,
livre dos temores que às vezes sobre mim se abatem.
Quando o meu olhar se espraia
sobre os campos de centeio da minha infância
que em ti invento,...
eu volto a ser menina,
com chitas vestida
e danço no verde do teu olhar,
mar
...e todas as dores se esbatem!
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Menos doridos...
Caminho em terra batida depois de ter cortado as raízes de plantas raivosas para que o caminho se tornasse macio para os meus pés doridos. Arranquei a grama, fertilizei os solos, cavei fundo e tentei enterrar os restos duma seara que não semeei.
De quando em vez, surjem rebentos dum tempo que quiz matar. Como se poderá matar um tempo sem que se lhe ponha uma lage de mármore em cima ou se enfie num jazigo?! Detesto pedras por cima do tempo que quero matar; detesto jazigos a enclausurar o tempo!
Assim, lancei o tempo num ermo, ostracizado, trocado pelos toques de pele de outro tempo a fornecer-me sonhos. Ando a plantá-los na terra que fertilizei. Estão a crescer verdes e tenros os sonhos, mas ainda assim, há sonhos que me ficam a olhar para trás, em direcção ao ermo...
Caminho em terra batida, serenamente, passo certo, pés firmes sobre o chão limpo e,... os pés estão menos doridos...
De quando em vez, surjem rebentos dum tempo que quiz matar. Como se poderá matar um tempo sem que se lhe ponha uma lage de mármore em cima ou se enfie num jazigo?! Detesto pedras por cima do tempo que quero matar; detesto jazigos a enclausurar o tempo!
Assim, lancei o tempo num ermo, ostracizado, trocado pelos toques de pele de outro tempo a fornecer-me sonhos. Ando a plantá-los na terra que fertilizei. Estão a crescer verdes e tenros os sonhos, mas ainda assim, há sonhos que me ficam a olhar para trás, em direcção ao ermo...
Caminho em terra batida, serenamente, passo certo, pés firmes sobre o chão limpo e,... os pés estão menos doridos...
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No rio dos lírios
domingo, 15 de janeiro de 2012
Outono
Descubro o encanto do outono
nas folhas que vão caindo
onde me deito sorrindo
bem abraçada aos rebentos
do ressurgir de sentimentos
de poema ao abandono.
Perdi-te um tempo,
outono
e em inverno me senti,
precocemente gelado.
Perdeste-te de mim
nem sei como,
em mutismos disfaçado,
à distância dum lamento.
Hás-de ainda devolver-me,
eu sinto-o,
uma primavera tardia
em plenitude florida.
Saltando o inverno, virá
e do gelo me poupará
em amor fortalecida.
Abraço-me a ti outono,
fito os teus olhos dourados
e enlaçando os meus braços
aos teus braços apertados,
agarro-me às folhas
salpicadas de anseios
e os nossos braços são laços
e as folhas são nossos beijos
Que importa que os nossos ramos
fiquem em breve despidos
se das folhas do meu regaço
fizeres sempre o nosso ninho
e eu tiver o meu corpo
encostado ao teu corpo amigo!?
Outono, ouve só isto!!!
Eu não temo os invernos
se com tuas folhas vermelhas
tu me tiveres aquecido.
nas folhas que vão caindo
onde me deito sorrindo
bem abraçada aos rebentos
do ressurgir de sentimentos
de poema ao abandono.
Perdi-te um tempo,
outono
e em inverno me senti,
precocemente gelado.
Perdeste-te de mim
nem sei como,
em mutismos disfaçado,
à distância dum lamento.
Hás-de ainda devolver-me,
eu sinto-o,
uma primavera tardia
em plenitude florida.
Saltando o inverno, virá
e do gelo me poupará
em amor fortalecida.
Abraço-me a ti outono,
fito os teus olhos dourados
e enlaçando os meus braços
aos teus braços apertados,
agarro-me às folhas
salpicadas de anseios
e os nossos braços são laços
e as folhas são nossos beijos
Que importa que os nossos ramos
fiquem em breve despidos
se das folhas do meu regaço
fizeres sempre o nosso ninho
e eu tiver o meu corpo
encostado ao teu corpo amigo!?
Outono, ouve só isto!!!
Eu não temo os invernos
se com tuas folhas vermelhas
tu me tiveres aquecido.
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Foto de Boieiro
sábado, 14 de janeiro de 2012
O sol é manta a cobrir
Há-de vir o sol
para derreter o gelo depositado
sobre as plantas cansadas,
sobre as ervas débeis,
sobre os corações esfacelados.
O sol é amor a aconchegar
e o sol não pede a manta de volta.
Preciso de sol!
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Foto de Carlos Ferreira
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Dias voláteis
Em voláteis
eu decanto as penas...
Penas para que serão,
em escassos dias, apenas!?...
