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Sintra/Miranda do Douro, Portugal
Gosto de pintar,de escrever e de fazer trabalhos manuais.Sou simples e verdadeira. Tenho que pôr paixão naquilo que faço, caso contrário fico com tédio. Ensinar, foi para mim uma paixão; escrever e pintar, continua a sê-lo. Sou sensível e sofro com as injustiças do Mundo. A minha primeira língua foi o Mirandês. Escrevo nessa língua no blog da minha aldeia Especiosa em, http://especiosameuamor.blogspot.com em Cachoneira de Letras de la Speciosa e no Froles mirandesas.

domingo, 22 de março de 2009

Aquela Praia

…era-lhe tão familiar como lhe eram os filhos que cresceram a brincar naquela praia e a saltar as ondas de um verde transparente. Do mesmo verde eram os montes que com ela formavam uma paisagem de sonho.
Passavam férias por essas bandas e, apesar de haver praias mais próximas, era esta a praia preferida.
O monte foi esventrado e nele embutiram um prédio em socalcos, tal pedra tosca embutida em esmeraldas transparentes. As escarpas imponentes davam uma sensação intimista àquela praia; o acesso era feito por escadas ondulantes, monte abaixo, degraus baixinhos.
Despida de preconceitos tirou a blusa, dobrou-a e com ela forrou a escarpa que lhe serviu de encosto, tendo ficado sentada em harmonia com a natureza.Olhou à volta e foi-lhe difícil reconhecer aquela praia que ela considerava ser de sonho.
As escarpas foram tiradas à praia como um filho é arrancado dos braços da sua mãe. Máquinas gigantes escavaram e destruíram o que de belo havia na praia de Vale de Centeanes. Também difícil foi descer a escadaria, decerto construída por mãos toscas e projectada por mentes insensíveis. Ponderou voltar atrás e retomar mais longe o acesso normal. Voltar atrás não é sinal de fraqueza. Deu conta quando ao fundo, sentiu que as pernas lhe tremiam.
Sentada, desligou a música, tirou os fones, desligou o telemóvel, ficou pronta para ouvir os sons magníficos da natureza e fazer a primeira sessão de bronzeado, de certa forma imprudente pelo esquecimento do protector solar.
Fechou os olhos e em estado como que de ausência hipnótica ali ficou virada para o sol.
Fortes ondas vinham rebentar com força junto ao areal e por vezes contra as rochas. Estes sons induziram o estado de quase inconsciência. Era como se fosse uma morte prematura daquele corpo que ficou desligado do mundo e do espírito.
A mente tentava construir um puzzle.
No fundo, com laivos de azul cobalto de mar, as peças encaixaram rapidamente e na perfeição. Já as restantes, monocromáticas, inviabilizaram a construção perfeita. Sobravam umas peças, faltavam outras. As arestas não encaixavam, tais fragmentos de vidas que não combinam e qualquer peça que não encaixe, provoca um oco, um vazio, capaz de conduzir a uma tempestade. Pensou cortá-las, como se de uma árvore se tratasse. A árvore rejubila de frescura, as peças não; a árvore cicatriza a ferida, as peças não. As arestas aguçadas vão-se agredindo mas quando amputadas morrem, morrendo com elas o verdadeiro sentido da sua existência, do seu ser.
Sentiu ardor nos seios pelo efeito do sol.
A mente juntou-se ao corpo, saindo do coma induzido pelos sons do mar.
Abriu os olhos, olhou em frente.
O puzzle estava completo de um azul celeste intenso e brilhante com o sol a aproximar-se da linha do horizonte.

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