É tão curto o Outono!
Os invernos
a todos gelarão!
eu decanto as penas...
Penas para que serão,
em escassos dias, apenas!?...
É tão curto o Outono!
Os invernos
a todos gelarão!
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No rio dos lírios
Não batas!
Se passares à minha porta,
não batas!
Podes acordar a calma que em mim mora!...
não batas!
Podes acordar a calma que em mim mora!...
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No rio dos lírios
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Destroços
Que importa o casulo
se o pirilampo não brilhar!?
Há um eyeliner na pálpebra
para esconder a tristeza do olhar;
há um sorriso forçado
para esconder os destroços da alma
e o coração a afundar.
se o pirilampo não brilhar!?
Há um eyeliner na pálpebra
para esconder a tristeza do olhar;
há um sorriso forçado
para esconder os destroços da alma
e o coração a afundar.
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No rio dos lírios
Será que o vento...
Será que o vento que sopra
será como os meus pensares!?
Umas vezes, leves, serenos;
outras, de sieiro i gretas,
outras, serranos a gelar.
Será que o vento que sopra
será vento para ficar!?
Que fique leve e com frescura,
com ardores e sem rachar.
Será que o vento que sopra,
será brisa, a disfarçar!?
será como os meus pensares!?
Umas vezes, leves, serenos;
outras, de sieiro i gretas,
outras, serranos a gelar.
Será que o vento que sopra
será vento para ficar!?
Que fique leve e com frescura,
com ardores e sem rachar.
Será que o vento que sopra,
será brisa, a disfarçar!?
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Janeiro aquece dezembro
Canta suave a represa,
canção a enlevar-me os pensares,
nesta manhã de janeiro
dum ribeiro prazenteiro.
Gelou-me dezembro,
o corpo, a alma e a mente!
Ao aquecer,
vai janeiro derretendo
a geada e o granizo
e aos poucos descubro janeiro,
como se só agora janeiro,
eu tivesse conhecido.
Passa-me o sol pela pele
desnuda-me com o olhar
doce, sabendo a mel,
em olhos, favos dourados
nunca antes encontrados
nos raios desse mirar.
canção a enlevar-me os pensares,
nesta manhã de janeiro
dum ribeiro prazenteiro.
Gelou-me dezembro,
o corpo, a alma e a mente!
Ao aquecer,
vai janeiro derretendo
a geada e o granizo
e aos poucos descubro janeiro,
como se só agora janeiro,
eu tivesse conhecido.
Passa-me o sol pela pele
desnuda-me com o olhar
doce, sabendo a mel,
em olhos, favos dourados
nunca antes encontrados
nos raios desse mirar.
domingo, 8 de janeiro de 2012
Talvez um dia
Porquê?
Porquê que
armando-te em heroína de batalhas
escondes a dor que te vai nos refluxos
da tua raiva?
Mais valia que te enfrascasses
que te enraivecesses e regurgitasses
aquilo de que te sentes incapaz de digerir...
Ah!
Talvez um dia
quem sabe,
tu venhas a conseguir...
Por um desejo,
por um sonho não vivido,
por um beijo,
por um orgulho engolido,
por um amor encoberto e
incolor, ao teu lado disfarçado,
descoberto,
por um destino que nem sabes
se é candura ou pecado.
Porquê que
armando-te em heroína de batalhas
escondes a dor que te vai nos refluxos
da tua raiva?
Mais valia que te enfrascasses
que te enraivecesses e regurgitasses
aquilo de que te sentes incapaz de digerir...
Ah!
Talvez um dia
quem sabe,
tu venhas a conseguir...
Por um desejo,
por um sonho não vivido,
por um beijo,
por um orgulho engolido,
por um amor encoberto e
incolor, ao teu lado disfarçado,
descoberto,
por um destino que nem sabes
se é candura ou pecado.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Deixa sem pressas
Deixa sem pressas
que o perdão desça à chaga aberta,
que o granizo descongele
e se deposite em aluvião na horta,
para que frescos cresçam
e lentamente floresçam os sonhos,
ainda que o tempo te meta pressa,
veloz a escapar-te das mãos.
O perdão!...
O perdão dissipa a dor,
ainda que a dor seja atroz,
atenua imagens,
ainda que as imagens não se esqueçam,
mas antes esmoreçam.
Vive o hoje sem pensares no ontem,
mesmo que o ontem tenha sido elevado,
pois que comparado,
o hoje pode parecer baixo,
e o amanhã, quem sabe!?
Espera que as lágrimas decantem a poeira,
para delas extrair apenas o sal,
branco, puro,
com que vais temperar
o alimento para os beijos,
os abraços,
o enlevo com que irás olhar o cravo
e sentir o seu perfume
nas noites, nos dias,
na covinha do sorriso.
Depois, há-de reavivar a chama,
hão-de incendiar-se os recantos do corpo,
hão-de elevar-se os picos dos montes
a fundirem-se nas lavas do desejo,
a fazer transbordar o rio que em ti corre,
entre margens vulcânicas, apertado.
que o perdão desça à chaga aberta,
que o granizo descongele
e se deposite em aluvião na horta,
para que frescos cresçam
e lentamente floresçam os sonhos,
ainda que o tempo te meta pressa,
veloz a escapar-te das mãos.
O perdão!...
O perdão dissipa a dor,
ainda que a dor seja atroz,
atenua imagens,
ainda que as imagens não se esqueçam,
mas antes esmoreçam.
Vive o hoje sem pensares no ontem,
mesmo que o ontem tenha sido elevado,
pois que comparado,
o hoje pode parecer baixo,
e o amanhã, quem sabe!?
Espera que as lágrimas decantem a poeira,
para delas extrair apenas o sal,
branco, puro,
com que vais temperar
o alimento para os beijos,
os abraços,
o enlevo com que irás olhar o cravo
e sentir o seu perfume
nas noites, nos dias,
na covinha do sorriso.
Depois, há-de reavivar a chama,
hão-de incendiar-se os recantos do corpo,
hão-de elevar-se os picos dos montes
a fundirem-se nas lavas do desejo,
a fazer transbordar o rio que em ti corre,
entre margens vulcânicas, apertado.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Sangrar por dentro
Beijei a rosa,
toquei os espinhos,
sequei os lábios
para não sangrar.
Sangrei por dentro,
sem flor, sem espinhos,
escorri mais sangue,
sem me picar
toquei os espinhos,
sequei os lábios
para não sangrar.
Sangrei por dentro,
sem flor, sem espinhos,
escorri mais sangue,
sem me picar
Antes num charco
O peixinho não navega no mar a qualquer preço e em quaquer situação. Se o mar for indolente ou demasiado agitado e lhe descamar a pele, o peixe sairá dos rebentamentos e, antes perder-se no areal, dentro dos pequenos charcos formados pelas marés vivas, do que viver despido, à mercê de esmolas, dentro dum mar ingrato.
Etiquetas:
No rio dos lírios
domingo, 1 de janeiro de 2012
Os meus ais
Já não há ais!
O peito secou
pensando-se envolvido em pesadelo
e o real
parece que deixou de o ser,
num corpo em forma de mulher,
os choros em forma de expiação,
as abstrações
em formas de poupar o coração
.
Já não há ais digo
mas ao dizê-lo quanto minto,
ao senti-lo quanto sinto
em ais que já nem balbucio,
vazios que não posso suportar.
Será que não me sei dar!
Já não tenho ais para fora do meu peito,
mas antes rebentamentos dentro de mim
que me fazem esfacelar a carne,
uma força visceral a implodir-me
como me têm feito explodir o que sinto
dito em palavras verdadeiras.
Os meus ais engoli-os
como quem engole fel
em deglutição instantânea
para na garganta não sentir a queimadura
e na boca o amargo.
Já não tenho ais!
Os ais entraram, reviraram as vísceras,
esfacelaramm o coração
e inundaram a alma.
Se ao menos
alguém pudesse ouvir os meus ais,
expressados em espasmos,
em náuseas,
em movimentos viscerais
em debelidade muscular.
Só eu!
Só eu posso ouvir os meus ais!
Mas, hei-de secá-los
nem que para isso me arraste,
me canse e me gaste
de tanto os secar
para, sem narcisismos
me continuar a amar.
O peito secou
pensando-se envolvido em pesadelo
e o real
parece que deixou de o ser,
num corpo em forma de mulher,
os choros em forma de expiação,
as abstrações
em formas de poupar o coração
.
Já não há ais digo
mas ao dizê-lo quanto minto,
ao senti-lo quanto sinto
em ais que já nem balbucio,
vazios que não posso suportar.
Será que não me sei dar!
Já não tenho ais para fora do meu peito,
mas antes rebentamentos dentro de mim
que me fazem esfacelar a carne,
uma força visceral a implodir-me
como me têm feito explodir o que sinto
dito em palavras verdadeiras.
Os meus ais engoli-os
como quem engole fel
em deglutição instantânea
para na garganta não sentir a queimadura
e na boca o amargo.
Já não tenho ais!
Os ais entraram, reviraram as vísceras,
esfacelaramm o coração
e inundaram a alma.
Se ao menos
alguém pudesse ouvir os meus ais,
expressados em espasmos,
em náuseas,
em movimentos viscerais
em debelidade muscular.
Só eu!
Só eu posso ouvir os meus ais!
Mas, hei-de secá-los
nem que para isso me arraste,
me canse e me gaste
de tanto os secar
para, sem narcisismos
me continuar a amar.
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